Mar agitado

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POV: NANDA ♠

Deixei a bolsa cair na areia quente e observei o mar agitado sentindo o sol a pino queimar minha pele e agradecendo imensamente pela sensação de relaxamento que isso me causava. Eu sentia falta do sol, gostava do céu estrelado e gostava de dias azuis.

— Ai meu Deus, quantos graus estão fazendo hoje? — Talita tirou os óculos escuros e parou do meu lado, tirando uma canga da bolsa de praia e estendendo-a sobre a areia. Varreu o mar com os olhos até encontrar Bernardo sentado sobre uma prancha de surf e tirou a saída de praia exibindo suas curvas douradas e perfeitas para as simples mortais como eu. — Passem protetor. — Disse sentando-se na canga e pegando um frasco de protetor fator 30. — O objetivo é se bronzear saudavelmente e não parecer uma cobra trocando de pele.

Revirei os olhos e sorri enquanto buscava minha própria canga na bolsa e tirava o boné da cabeça.

— Ok, não me escutem! — Resmungou deitando-se de frente pro sol. — Mas não me culpe quando agora Nanda, que finalmente está saindo com a sua cara metade, não puder dar uns bons amassos para tirar o atraso de anos de desejo comprimido.

Senti o rosto queimar enquanto observava de soslaio a Amanda, que até então lutava por empapar-se de protetor em cada célula do corpo. Seus olhos não encontraram os meus e suas mãos continuaram ocupadas em não manchar seu biquine de cintura alta estilo anos 20. Mas não pude evitar sentir uma pontada dolorida de culpa por minhas amigas. Eu estava mentindo para a Talita sobre o meu suposto romance com Levi e estava impedindo Amanda de seguir adiante.

Sentei-me na canga e apoiei os braços nos joelhos enquanto observava com assombro uma onda gigante que se formava alguns metros a nossa frente. Levi parecia flutuar sobre a prancha por cima dela. Era incrível pensar que talvez ele não estivesse feito para estar enraizado na terra, mas sim para ser livre no mar. Ele sempre estava em paz quando estava sozinho em seu mundo. Sua calmaria me tranqüilizava também.

Quarenta minutos haviam se passado desde que havíamos chegado para tostar para nossa preparação pré carnaval. Talita havia exigido que saíssemos de havaianas juntas e tínhamos apenas um pouco mais de um mês para adquirir o "tom adequado" do qual ela não deixava de tagarelar.

Amanda e eu sabíamos que era uma loucura. Nem em mil anos chegaríamos aos padrões de Talita e seríamos as havaianas mais desprovidas de melanina da história, mas era divertido esse ritual e a forma como ela levava isso a sério, então seguíamos o fluxo e garantíamos um tempo entre amigas fora dos trabalhos de meio período e das obrigações na faculdade.

As havia conhecido na primeira semana de aula, há dois anos quando consegui entrar quase que por um milagre na UniBarra. É uma faculdade muito concorrida e para conseguir essa nota ridícula que apenas havia me garantido um dos últimos lugares no curso de jornalismo, eu havia feito curso preparatório durante um longo e tedioso ano. Agora lutava a duras penas para não ser expulsa pelas minhas notas cada vez mais medíocres.

— Vou na água. — Amanda passou por mim parecendo um pouco distante enquanto se afastava lentamente pela areia. Pensei em segui-la, mas com que propósito? Eu já não sabia o que a estava chateando? O que diria para mudar isso?

Roí as unhas, estirei as pernas, deixei a areia cair entre os dedos e tomei um sorvete de coco. Sentia-me agitada e sabia a que se devia. Mamãe havia acordado com um tremendo remorso pela noite anterior. Havia pedido desculpas a Lipe como se ele entendesse a que se devia seu comportamento estranho com apenas cinco anos de idade e havia ficado me rodeando perguntando se eu queria isso ou aquilo para apaziguar a culpa que a corroia por dentro.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora