POV: Nanda ♠
— Mas o Levi?! — Matteo exclamou pela milionésima vez enquanto levava a latinha de energético aos lábios. Sua voz assumindo um tom surpreendentemente estridente que combinava totalmente com suas espinhas no rosto e a explosão de hormônios pela qual ele estava passando em seus dezessete anos de idade.
O fitei arqueando as sobrancelhas com minha melhor cara de "Não é incrível? Quem poderia acreditar?!", rezando para que a terra me tragasse, o que seria uma experiência nada acolhedora já que fazia um calor infernal e daria para fritar um ovo no chão, ou que alguém viesse ao meu socorro. Não me mal interprete, eu gostava do Matteo na maioria das vezes. Ele era divertido, um pouco carrancudo e tremendamente pessimista para a sua idade, mas de um jeito legal sabe? Só que não estava me sentindo motivada a ficar ali escutando ele duvidar do que eu havia dito aquela manhã na mesa do café. Pra falar a verdade, até eu mesma tinha duvidado durante um tempo que havia dito aquilo bem na frente de todo mundo em alto e bom som. Mas a família de Levi não deixou esse fato cair no esquecimento assim tão fácil. Sua vó ficava me encarando com aquele sorriso estranho toda vez que passava por mim com sua touca de crochê na mão e Débora não parava de fazer perguntas sobre quando exatamente tudo mudou sempre que podia. Acho que ela queria entender como não tinha percebido. Tentei explicar que nem eu sabia a resposta, mas desisti. Era um pouco desconcertante.
— Sério Nanda... — Matteo continuou, estirando as pernas a sua frente enquanto se acomodava melhor na cadeira de balanço ancestral onde estivera sentado. — Qual é a lógica de começar a sair com o seu melhor amigo? — Tentou controlar a inquietação na sua voz, o que era até bonitinho. Ele estava tentando ser maduro, mas suas pernas movendo-se ansiosamente o denunciavam. — Quer dizer, você conhece todos os defeitos dele! Estão simplesmente saltando aquela parte do relacionamento onde acreditamos que a pessoa é perfeita e, na minha opinião, essa é uma fase totalmente necessária na vida de um casal.
Suspirei pesadamente e apoiei os cotovelos nas pernas, fitando o campo verde a minha frente enquanto o céu mais azul do mundo estendia-se no horizonte, muito além de onde meus olhos podiam alcançar.
— Ele conhece todos os meus defeitos também Mat. — Uma borboleta havia pousado em um pedaço de madeira ao lado da escadinha que levava a varanda, bem onde eu estava sentada. Observei suas cores, marrom, lilás e laranja. De alguma forma absurda, todas aquelas cores combinavam. — E mesmo assim ele ainda me ama.
Seus olhos castanhos bem claros pousaram sobre mim. Sua cabeça parecia fervilhar, em busca de uma resposta que refutaria a minha, mas ao invés disso levantou-se da cadeira e abaixou ao meu lado, observando a pequena borboleta.
— Esse lugar está cheio de coisas incríveis. — Disse e seus olhos brilharam um pouco enquanto ele sorria. — E o amor é mesmo um mistério.
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As chamas eram vermelhas, laranja e azul e embora a fogueira iluminasse com suficiência, acompanhada pelas luzes do porche, a lua parecia pertencer somente aquela fazenda naquela noite. Como se tivesse pedido permissão ao mundo para estar ali e em nenhum outro lugar mais. E ela iluminava tudo ao redor.
Com um violão e uma voz realmente incrível Matteo embalava as conversas ao redor do fogo enquanto Juliano utilizava uma caixa de madeira como percussão.
Cami passou correndo, vestida de joaninha enquanto Márcia corria atrás dela com um par de sapatos para proteger seus pés descalços. Os avós de Levi conversavam, apoiados um no outro, e seus pais traziam toda a comida para colocar em uma mesa enfeitada com confetes que havíamos colocado do lado de fora.
Esse era o carnaval mais estranho que eu havia passado na vida. Nada de bate-bolas com rostos ocultos em máscaras, nada de espumas, nada de aglomerações e fantasias escandalosas.
Somente um campo infinito, muitas estrelas e a lua como uma grande lanterna.
Sentia-me em paz.
Era a melhor sensação do mundo.
— Vem. — Senti sua mão sobre a minha. Fitei-o e seu rosto brilhou sob as estrelas. Seus cabelos estavam molhados, ele ainda tinha cheiro do sabonete e suas bochechas estavam coradas por conta do sol. Levi havia passado a tarde com seu avô plantando as verduras que futuramente seus avós venderiam na feira.
Entrelacei meus dedos nos dele e o segui. O som da voz de Mat ficou distante, assim como a luz da fogueira e das lâmpadas do porche. Agora somente a lua nos acompanhava.
Demos a volta pela casa e percorremos um curto caminho e terra cercado de árvores dos dois lados chegando quase ao limite da propriedade dos seus avós. Eu conhecia aquele caminho, mas achei que ela não tivesse resistido ao clima e ao abandono.
Eu estava enganada.
Observei a frágil escada de corda com delgados degraus de madeira que balançava presa a uma árvore e um sorriso abriu-se em meu rosto.
— Sinto ter te deixado durante toda a manhã sozinha com o Mat. — Observou o topo da árvore, onde uma pequena casa de madeira parecia desafiar o tempo com solenidade. — Mas eu precisava ver se consegui arrumá-la.
Eu já não podia estar em pé ali dentro. Agora, tudo parecia muito menor do que era antes. Levi e eu costumávamos passar a tarde lendo histórias, inventando jogos e planejando nossa caça ao tesouro com mil mapas feitos de colagem de jornais velhos e lápis de cera.
Tudo isso, que antes parecia tão distante, voltou em apenas alguns segundos. Fitei-o sentindo algo estranho no estômago que esquentava meu peito e me agitava por completo.
Aproximou-se, suas mãos no meu rosto, afastando meus cabelos dos olhos. Fitei seus lábios e o contorno do seu sorriso quase oculto. Pousei os lábios sobre os dele, batemos com a cabeça no teto e sorrimos da confusão de mãos e pernas que tentavam ajustar-se ao espaço. Deitei-me sobre o chão de madeira e o puxei de encontro a mim. Senti seu corpo em cada fibra do meu, seus braços apertando-me forte contra si, minhas mãos percorrendo cada contorno do corpo dele, seus lábios que ardiam sobre os meus. Seu corpo que se encaixava perfeitamente com o meu... Sua voz em sussurros no meu ouvido e minha cabeça apoiada no seu peito quando meu coração parecia querer explodir.
Dei-me conta que a pergunta certa não era quando eu havia me apaixonado por Levi e sim em que momento eu havia me dado conta do que parecia haver estado sempre ali.
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Sempre foi você
RomanceLevi e Fernanda são compatíveis em quase tudo. Amigos de infância, suas vidas estão relacionadas nos piores e melhores momentos. Se Levi era a calmaria das águas, Nanda era a tempestade que tumultuava seu mundo tranqüilo. Certos sentimentos perman...