Contra a corrente

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Nota da autora: Essa música é muito esse capítulo! 


POV: LEVI  

Escutei meu nome entre risos e vozes e quis realmente me concentrar naquele momento. Quis prestar atenção nos rostos que me fitavam com olhos brilhantes, quis ser mais participativo na conversa que supostamente deveria me interessar, quis esquecer seu rosto em meio a todas aquelas pessoas e quis esquecer sua ausência.

Mas isso não era algo que eu pudesse controlar. E eu já havia desistido de lutar fazia muito tempo.

— Vai comer isso? — Isa me observou com um meio sorriso. Seus olhos castanhos claros brilharam de uma forma intensa na minha direção e tentei não me sentir incômodo com isso. Era impossível. Ela era uma garota legal, mas era só isso.

Neguei enquanto passava meu prato de batata frita pra ela e forçava um sorriso. Estreitou os olhos, inclinando o rosto levemente para o lado enquanto apoiava a cabeça na mão.

Agora eu estava sendo analisado. Isso me deixou ainda mais desconfortável.

—Tudo bem Levi? — Quis saber enquanto mergulhava uma batata no ketchup, embora seu olhar dissesse que ela já sabia a resposta. — Como se sente? — Observou Muniz do outro lado da mesa conversando e gesticulando euforicamente. — O treinador Muniz parece ter ganhado a medalha, mas você não.

Observei meus pais, seus olhos cheios de orgulho enquanto lançavam olhares esporádicos na minha direção. Vi como o rosto de Muniz brilhava de uma forma estranha depois de toda a cerveja que ele havia tomado e ponderei sobre quem eram aquelas outras pessoas desconhecidas que estavam ao meu redor. Sentia-me estranho. Tudo parecia certo e errado ao mesmo tempo.

Tirei o celular do bolso e respirei aliviado quando me dei conta que Isa havia finalmente desviado sua atenção para uma conversa animada sobre meio ambiente com uma menina de cabelos escuros e cacheados a seu lado.

Fitei sua foto e me peguei pensando no que ela deveria estar fazendo agora. Quando me dei conta, estava sorrindo para a tela do celular. Fernanda causava esse tipo de reação ridícula em mim. Senti raiva de mim mesmo. A caso ela não havia deixado claro que não queria estar comigo?

Algum dia eu finalmente entenderia isso?

E então recebi uma mensagem.

Seu nome apareceu na tela... E de repente tudo parecia no lugar agora.

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Minha cabeça dava voltas. Tudo no que eu conseguia pensar era no quão duro havia sido. Senti-me impotente. Já não podia fazer nada para mudar o que tinha acontecido. Senti raiva, Fernanda não havia me dado a oportunidade de decidir.

Mas a caso não havia sido eu quem havia começado com tudo isso? Não tinha sido eu quem havia sugerido aquele trato estúpido?

Agradeci por meus pais estarem absortos em seu próprio mundo, conversando animadamente enquanto desfrutavam do trânsito livre até nossa casa. Eram quatro da manhã e a cidade parecia ter sido abandonada por todos. A brisa fresca impedia que minha cabeça explodisse e me senti imensamente aliviado por ter conseguido esquivar a Isa e seus convites, que eu teria aceitado, pois estava realmente tentando seguir adiante. Mas isso foi antes...

Apoiei a cabeça no vidro e fechei os olhos. Sua voz não saía da minha cabeça. Tudo o que eu queria fazer era ir correndo até seu apartamento e talvez abraçá-la pra sempre.

Mas aconteceria de novo? Ela me destroçaria mais uma vez?

— O que acha querido? — Mamãe me olhou sorrindo e a fitei um pouco aturdido.

— O que?

Franziu a testa e seu sorriso ampliou-se.

— Esquece — Apoiou a mão no ombro do meu pai, que acabava de entrar no estacionamento do prédio com o carro. — Você deve estar cansado. Depois conversamos sobre isso. Estamos muito orgulhosos de você Levi. — Seus olhos brilharam e ela estendeu a mão para alcançar a minha. — Muito mesmo querido!


Observei a tela do celular enquanto sentava na cama depois do que havia sido o banho mais longo do mundo. Suas palavras pareciam chocar-se contra cada célula do meu corpo. Havia prometido a mim mesmo que deixaria tudo isso pra trás. Que já não me comportaria dessa maneira ridícula, como se não houvesse outra mulher no mundo, mas então ela me ligava, justo quando eu conseguia me afastar mais um passo, e me contava toda essa história absurda que eu queria aceitar.

Queria aceitar cada palavra que Fernanda dissesse porque a amava.

Porque ainda a amo.

Mas estava quebrado por dentro, depois de todos esses anos estava pensando em realmente parar de nadar contra a corrente. 

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora