Café da manhã

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POV: NANDA 

Olhei de um lado a outro do estacionamento enquanto mamãe parava o carro na porta do hospital e abria a porta para que eu pudesse entrar. Permaneci por mais alguns segundos observando a imensidão do estacionamento quase vazio. Eu sabia exatamente o que esperava, mas sabia também que era improvável que acontecesse. De qualquer forma, não pude deixar morrer aquela chama quase derrotada de esperança que insistia em permanecer dentro de mim. Aquecendo-me o peito e me reconfortando. Essa chama dizia que ele só precisava de um tempo, que logo me entenderia e que teríamos uma nova chance.

Entrei no carro e fechei a porta, sentindo o olhar atento da mamãe sobre mim.

— Querida você está bem?

Fitei-a sorrindo e assenti enquanto ela tentava decifrar minha expressão.

Apoiei a cabeça na janela do carro e observei a cidade lá fora. Talvez eu não tivesse feito a coisa certa, mas Levi havia ganhado não havia? E agora que as coisas tinham sido esclarecidas ele tinha todo o direito de não querer falar comigo, mas ainda assim me senti aliviada.

Guardar um segredo da pessoa que se ama pode ser duro.

E eu estava livre disso.


Desci do carro e me despedi da mamãe, que havia faltado o trabalho por minha culpa e havia saído correndo para buscar Lipe na casa da vovó, onde o havia deixado logo depois de me deixar no hospital.

Observei o carro afastar-se enquanto deixava que o sol queimasse meu rosto. O céu exibia um azul limpo, claro. Talita havia se encarregado de avisar na loja sobre o meu pequeno acidente com o Milk shake de amendoim e eu deveria passar o dia de repouso.

Bufei desejando poder fazer alguma coisa. Precisava me entreter e não conseguia pensar em nada que não me parecesse extremamente entediante.

Coloquei as mãos no bolso do jeans e suspirei dando meia volta, em direção a entrada do prédio, resignada e disposta a me entupir de pipoca vendo alguma série estranha na Netflix.

Observei os números luminosos no elevador enquanto descendiam lentamente. Oito, sete, seis...

Dancei mudando o peso das pernas de um lado a outro inquieta enquanto desejava que ele chegasse logo. Eu não tinha nada importante para fazer, mas de certa forma quis estar em casa. Sentia um vazio que não conseguia explicar e queria estar em um lugar onde pudesse não saber nada sem ter que inventar uma desculpa.

Então a porta finalmente se abriu.

E não pude dar um passo sequer adiante.

Seu cabelo meio desarrumado, apontando para qualquer lado e seus olhos pequenos de sono indicavam que ele tinha acabado de despertar. Seu rosto estava corado, e me perguntei se ele já havia tomado café, que era basicamente a única coisa que fazia com que Levi começasse a reagir pela manhã.

Fitou-me um pouco surpreso, como se tivesse esquecido que vivíamos no mesmo edifício desde sempre.

Engoli em seco, sentindo que meu rosto queimava enquanto esse vazio tão inexplicável que havia passado a morar dentro de mim se expandia.

Lembrei-me de algumas horas atrás. Lembrei-me de ter ligado pra ele e ter contado tudo. Ele não havia dito nada. O que isso queria dizer?

— Hey... — Seus olhos encontraram os meus e não pude evitar sentir que meu corpo formigava. Será que ele sabia que esse cabelo desleixado me enlouquecia? Será que sabia o quanto eu havia desejado poder apoiar a cabeça em seu peito durante todos esses dias?

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora