Fantasias e confetes

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POV: NANDA

Olhei para a roupa que vestia, uma saia de havaiana e um top verde limão e senti meu estômago embrulhar. Aquilo era ridículo! Eu não parecia uma havaiana! Parecia uma torta de limão ambulante!

— Não faz essa cara Nanda, você está maravilhosa! — Os olhos de Talita brilharam e eu a encarei como se ela estivesse louca. Quer dizer, ela estava exuberante com seu bronzeado perfeito e sua coroa de flores no cabelo. Eu, pelo contrário, parecia um experimento que havia saído mal.

— Tali, isso é uma tortura. Você quer nos torturar? — Amanda reclamou fazendo um biquinho do outro lado do quarto. Sua roupa estava um pouco justa demais e ela estava lutando para conseguir respirar.

— O que há com vocês duas?! — Talita colocou as mãos na cintura e nos encarou com aquele olhar de líder de torcida "Vamos meninas. Saltem e dêem cambalhota! Mãos para o alto e grito de vitória" — Nós nos preparamos durante quase todo o verão pra isso! Vamos nos divertir!

Troquei um breve olhar de descrença com Amanda antes de sermos arrastadas para fora daquele quarto seguro.

Isso seria no mínimo humilhante.

Eu disse no mínimo.


O Rio de Janeiro é a cidade mais caótica do mundo no carnaval. Você corre perigos que jamais correria durante o resto do ano como ser atacada por um bate bola (e pode ter certeza, você nunca descobrirá qual é o rosto dele. O que eu gostaria de saber é onde eles compram esses perfumes sabe? Eu meio que gosto muito desse cheiro enjoativamente doce). Você também pode ser atacada por um spray de espuma e ser coroada com um monte de confetes como toque final. Seu cabelo fica parecendo cobertura de bolo de festa e as pessoas ficam em dúvida se aquilo faz parte do seu look ou não. Mas o que eu mais odeio definitivamente são os ataques surpresa. Quer dizer, você não pode simplesmente estar caminhando com suas amigas pelas ruas do centro, atrás de um bloco qualquer sentindo-se a havaiana mais falsificada do mundo sem que um cara toque na sua bunda, tente beijar sua sobrancelha ou tente arrancar sua mão fora tentando fazer você ficar. Como eu dizia, o Rio de Janeiro é perigoso no carnaval. Se você puder evitar, eu recomendo que se esconda no seu quarto com um bom livro ao som da Legião até o perigo passar.

— Ai meu Deus! Eu adoro essa música!

Escutei quando Amanda suspirou cansada enquanto Talita nos arrastava pela mão em direção ao bloco mais diante. Não era suficiente ficar andando atrás daquele caminhão barulhento durante horas, naoooo... Ela estava realmente aplicando algum tipo de tortura disfarçada e o mais desalentador disso era que eu não tinha idéia do que havíamos feito para merecer isso.


— Aqui. — Amanda me entregou uma latinha de cerveja e se sentou do meu lado no meio- fio. Observamos enquanto Talita dava voltas e voltas com o celular na mão, a alguns metros de distância, parecendo totalmente aborrecida.

— O que será que foi dessa vez? — Perguntei dando um gole e esticando um pouco as pernas. Eu estava morta!

— Aposto que o de sempre. — Amanda deu de ombro e esticou as pernas também. Massageando os joelhos e fazendo uma careta de dor. — O Bernardo apronta, eles brigam e depois ele pede desculpa e fazem as pazes e ele apronta de novo...

Assenti sorrindo enquanto minha amiga dava patadas no ar e elevava o tom de voz gritando com o pequeno aparelho em sua mão.

Aquele era nosso dia de meninas no carnaval e apesar de as coisas com Levi estarem apenas começando, quer dizer, fazia só dois dias do episódio no sofá depois do café da manhã em seu apartamento, eu tinha prometido as minhas amigas que esse dia seria nosso. Talita vinha planejando a séculos e vinha acompanhando fim de semana após fim de semana o resultado do nosso bronzeado havaiano (nulo do meu caso e de Amanda) e eu simplesmente não queria ser uma dessas meninas que abandonam as amigas quando começam a sair com um cara. Mas eu sentia a falta dele. Eu sentia muito a falta dele. As coisas tinham ficado no ar entre a gente e eu não me sentia segura com isso. Quer dizer, ele havia dito que me amava, havia dito isso mais de uma vez. E eu havia dito que o amava também e eu sei que rótulos são rótulos, mas quem eu queria enganar? Levi estava em uma fazenda em Petrópolis em pleno carnaval e eu estava aqui, a mercê dos bate bolas nesse caos de fantasia.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora