Cada parte de mim

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Nota da autora: Play na música amoras e amores rs !  ❤


POV: LEVI 

Eu ainda não acreditava que ela estava ali.

Enquanto Nanda caminhava pelos cômodos da casa dos meus avós depois de passar a noite em claro escutando os gêmeos cantarem o repertorio completo do show que fariam no próximo mês em um festival na cidade enquanto bebíamos cerveja e comíamos o queijo feito na fazenda logo ao lado, concentrei-me em guardar cada movimento dela. A forma como ela mordia os lábios, a forma como ela se contorcia ao rir, a forma como sua voz acompanhava a canção...

E agora ela estava ali, sentada em frente ao balcão da cozinha enquanto minha avó preparava o café da manhã e explicava sobre os benefícios do leite puro, sem nenhum tipo de química estranha de conservação.

Ela estava ali enquanto sujávamos nossas mãos de terra e finalmente plantávamos a árvore de Cami.

Ela estava ali quando meu avô nos levou até o centro para comprar o bolo surpresa de aniversário da vovó em sua velha caminhonete.

E ela ainda estava ali quando vovó soprou as velas e Cami derrubou refrigerante no vestido da minha mãe.

E eu estava aterrado por isso. Porque Fernanda já me havia quebrado mais vezes do que ela podia imaginar. O havia feito sem saber e o havia feito com propósito.

O faria de novo?

Seria mais fácil pra mim dessa vez?


Cruzou as pernas ao redor da minha cintura e me envolveu com os braços pelo pescoço. Sorri buscando seus lábios, mas ela se afastou, burlando-se do pouco controle que me restava. Meu coração batia agitado no peito, enquanto minhas mãos subiam por suas pernas, por baixo do vestido de tecido leve que cobria seu corpo.

Suspirou lentamente enquanto meus dedos subiam por sua coxa. Mordi seus lábios, sua língua encontrou a minha e estremeci quando ela colou mais o corpo ao meu.

— Que atrevimento o seu pensar que poderia passar essa festa tão caótica longe de mim. — Sussurrou enquanto sua cintura movia-se suavemente de encontro a minha. Tentei ser racional. Estávamos na velha casa de ferramentas do vovô, a alguns metros da casa onde provavelmente todos já estivessem dormindo, mas aquilo era arriscado.

Mordi os lábios lutando contra dos os meus instintos quando suas unhas arranharam levemente minhas costas, puxando minha camisa para traçar uma linha quente pelas minhas costas.

— Nanda.

Fitou-me com um meio sorriso. As mãos no meu rosto, os lábios roçando com carinho sobre meus olhos fechados, escorregando suavemente pelo meu nariz.

— Tudo bem se eu for sua namorada agora? — Perguntou com certa insegurança. Seus olhos de um verde desconcertante.

— Tudo bem se você for minha pra sempre.

Apoiou a cabeça no meu ombro e me abraçou como se essa noite fechasse um novo trato. Um que não precisasse ser dito em voz alta, um trato que dessa vez não quebraríamos.

Meu coração voltou a bater encontrando o ritmo do seu.

E então começaram a bater juntos.


                                         ______❤ ❤ ❤ ❤ ­­_______

— Estão namorando. — Cami observou nossas mãos em cima da mesa. Os dedos de Nanda roçavam os meus de forma inconsciente enquanto ela comia um pedaço de pão e discutia com os gêmeos sobre Legião Urbana ser a melhor banda que já existiu no mundo. Eu admirava sua disposiçãotão cedo. Quer dizer, eram apenas sete da manhã e eu mal conseguia distinguir quem era quem quando se tratava de Matteo e Juliano. Eles eram exatamenteiguais, na minha opinião. E isso os aborrecia ao extremo.

O desconcertante murmurinho na mesa cessou. De repente estávamos muito conscientes dos incontáveis pares de olhos da minha família, que nos observavam em um silêncio cúmplice.

Vovó pigarreou, colocando um pouco de manteiga sobre uma tostada e um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. Fernanda afastou a mão da minha como se tivesse levado um choque e meu avô dissimulou passando aleatoriamente as páginas do jornal que tinha a seu lado.

— Não seja atrevida Cami! — Matteo, o gêmeo mais velho por apenas cinco minutos, observou a mesa carrancudo. Ele sempre teve uma quedinha por Fernanda e todas as vezes que iam nos visitar no Rio com Márcia, a irmã mais velha da mamãe, ficava arquitetando mil planos paranóicos para esbarrar com ela pelo condomínio.

— Mas olha só para as mãos deles! — Cami apontou para o lugar onde nossas mãos estiveram alguns segundos antes como se essa fosse uma prova irrefutável de que estivéssemos escondendo algo. — Eu vi em um filme!

— Que filme?! — Márcia agora parecia desconcertada. — Juliano se estiver mostrando filmes inadequados a sua irmã eu simplesmente vou tirar a o computador de você por um século!

Juliano, o gêmeo com cinco minutos de desvantagem, revirou os olhos e meteu uma tostada inteira na boca resmungando algo sobre não ter nada a ver com isso.

— Ora não sejam ridículos. — Mamãe interrompeu com um sorriso descontraído. — Levi e Nanda são amigos desde que tinham a sua idade carinho. — Acariciou os cabelos de Cami e levou um pedaço de bolo de fubá a boca. — Eles são só amigos...

— Na verdade não. — A voz de Fernanda soou baixa em meio a toda aquela confusão, mas todos na mesa se calaram abruptamente, pousando os olhos sobre ela. Inclusive eu. Respirou fundo e fitou as pessoas que tinha a frente um pouco inquieta. — Na verdade eu amo o seu filho. — Suspirou, soltando o ar como se com isso pudesse se livrar de toda a ansiedade que o desconcerto que havia na expressão de todos lhe causava.

Podíamos escutar o ruído dos pássaros lá fora e também do vento que balançava a folha das árvores ferozmente naquela manhã. Fernanda e eu havíamos corrido por esses campos antes, havíamos subido em cada uma daquelas árvores e havíamos passado horas aprendendo a cuidar dos animais enquanto o sol apenas nascia. Havíamos tomado banho de mangueira com roupas de banho ridículas e havíamos adormecido na varanda contando as estrelas que achávamos que eram planetas enquanto vovó nos preparava leite quente.

Ela era parte da família.

Isso não mudaria agora.

— Pois bem. — Meu pai se levantou, pegando sua xícara de café e levando-a até a pia, onde a cafeteira estava ligada. — Alguém quer um pouco mais? — Fitou-me com um meio sorriso e piscou sutilmente para Nanda, que relaxou na sua cadeira agradecida quando todos voltaram a conversar e minha mão escorregava sobre a sua por baixo da mesa.

Encarou-me com os olhos brilhando e sorriu.

Não ia acontecer de novo. Dessa vez ela manteria inteira cada parte de mim. 

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora