Mágoas

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POV: NANDA  

As coisas na faculdade tinham sido estressantes durante aquela noite. Brian não parava de me buscar em cada canto nos minutos de intervalo e me assustou ver como Levi tinha estado certo. Brian não aceitaria perder. Ele nunca tinha perdido antes e não estava disposto e inaugurar essa lista em sua vida.

O mais intrigante é que eu deveria estar saltando de felicidade, mas cada vez que o via se aproximar desejava fugir e não ser encontrada jamais.

Tudo estava tão confuso dentro de mim que fui direto a máquina de refrigerante no intervalo, máquina que conste, eu evitava deliberadamente. Coloquei uma nota de R$ 5,00 e pedi um Guaraná, depois abri o pacote de biscoito de polvilho que tinha dentro da bolsa e comecei a comer como uma louca enquanto via o movimento no refeitório aumentar.

— Meu Deus, o que deu no Brian hoje?! — Talita apoiou sua bandeja com suco de melancia e sanduíche de queijo na mesa e me encarou fazendo uma careta. — Ele está insuportável não?! — Fitou-me com certa irritação. — Quer dizer, não conseguimos conversar um minuto sequer desde que chegamos sem que ele aparecesse como um psicopata buscando você. Por que ele simplesmente não cai fora? Quando achou que poderia competir com o Levi?

Engasguei ao escutar o nome dele.

Havíamos chegado na faculdade juntos, mas logo cada um havia seguido para suas respectivas classes. Levi não estava na minha turma e tampouco no meu curso. Enquanto eu lutava para ser uma jornalista no mínimo decente um dia, ele estudava educação física e ganhava medalhas de todos os tipos na equipe de natação da faculdade.

— Então me conta. — Inclinou-se na minha direção e me observou atenta com seus longos cílios escuros. — Quando foi que finalmente começaram a sair?

— É Nanda. — Amanda apoiou sua própria bandeja na mesa e se sentou na minha frente pousando os olhos sobre mim. — Quando? — Havia algo em sua voz que eu jamais havia escutado nela antes. Amanda geralmente era muito doce, tinha uma certa inocência que fazia com que as pessoas quisessem cuidar dela. Era uma das melhores alunas do curso e um pouco sonhadora demais, na minha opinião. Aquele tom de voz não combinava com ela, contudo, ela não parecia se importar com isso.

Eu estava encrencada.

Muito encrencada.

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Apoiei-me na janela e senti a brisa confortável da noite acariciar meus cabelos enquanto observava a porta entreaberta e escutava o som do desenho que Lipe assistia em seu quarto.

Mamãe havia saído por algumas horas assim que eu tinha chegado da faculdade e imaginei pela sua expressão e pela hora que iria encontrar com o papai e que tudo teria um ponto final logo.

Fitei-o enquanto ele observava as fotos que eu tinha em um quadro preso a parede. Metade daquele quadro pertencia a nós dois. Quase toda a minha vida, onde ele havia estado presente em quase todos os momentos. Sorri ao sentir que isso não me desagradava. Não se sentia estranho que Levi estivesse presente. Eu já não saberia não tê-lo por perto.

Sorriu ao encontrar uma foto de nós dois em um luau na praia há alguns anos. Um amigo a havia tirado sem que nos déssemos conta. Na foto havia uma fogueira entre ambos, e nos olhávamos de longe, com um sorriso nos lábios.

— Eu costumava levar essa foto quando viajava de férias com meus pais. — Disse sentindo-me um pouco estúpida de repente. — Eu não sabia por que, mas gostava de ter ela comigo.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora