Milk shake de amendoím

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POV: NANDA 

Quando o som metálico da partida ecoou por cada canto daquele lugar repleto de gente não fui capaz de discernir de onde vinham todas as vozes, nem o que elas diziam, nem a quem apontavam...

Quando ele saltou e seu corpo submergiu, tragado pela água movendo-se veloz enquanto todo o demais parecia ocorrer em câmera lenta, não pude deixar de sorrir.

Ele estava tão preparado para isso que era absurdo duvidar, mesmo que por um segundo sequer, que ele ganharia aquela competição.

Eu não duvidava.

Nunca o havia feito.

Escutei os gritos de Talita ao meu lado, saltando do bando e gritando seu nome enquanto batia palmas e observava aflita os demais competidores avançarem.

Eles não estavam nem perto. Não tinham a mínima chance.

De repente me senti tão feliz que não pude simplesmente permanecer ali sentada observando de longe enquanto ele passava um dos minutos mais importantes da sua vida.

Desci correndo, fazendo zigue zague entre as pessoas que me olhavam feio e reclamavam. Mas eu não me importava. Precisava estar ali quando ele chegasse ao final.

Parei ao lado do treinador Muniz bem no momento em que os gritos aumentaram. O cara da segunda raia havia chegado mais perto e os sussurros ansiosos haviam dominado o lugar.

Não me assustei.

Ninguém o conhecia melhor que eu.


Muniz fechou os olhos bem quando o carinha da segunda raia avançou um pouco mais. Senti seu nervosismo no ar como se contaminasse tudo a seu redor. Acerquei-me um pouco mais a piscina e um segurança olhou feio pra mim como se tivesse a idéia absurda de que eu fosse saltar de repente.

Traguei o riso e pousei os olhos sobre ele...

As arquibancadas explodiram em gritos, jornalistas apontavam suas câmeras para a piscina, Muniz saltava chorando até soluçar e Levi fitou ao redor um pouco desconcertado quando o a voz no alto falando anunciou seu nome.

Seus olhos encontraram os meus e levantei o polegar.

Ele sorriu.

Sorri de volta. Ele havia conseguido.


Esperei pacientemente a minha vez enquanto Levi era cercado por jornalistas, pelo diretor da faculdade, por alunos do grêmio, por sua família, pelo treinador Muniz e por pessoas que eu nunca havia visto na vida.

Apertei o pequeno buque de flores que tinha nas mãos enquanto sorria ansiosa para ver a cara dele ao ver o desenho horroroso, mas no qual eu havia realmente me empenhado, de uma sereia que eu tinha feito na cartolina que havia usado para envolver as flores. Não era o buque mais lindo do mundo, mas era original. E essa era sua sereia, ou era o mais próximo disso que eu tinha conseguido chegar disso. Além disso, tudo tinha terminado. Ele tinha ganhado a competição nacional e eu poderia contar toda a verdade. E eu poderia dizer que também o amava e que esperava que ele ainda sentisse o mesmo por mim.

Varreu a multidão até finalmente pousar os olhos sobre mim. Senti aquele frio estranho que Levi causava sempre que me olhava daquele jeito e tive certeza que tinha ruborizado. Mas que demônios!

Dei um passo em sua direção sentindo meu pulso acelerar, mas parei abruptamente quando Isa passou os braços ao redor do pescoço dele pousando seus lábios sobre os seus.

Alguns flashes me desnortearam.


Bati os pés ritmicamente enquanto observava as inúmeras estrelas no céu de verão aquela noite, sentada no primeiro degrau na porta de entrada da faculdade.

Observei o buque de flores que ainda levava e sorri do desenho desastroso da sereia sob a luz amarelada do poste que tinha a poucos centímetros de mim. Estava claro que desenho não era a minha área. Apoiei a cabeça nos joelhos enquanto a faculdade esvaziava ao ponto do silêncio finalmente tomar conta do edifício. Que a competição nacional tenha sido na UniBarra era um forte indício da influência que a faculdade tinha na cidade, e que Levi tivesse ganhado a tão almejada medalha de ouro deixava a instituição em uma posição muito difícil de ser retirada.

— Eles já estão por fechar o prédio.

Fitei-a em dúvida enquanto Amanda se sentava do meu lado. Nem me lembrava qual havia sido a última vez que tinha trocado qualquer palavra com ela.

Assenti enquanto me levantava e me preparava para ir embora também.

— Nanda? — Parou do meu lado e ponderou por algum tempo. — Eu sinto muito. — Disse por fim. — No fim das contas o problema não era você... Era eu. — Sorriu triste e encarou o copo de plástico de milk shake que tinha na mão. — Quer dizer, no fim ele só... Não gosta de mim desse jeito. — Entregou-me o copo um pouco nervosa. — Acha que podemos tentar de novo?

Fitei o copo que ela me oferecia e suspirei aliviada enquanto a abraçava e finalmente recuperava minha amiga.


Sentamos-nos de frente pro mar. Amanda me ofereceu mais uma cerveja, mas eu me sentia estranha, embora tivesse tirado um peso dos ombros ao vê-la ali comigo.

— A Isa? — Tomou um gole da cerveja e resmungou incrédula. — Fala sério! Eu teria aceitado no fim das contas perdê-lo para você. Mas a Isa?!

Assenti enquanto sentia uma dor quase insuportável no estômago. Minha temperatura parecia estar subindo e senti a pele coçar. A voz de Amanda foi ficando cada vez mais longe na medida em que a cólica aumentava.

— Quer dizer, eles estão mesmo saindo? Por que ele parecia meio surpreendido sabe... —Nanda? — Fitou-me assustada. — Ai meu Deus Nanda você esta bem?

— O que além de chocolate tinha nesse milk shake?

— Confetes, amendoim batido...

— Eu sou alérgica. — Consegui dizer enquanto minha vista nublava. — Chama a mamãe, por favor.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora