Capítulo 1

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Setembro /2016

O sol iluminava a manhã de terça feira, lembrando a Ana que seu filho Matheus, de oito anos, tinha consulta com a fonoaudióloga.

– Acorda, Mateus! Hoje tem fono. – Disse, separando a roupa que o menino usaria.

Após muita insistência de sua parte, Matheus levantou-se e foram tomar café, saindo em seguida.

Como moravam no Fonseca, em Niterói, sempre que tinham alguma consulta marcada, tinham de sair cedo, pois o trânsito da Alameda São Boaventura, que dava acesso a Ponte Rio-Niterói.

Mesmo que o atendimento estivesse marcado para às 08:00h, os dois já estavam no ponto às 06:40h e pegavam o ônibus para o Ingá, que sempre ia cheio de estudantes. Porém, a maior parte do percurso faziam a pé.

Como de costume, chegaram à clínica 40 minutos antes da consulta.

A mãe de Ana sempre dizia que era melhor prevenir do que remediar.

Assim que passaram pelo porteiro, o cumprimentaram e subiram às escadas, para esperar a médica no corredor, onde sentaram-se no chão.

Enquanto Ana olhava seu Facebook pelo celular, Mateus jogava Minecraft no dele.

Ao zapear sua rede social, Ana via que tinha de tudo: coisas engraçadas, triste e até mesmo sem noção, mas um anúncio chamou sua atenção. Como a médica ainda não havia chegado, resolveu ler o que o site de relacionamento prometia (sim, o anúncio era sobre site de relacionamentos).

Em 2015, Ana se aventurava nesses sites, onde os homens só queriam sexo sem compromisso e as mulheres escolhiam seus parceiros como se fossem produtos que a gente compra no supermercado. Porém, este que havia encontrado era diferente.

Lembrou-se da vez em que conheceu um cara que morava no Rio. Ele era lindo e muito bom de papo. Então resolveu que era uma boa encontra-se com esse homem, mas acabou levando um "bolo", pois ele não apareceu. Ainda continuaram se falando, mas foram esfriando até se afastarem completamente.

Ana viu que não tinha nada a perder se se arriscasse nesse novo site, que lhe prometia homens bem sucedidos que cobriam as mulheres de mimos e talvez até viagens.

Esses caras que prometiam essas coisas, apesar de velhos, queriam conhecer mulheres bonitas que estavam dispostas a receber todos esses "cuidados especiais".

Ao analisar seu perfil, Ana não se achava uma mulher bonita; tinha estatura baixa, corpo típico de mulher brasileira, cintura fina, quadril largo e pernas grossas. Seu rosto era rechonchudo, seus cabelos encaracolados e tinha olhos pretos. Olhando-se no espelho, não via nada que pudesse chamar atenção, mas os olhares dos homens que olhavam para ela quando passava na rua diziam outra coisa.

Há mais de seis anos estava divorciada do pai de seu filho, mas nunca namorou ninguém desde então.

Ainda morava com seus pais e tudo o que havia planejado para sua vida foi por água abaixo.

Formou-se em história, mas dava aulas para Educação Infantil, pois também era formada em pedagogia. Trabalhava numa escola particular, onde seu filho era bolsista. O que mais sentia orgulho era que podia dar a seu filho uma boa educação. Mas era só isso mesmo, já que o restante ia de mal a pior.

Passou a frequentar uma igreja evangélica, onde fazia terapia, pois a depressão e a solidão estavam apagando sua verdadeira essência. E somente Deus poderia lhe trazer sua vitória.

Todos tem o sonho de ter sua casa própria, mas Ana não queria sair da casa de seus pais para ter que voltar depois, com o rabo entre as pernas. Queria fazer tudo certo desta vez e não colocaria Matheus em risco. Ela queria era ter onde cair morta, como sempre dizia, e deixar alguma herança para seu filho.

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