Obstáculos

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Nota da autora: Alerta de música fofa! Rsrs

POV LEVI

O sofá estava vazio. Eu já imaginava que estaria e isso me frustrava. Me frustrava que cada vez que encontrássemos um caminho a estrada mudasse e que esse desvio fizesse com que nos sentíssemos perdidos de novo.

Era como estar em uma espécie de guerra esperando o próximo ataque e eu só queria sentar no sofá com Fernanda e ver um filme tosco enquanto nos entupíamos de porcarias.

Estava cansado desses obstáculos, cansado de saltar barreiras, cansado de vê-la sofrer e que o motivo fosse eu.

Levantei-me e comprovei se a febre de Janet já havia passado. Lhe trouxe um chá e pedi que se banhasse. Seus olhos grandes e aturdidos me fitaram e tive certeza que ela tinha visto a frustração que eu sentia neles.

— Vai. — Disse enquanto afastava as cobertas e caminhava até sua pequena mala para pegar uma roupa limpa. — Nunca achei que tivesse uma chance. — Fez uma careta e piscou para mim enquanto caminhava até o corredor em direção ao banheiro. — Sempre foi tão evidente que você a amava. Me surpreende o tempo que ela levou para perceber isso.

Toquei a campainha e escutei seus passos arrastados dentro do apartamento. Era domingo e eu sabia que esse era um dia com uma espécie  ritual na casa dela. Sua mãe cozinhava para três como se fossem vinte, Lipe tinha o dia livre de desenho na TV e era quase implícito que o sol deveria brilhar lá fora para que seus raios iluminassem todo o apartamento.

Abriu a porta e seus olhos me fitaram por alguns segundos, desviando-se em seguida. Ainda estava de pijama, uma calça e uma camisa de bolinhas, e seus cabelos avermelhados estavam presos em um rabo de cavalo frouxo. 

Ela era linda...

Limpou a garganta e olhou ao meu redor, buscando por alguém mais.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou mudando o peso de uma perna a outra e mordendo os lábios. — Quer dizer, não deveria estar cuidando...

— Ela está bem.

Assentiu em silêncio, enquanto se afastava para que eu pudesse entrar.

Eram apenas dez da manhã, mas já se escutava o som tão característico da panela de pressão na cozinha. Lipe estava sentado no sofá com um Danoninho na mão enquanto Steven Universo ocupava a tela da TV e o sol realmente brilhava, entrando em raios em diversos tons amarelados pelas janelas de vidro da sala.

A segui até seu quarto em silêncio, tragando o riso pela tensão evidente que ela estava tentando bravamente controlar.

Sentou-se na cama e cruzou as pernas observando o esmalte rosado das unhas enquanto seu rosto era tomado por certa irritação.

— Você desapareceu.

Fitou-me como se eu tivesse dito algo absurdo.

— Dormir na cadeira pode ser um tanto desconfortável. — Respondeu com uma careta de burla.

Assenti enquanto caminhava até seu lado. Mordeu os lábios e afastou-se quando me sentei a seu lado na cama mantendo claramente uma distância entre nós dois.

—Trouxe seu cereal e também aqueles frasquitos de suco asqueroso de maçã. — Coloquei a bolsa no colo dela. Suas mãos fecharam-se em torno da sacola, mas ela não me olhou. Estava concentrada demais na estante do outro lado do quarto, mesmo que não tivesse nada de interessante ali. — Nanda...

— Por que é tão difícil Levi? — Sua voz não continha raiva, não estava carregada de cinismo. Ela só parecia frustrada. Eu a entendia, também havia me sentido assim quando abri os olhos e não a encontrei. — Quer dizer, cada vez que nos permitimos respirar alguém aparece ou alguma coisa acontece e torna as coisas difíceis de novo! Eu estou cansada! Eu não quero isso... E sabe? Ontem me senti uma completa estúpida! Quer dizer, o que eu deveria fazer quando sua prima estava doente e dormia do seu lado daquela maneira?! — Apertou mais a sacola que tinha na mão e suspirou negando lentamente. — Eu não quero que nenhuma garota esteja assim do seu lado! — Fitou-me com uma mescla de vergonha e desgosto. — Me sinto inquieta aqui dentro. — Levou a mão ao peito e algumas lágrimas brilharam em seus olhos, mas ela não permitiu que elas caíssem. — E eu não quero ser a louca que está sempre brigando, mas isso mexe comigo!

— Nanda você é tudo o que eu sempre quis.

Abriu a boca para dizer alguma coisa que pudesse colocar em dúvida o que eu tinha acabado de dizer, mas não encontrou nada. Seus olhos sustentaram os meus e um sorriso tímido desenhou-se em seus lábios.

— Prometo que as coisas já não serão tão difíceis a partir de agora.

Seus olhos se estreitaram e a dúvida dominou sua expressão.

— Como pode fazer isso?

— Porque ainda vou me casar com você.

 — Você vai? — Sua voz tremia. A bolsa de cereais caiu e ela se levantou para juntar o que havia sobre o chão. Um sorriso frágil dominou seus lábios e a tarefa de colocar as coisas na bolsa novamente parecia difícil demais.

Abaixei-me a seu lado e a ajudei.

— Nanda... — Fitou-me insegura e tentou esconder que agora seu corpo todo estremecia.

— Eu posso ser um problema na maioria das vezes.

— Eu sei. Esperei por muito tempo que meu coração encontrasse um desastre menor...

Sorriu tímida e desviou os olhos dos meus. 

— Levi isso não é engraçado...

— Que ótimo porque eu não estou brincando.

Piscou algumas vezes. Os olhos incrédulos fitando meu rosto como se eu tivesse enlouquecido.

Busquei seus lábios e suas mãos acariciaram meu rosto lentamente.

— Que bom.... — Sussurrou entre meus lábios. — Porque ainda vou me casar com você. 

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora