Sentir

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POV LEVI

2 anos depois...

Eu estava nervoso. Estava nervoso pra caralho. Minhas pernas pareciam não sustentar o peso do meu corpo e isso era ridículo, até mesmo para mim, um estúpido sentimentalista (era assim que Bernardo costumava me descrever).

A coisa era que me sentia exposto e o que quer que fosse que ela quisesse me dizer, tinha que ser ali?

Observei a noite deserta ao redor e meus olhos fitaram o velho galpão abandonado. Fui tomado de pronto por sentimentos desencontrados. A pouco mais de dois anos atras Nanda e eu havíamos começado algo ali. Algo que mudaria tudo.

Aquele galpão deveria ter sido destruído meses depois, mas ele ainda estava ali. Decrépito e decadente, mas ainda estava de pé.

Enfiei as mãos no bolso da calça social e afrouxei a gravata. A algumas horas atrás estávamos dançando em um grande salão alugado na formatura conjunta que nossas turmas resolveram fazer. Havia sido uma festa e tanto e finalmente estávamos prontos e devidamente certificados para o mercado de trabalho. Achei que aquele seria o ponto alto da minha noite, mas eu estava completamente enganado.

Ali, naquele lugar silencioso e esquecido, afastado da cidade e de todo o seu frenesi, uma nova noite começava.

Eu não sabia o que esperar dela.


Escutei o barulho do carro e estreitei os olhos quando ela apontou o farol alto na minha direção. As luzes se apagaram segundos depois e voltei a emergir em uma escuridão parcial, quebrada somente pela luz tênue de um poste.

Caminhou até mim com o vestido um pouco amarrotado. Seu penteado parecia desarmar-se a cada passo e seu sorriso fazia essa sensação estranha dentro de mim se incrementar.

— Hey Sartori. — Seus olhos pousaram sobre os meus. Pareciam mais verdes que nunca. — Alguém já te disse que você fica incrivelmente sexy com essa roupa?

Sorri observando como sua mão deslizava sobre o meu braço até que tocasse a minha e seus dedos pudessem entrelaçar-se com os meus.

— O que...

— Shiiii... — Levou o indicador aos meus lábios. — Quero que venha comigo. — Segurou minha mão e me puxou levemente. — Tem algo que quero te mostrar.

Caminhamos em silencio até o que restava da entrada do galpão. Ali dentro estava ainda mais escuro do que lá fora e chocamos com mesas e materiais abandonados enquanto Fernanda me guiava para onde quer que estívessemos indo.

Paramos entre algumas estantes de ferro vazias, de frente para um pequeno corredor.

Seus dedos deslizaram entre os meus até que minha mão estivesse livre. Uma luz amarelada iluminou seu rosto e pude ver seu sorriso enquanto ela apertava a lanterna firmemente.

Observei ao redor. Uma mesa forrada, dois bancos beirando a aposentadoria, dois pratos com cereais e duas latas de cerveja.

— Uma combinação bem estranha eu sei... — Mordeu os lábios, fitando a mesa. — Eu só...

Puxei-a para mais perto. Minhas mãos firmes em sua cintura enquanto ela deixava a lanterna cair ao lado do corpo. Senti seu coração acelerar de encontro ao meu, exatamente como da primeira vez. Sua respiração acariciou meu rosto, agitada, inconstante.

— Ele não despareceu. — Sussurrou apoiando a cabeça no meu peito. — E nós ainda estamos aqui. — Buscou meus olhos em meio a escuridão. Seus lábios rocaram os meus, meus dedos escorregaram sobre os fios que se soltavam do penteado em seu cabelo. — Eu estava errada... Existem coisas que foram feitas para durar.

Segurei seu rosto entre as mãos, apoiando minha testa contra a sua, sentindo a carícia suave da sua respiração encontrar meu rosto.

— Te amo tanto Levi Sartori. — Sua voz baixa, trêmula me fez querer estreitá-la mais forte para que ela soubesse... Ela já sabia...

Tocou meus lábios com os seus, puxou-me pelo pescoço até seu fosse impossível respirar. Esbarramos nas estantes de ferro, tropeçamos entre as ferramentas velhas jogadas no chão e derrubamos os pratos de cereais sobre a mesa.

Livrou-se da gravata frouxa ao redor do meu pescoço enquanto a sentava sobre a mesa. Envolveu minha cintura com as pernas enquanto desabotoava apressadamente cada botão da minha camisa. Enrolei os dedos entre os fios dos seus cabelos, a puxei de encontro a mim enquanto ele se inclinava mais na minha direção. Minhas mãos subiram pela meia fina que cobria suas pernas e me livrei delas sentindo como o tecido rasgava entre os meus dedos.

Fernanda suspirou quando meus lábios escorregaram por seu pescoço e suas unhas cravaram na minha pele, arranhando minhas costas, fazendo o sangue fluir por todo o meu corpo.

Deixei que meu corpo cobrisse o seu sobre a mesa cambaleante. Pressionou o corpo contra o meu exatamente como havia feito da primeira vez ainda que agora não houvesse culpa em seus olhos.

Eu era a pessoa que ela queria que estivesse ali.

Aquele velho galpão havia sobrevivido.

Nós também.

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— Fala sério Sartori. — Bernardo acomodou o capacete e subiu na moto. — Eu já disse que você é uma bixa?

— Acho que hoje não.

— Pois que falha a minha! Você é uma puta bixa!

Mostrei o dedo do meio enquanto ele se afastava, fazendo a moto rugir desnecessariamente.

Entrei no clube com um meio sorriso enquanto Fátima corria lentamente até o meu lado.

— Bom dia professor. — Seus olhos cinza me fitaram divertidos. A touca de natação roxa na sua cabeça cobria completamente seus cabelos brancos, embora Fátima não se descuidasse nem um pouco por conta da idade. Suas unhas estavam pintadas de vermelho vivo e em seus lábios brilhava uma cor rosada super forte. — Estou ansiosa para a nossa aula de hoje. — Piscou enquanto se afastava para conversar com suas companheiras de classe.

Eram por volta de dez. Todas em seus melhores sessenta, setenta anos. Eram nadadoras espetaculares se com isso podemos considerar a energia que tinham. E o mais importante, elas me deram uma chance. Me deram uma chance de trabalhar fazendo o que amo enquanto me preparava para as próximas nacionais.

Apoiei a bolsa na cadeira e pedi que fossem entrando em calor na piscina enquanto ligava o rádio e escolhia uma das músicas de aquecimento na playlist que Nanda havia feito.

Estava concentrado em encontrar a música adequada quando escutei meu nome ecoar desde a arquibancada vazia.

Os rostos dentro da piscina me observaram cúmplices enquanto Fernanda descia lentamente até o primeiro banco, na minha direção.

Observei-a intrigado enquanto Fátima saía da piscina e colocava uma canção que eu não conhecia, provavelmente dos seus anos de jovem.

— Nanda o que está fazendo?

Mordeu os lábios nervosa, apertando os dedos entre as mãos enquanto parecia decidir se seguia em frente ou saía correndo dali.

— Levi... — Sua respiração acelerou. Ela parecia transpirar. — Eu... — Tirou uma pequena caixa incrustada de conchas que tinha no bolso da jaqueta. — Eu não sou uma sereia... — Revirou os olhos, ficando nitidamente vermelha enquanto praguejava. — O que quero dizer é que eu sou bem humana com todos os meus defeitos e todas as minhas loucuras. Eu posso ser intensa, briguenta, e insuportável as vezes. Não garanto que isso vá mudar, mas farei o meu melhor. — Então... — Colocou a caixa na minha mão enquanto buscava apoio nos vários pares de olhos que nos fitavam em silencio desde a piscina. — Você... Casaria comigo?

Eu estava perplexo demais.

Sentia tudo demasiado.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora