POV: Nanda
Batuquei ritmicamente na mesa da sala enquanto a voz do professor zumbia, quase inaudível no meu ouvido, como uma mosca que finalmente se afasta.
Eu não conseguia tirar o pedido absurdo do Brian, na noite anterior, da cabeça e isso estava me impedindo seriamente de concentrar-me na matéria, que cairia na prova, vale a pena lembrar. Eu já disse que minhas notas estavam beirando a mediocridade? Já né? Então, eu estava ficando realmente colérica com o fato de estar ignorando totalmente a aula por causa do imprestável do Brian. Mas o que ele queria dizer com "Acha que pode me ajudar com isso?". Quer dizer:
A) Não. Eu definitivamente NÃO podia.
B) A Amanda não fazia o estilo dele. Então qual era a intenção por trás disso?
C) Quem ele achava que era para falar comigo de novo?
Era nisso que eu estava pensando, e eu sei não deveria, quando meu celular apitou em cima da mesa e vi o nome da Talita no Whatsapp. Levei disfarçadamente o celular para o colo e fitei a telinha abrindo a mensagem.
Talita: Ai meu Deus! Me diz que não vai surtar!
Eu não tinha gostado dessa frase. Respirei fundo.
Nanda: Eu não vou surtar.
Talita: Ok. Então segura essa. A louca da Isa ficou plantada do nada na porta do auditório, onde por acaso seu namorado estava dando uma pequena entrevista com aqueles jornalistas esportistas sabe? Bom o fato é que eu tava passando, precisava ir ao banheiro...
Nanda: Talita desembucha logo!
Talita: Ok! Você disse que não ia surtar!
Nanda: Eu ainda estou calma, acredite.
Talita: Quando o Levi saiu, ela meio que pulou em cima dele sabe? Como essas psicopatas loucas. Tipo ela PULOU mesmo no pescoço dele e ele ficou meio tipo "Que merda é essa" e então os jornalistas, que já estavam indo embora ligaram os pontos... Quer dizer, quando o Levi ganhou o campeonato ela meio que parecia ser... E agora ela estava bem ali, como se realmente fosse...
Não esperei ela terminar a frase. Peguei minhas coisas e saí arrastando a mesa, o que causou certo impacto negativo no professor e nos meus companheiros de classe.
Eu não estava ligando pra isso.
Ia matar aquela loira de meio metro!
Eu ia matá-la nem que fosse a última coisa que fizesse nessa prestigiada faculdade.
Avancei pelo corredor como uma flecha sentindo meu sangue ferver enquanto meu peito queimava de raiva.
Cheguei bem no momento em que o último jornalista saía pela porta principal do prédio e desaparecia na noite lá fora. O corredor estava vazio. Todos estavam em classe. Eu deveria estar também, e aquele projeto de modelo falsificado da Victoria Secret também. Mas ao invés disso ela estava bem ali, na frente de um Levi bastante desconcertado que se afastava um pouco zangado. Embora eu não possa dizer que ele estava tão furioso quanto eu. O que eu estava sentindo ainda não tinha nome.
Antes que Isa pudesse se afastar, eu a havia agarrado pelos cabelos. Gemeu, contendo um grito que chamaria a atenção, não tão bem-vinda para nenhuma das duas, e me encarou com uma mescla de surpresa e ódio.
— O que está fazendo sua louca?!
Sorri, enquanto puxava sua cabeça pra baixo, fazendo ela ficar em uma posição engraçada e desconfortável enquanto tentava livrar-se do aperto da minha mão nos fios longos da sua patética cabeleira dourada.
— Não. Essa não é a pergunta querida. Eu te avisei, mas devo te dar algo de crédito. Você é mesmo louca!
— Nanda deixa ela... Só... — Fitei-o em alerta. Levi mordeu os lábios suspirando pesadamente. Eu deveria mesmo dar medo.
— Do que você está falando?! — A bruxa anã vociferou, contorcendo-se um pouco enquanto sua coluna assumia um ângulo estilo filme O exorcista. — Me solta sua vaca!
Apertei um pouco mais e ela rangeu de dor. Minha voz soou baixa, mas o aviso era claro e seus protestos cessaram enquanto ela me fitava com certo receio.
— Acho que já tivemos essa conversa e acho que fui clara, mas eu vou ser boazinha e vou repetir. Você não sabe nada sobre mim, não sabe nada sobre a gente. Tenha um pouco de dignidade. O Levi não é o seu joguinho. Fica. Longe. Dele.
— Nanda basta. — A voz dele e o aperto dos seus dedos no meu braço me fizeram recuar.
Os olhos de Isa, inundados de lágrimas, encontraram os meus por alguns segundos e ela finalmente assentiu.
E então as portas das salas se abriram e o corredor cobrou vida.
Senti que Isa já não seria um problema enquanto a via afastar-se e desaparecer pela porta do banheiro.
Respirei fundo e sorri.
Assim estava bem melhor.
Suas mãos me apertavam pelas costas. Eu tinha uma perna em cada lado da sua cintura e as mãos em volta do seu pescoço.
— Eu ainda não acredito no que você fez. — Ele não parecia zangado, mas também não parecia contente.
Revirei os olhos e bufei cansada dessa conversa.
— E o que eu deveria fazer? Eu não bati nela nem nada...
— Nanda as coisas não se resolvem assim...
— Levi você me conhece de praticamente toda a sua vida! Em quantas brigas já me meti por muito menos que isso?
— Você precisa mudar isso.
Fitei-o suspirando enquanto sentia de pronto um pequeno aperto no peito. Levi era o tipo de pessoa que sabe conversar, era o tipo de pessoa que você quer ter ao lado na hora de uma negociação importante. Eu era mais do tipo que você quer manter fechado em uma sala com proteção extra até que as coisas se resolvam.
Fiz um bico, estava começando a me sentir realmente péssima.
— Eu só... Não pude controlar. — Deixei o peso da sua mirada cair sobre meus ombros e me retraí um pouco. — Desculpa... Eu sou uma louca encrenqueira. — Desviei os olhos dele. Agora me sentia envergonhada. Eu era tãooooo errada ao lado dele!
O som da sua risada baixa me gerou aquela sensação estranha de vazio no estômago. Afastou meus cabelos dos olhos, inclinou-se na minha direção até tocar a ponta do meu nariz com os lábios.
Lutei contra o sorriso que estremecia nos meus lábios e fitei-o em dúvida.
— Desequilibrada. — Disse escorregando uma mão pela minha nuca enquanto a outra me apertava pela cintura.
— Você é meu namorado droga... Quem ela pensa que é...
Sorriu entre meus lábios e assentiu enquanto meu corpo caía sobre o seu.
E esquecemos todo o resto.
E estava bem melhor assim.
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Sempre foi você
RomanceLevi e Fernanda são compatíveis em quase tudo. Amigos de infância, suas vidas estão relacionadas nos piores e melhores momentos. Se Levi era a calmaria das águas, Nanda era a tempestade que tumultuava seu mundo tranqüilo. Certos sentimentos perman...