Capítulo 9

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Loucura, ele sabia que era, mas deveria tentar. João estava seguindo seus passos e em pensar que seu filho poderia acabar igual a ele, doía demais o coração. João tinha que ver como a vida era bonita e se aquela menina não ajudasse, Antônio não sabia o que mais poderia fazer.

Pedir aquilo, fora além de suas expectativas. Queria ter mais tempo, não estava nos planos um infarto em pleno evento da empresa. Pretendia conhecer um pouco mais a Ana e desfrutar de sua companhia, não mentira para ela, gostara mesmo de tê-la por perto, de sua conversa e de sua forma de pensar. Ao escolher Ana no site, não imaginou que ela poderia ser tão diferente assim, além da aparência comparada as outras meninas.

A experiência de vida que ela tivera, poderia ajudar ao filho ver a realidade, e era isso que Antônio queria. Para uma mulher de 27 anos, Ana já tinha passado por muita coisa e mantivera a cabeça no lugar. Sabia onde queria chegar, mas media suas atitudes para conseguir. Antônio pensava que nesse ponto, ela poderia aprender com João, ele fazia tudo para chegar onde queria, mesmo que isso fosse passar por cima dos outros.

- Senhor, sua medicação - a enfermeira jovem e bonita, entrou com uma bandeja de metal, contendo um copo e um comprimido bicolor.

Se fosse em outros tempos, Antônio jogaria o seu papo fácil e manipulável, para conseguir um pouco mais que aquilo que ela trazia. O sorriso lindo, poderia confundí-la e logo estaria deitada ao seu lado na cama, e se isso não resolvesse, ele falaria da empresa e de quanto tirava por mês. Aquilo sempre dava certo.

Mas os tempos mudaram, nesse momento ele pensava em deixar tudo resolvido e todos bem, pelo menos no quesito financeiro. A repulsa de João com Ana o assustava, o filho poderia não querer dar-lhe a bolsa, e Antônio sabia que era para ela. Entre os filhos, estava resolvido o que ficaria com quem, mas era sempre bom deixar claro, mesmo sabendo que eles não brigariam por causa do dinheiro.

Tomou o remédio, que desceu rápido pela garganta fazendo-o engasgar.

- Tudo bem, senhor?

- Sim, apenas desceu mal. Poderia me avisar, se o meu filho voltar? - Antônio olhou a enfermeira e viu que tinha olhos bonitos e um corpo curvilíneo.

- Apenas no horário de visita, que ele volta não é? - ele assentiu. - Então, não se preocupe. Ele entrará. - então ela o deixou sozinho mais um vez.

Olhar aquele quarto, de paredes verdes claras e uma janela que dava para edifícios, além da porta do banheiro branca, não estava ajudando. A televisão não chamava sua atenção, aquela programação de sábado era horrível e pela demora de João, o advogado não queria vir ou o filho não o encontrara.

O seu pedido veio antes, mas o infarto veio a calhar. Pelo menos algo bom poderia tirar disso, não sabia que João reagiria tão mal em relação a Ana e que ela, ficaria tão constringida em relação a ele. Em outra coisa acertou, aquele olhar de Ana para o filho no jantar, dizia que ela o achou bonito, mas como tinha a mente ativa, pensou que ele não iria querer vê-la nunca mais. Antônio, suspirou. Nunca fora religioso, mas rezava para aquele plano dar certo, para que o objetivo fosse atingido de vez.

Seria tão mais fácil se João a aceitasse de pronto, mas na vida nunca nada era fácil, nunca se tinha as coisas sem lutas e quando vinham de graça, poderiam não dar valor. Ele caiu no sono esperando o seu filho chegar com o advogado.

No horário de visita, João voltou com Siqueira. O senhor não queria trabalhar no sábado mas Antônio sendo dono da empresa, e seu chefe, não houve opção. Além da abordagem nervosa que João teve com ele. Às quatro da tarde, estava ele lá de novo e ansioso pelo seu pai. João estava...

- Podem subir - a recepcionista com uniforme azul marinho, liberou a entrada deles.

Indo para o elevador no corredor caramelo, João não parava de pensar no pedido de seu pai. Que loucura era aquela e de onde Antonio tirara, ele não sabia, mas tinha que por um fim nisso.

- Pai - João bateu na porta e entrou após ouvir uma confirmação lá dentro.

-Oi - falou Antônio se recostando na cama.

- Oi pai. Trouxe Siqueira, como você pediu. - Antônio olhou o advogado à vontade, de camisa comum e bermudas, com tênis. Confortável no verão carioca.

- Cadê os papéis? - perguntou Antônio.

- Tomarei nota e segunda, oficializo o que o senhor decidir. - o advogado de quarenta anos, falou tranquilo como se fosse sua a decisão.

- E se precisar de assinatura e eu morrer amanhã, tudo bem? - Antônio foi ríspido com ele.

- O senhor não vai morrer amanhã, pai - mas doeu mesmo em João. -Dá para esperar sim, não deve se estressar mais, muito menos aqui.

- Você tem razão - Antonio suspirou. - Anote tudo o que eu lhe disser, não se esqueça de nada. ouviu?

Enquanto o Siqueira assentia, João fechou a porta. As decisões do pai não eram segredo, mas não cabia a ninguém. Ouvir o pai falando de Ana de novo, o fizera quase pular da cadeira. Aquela mulher estava entrando demais em sua vida e nos seus assuntos. João suspirou ao lembrar do beijo e do café da manhã. Se ela tivesse dormido com o pai, o socorro viria mais rápido, mas aquela ideia estava começando a incomodar João.

Dispensando o doutor Siqueira, depois de ter anotado todo o assunto no bloquinho de bolsa, não antes de Antonio conferir o que estava anotado, João esperou um pouco mais.

- Pare de falar que vai morrer! Isso me ofende - repreendeu João o pai no cama.

- Não sei o dia de amanhã - Antonio falou e sorriu de lado - E nem você.

- Onde quer chegar? - João apertou os olhos.

- Quero que vá falar com Ana, hoje ainda. Converse com ela, de verdade, conhece-a.

- Pai, ainda estou decidindo se vou realizar o seu pedido ou não. - João sentou olhando o pai.

- Você não tem que decidir nada, eu já fiz isso. Agora vá. - falou Antônio para ele. - E não ouse discordar!

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