Riscos

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POV: LEVI 

Parei em frente a entrada do Shopping e coloquei as mãos no bolso só para tirá-las um segundo depois.

Eu sabia a que se devia toda aquela agitação, e deveria estar preparado. Eu havia passado anos me preparando para isso, mas agora sentia que meu nível de ansiedade extrapolaria qualquer média aceitável.

Observei os minutos passarem no relógio enquanto o sol esquentava o asfalto e algumas crianças brincavam ao redor, acompanhadas de seus pais.

Antes de tudo, vi o tom avermelhado do seu cabelo que parecia filtrar os raios de sol. Depois seus olhos encontraram os meus e por alguns segundos ela pareceu terrivelmente sem jeito.

Abaixou a cabeça e sorriu timidamente e como se não nos conhecêssemos de toda uma vida, caminhou com passos incertos na minha direção.

Parou a minha frente e pareceu duvidar por uma fração de segundos que pareceram uma eternidade apavorante para mim. Mas então seus dedos entrelaçaram-se nos meus e ela relaxou, apertando a mão contra a minha.

— Vocês são tão fofos que me dão enjôo! — Talita fez uma careta e revirou os olhos abanando o rosto com a mão. — Alguém mais aqui está ansioso para que esse verão insuportável acabe?

— Achei que estivesse desejando o carnaval. — Respondi enquanto ela tomava um gole de água de uma garrafinha de plástico.

— E estou! O Carnaval é uma das únicas coisas gratificantes dessa estação. Quer dizer, eu amo a praia e tudo isso, não me mal interprete. Mas o Rio de Janeiro já deve ter superado a temperatura do inferno!

— Quanto exagero! — Nanda sorriu a meu lado e Talita bufou, dando-se por vencida.

— Vou deixar os pompinhos. Tenho curso hoje e estou bastante inspirada! Nos vemos a noite.

E desapareceu. Tragada pelo mar de gente que se dirigia aos diversos pontos de ônibus.

— Hey... — Observei seus dedos entrelaçados nos meus e ela abriu um meio sorriso inibida.

— Hey...

— Muitos clientes loucos hoje?

— Algumas senhoras com gostos excêntricos e um pai que comprou praticamente a loja toda para filha de aniversário. — Respondeu sem me olhar nos olhos. — Nada demais.

— Ë um trabalho extremamente emocionante.

Fitou-me estreitando os olhos e finalmente consegui que deixasse de fugir de mim por um momento.

— Fiz isso pra você. — Tirei o pequeno embrulho da mochila e coloquei em sua mão.

Abriu um pouco confusa e observou o pequeno diário de capa dura e folhas amareladas feito com jornais, revistas e materiais reciclados.

— Achei que pudesse começar a escrever sua revista de artigos felizes. — Mordi os lábios meio sem jeito. Agora que eu pensava claramente, aquele era o presente mais infantil do mundo!

Seus olhos permaneceram nos meus por longos segundos e comecei a me sentir cada vez mais inquieto.

— Levi eu estive pensando...

Senti o toque da sua mão na minha afrouxar enquanto ela observava a pequena agenda buscando desesperadamente as palavras certas.

— Eu amo você. — Seus olhos encontraram os meus surpresos, mas não me arrependi. — Faz tanto tempo que não poderia dizer desde quando, só sei que tive que viver com isso. Sabia que você não sentia o mesmo e não quis te afastar, não quis te pressionar nem te deixar sem jeito quando estivéssemos juntos. — Deixei que sua mão deslizasse até que ela pudesse se afastar de mim se quisesse. — E se você disser que ainda o ama, se me disser que deveríamos só permanecer como estamos e seguir em frente a partir de hoje eu finalmente poderei deixar isso pra trás. — Dizer isso fez meu coração doer a ponto de sufocar no peito, mas também me fez sentir livre. Não imaginei que fosse ser assim. Não na frente de um shopping, com o corre corre do dia a dia chocando-se por todos os lados. — Você ainda o ama? — O som do trânsito, das pessoas e do vento cessou. Só pude concentrar-me no verde dos olhos dela que fitavam os meus com uma mescla de sentimentos que me desestabilizaram.

— Minha vida às vezes é um completo desastre... E se eu machucar você?

— Vou correr o risco.

— Durante essa noite... — Apertou a agenda contra o peito e seus olhos marejaram. — Eu estive pensando que não quero ver você carregar nenhuma outra garota no colo. — Limpou uma lágrima e sorriu envergonhada. — Não quero que demore a responder minhas ligações porque está com outra menina e não quero que vá ao MisterBurg com outra... E fiquei pensando que isso é tão egoísta da minha parte, a final não estamos saindo de verdade e você tem todo o direito de estar com mais alguém... Esse era o plano! Mas acontece que eu não quero. — Mordeu os lábios e deu de ombros como se tirasse um peso das costas. — Eu não quero...

— Acha podemos parar de fingir sentir o que sentimos de verdade?

Sorriu e assentiu tapando o rosto com a mão para esconder o quão envergonhada estava.

— Droga Levi! Nem posso fingir ser a garota perfeita com você! Você sabe absolutamente tudo sobre mim...

— Eu sei sim e você é um desastre.

Fez uma careta simulando estar ofendida e a abracei. Tão forte e apertado quando pude. Queria que ela soubesse que estava segura comigo e a amaria apesar dos seus câmbios de humor, a amaria mesmo que seu gosto musical fosse limitado a uma única banda de rock dos anos 80, mesmo que fosse teimosa na maioria das vezes e que fosse terrivelmente ansiosa. Queria que ela soubesse que ela conhecia cada um dos meus defeitos também e que não me importava.

Não me importava nada disso em absoluto.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora