Capítulo 11

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-Impressionante - falou seu pai, ao olhar a televisão da cozinha. - Com tanto canal na televisão a cabo, vocês estão vendo isso?!

Ana e sua mãe estavam vendo a novela em um canal aberto. Sua mãe, sempre acompanhara a novela das sete e Ana também gostava, mas na verdade ela estava esperando a hora para ver o filme de estreia do canal a cabo. Seu pai no final de semana ocupava a sala, afinal ninguém conseguia acompanhá-lo quando pegava o controle e colocava no canal de esportes. Eram sete canais ao todo, que ele poderia escolher, quando não via vários ao mesmo tempo.

Enquanto via o tênis em um, mudava e acompanhava o futebol americano em outro. Isso quando não via basquete, vôlei e até surf. Ana tinha que admitir, as praias eram lindas.

Matheus tinha os canais de desenho, mas Ana preferia os de filme. Por isso esperava a hora para a estréia. Quando o seu telefone tocou, Ana atendeu distraída pela conversa de seus pais.

-Alô - falou ela, rindo.

-É só novela! - explicou sua mãe.

-Podiam estar vendo um filme, melhor que essa porcaria. - Retrucou seu pai.

-Oi Ana. Estou descendo a Alameda. O que eu faço? - Falou João, tentando se fazer ouvir por conta do falatório.

-Oi. Onde você está? - Falou Ana que fez sinal para os seus pais, que respeitaram enquanto ela ouvia.

-Na descida da ponte. - Falou ele, percebendo que o barulho parou.

-Ok. Continue até o horto e depois vire em frente a ele. Depois entra na segunda à direita e...

-Ele vem aqui? - Sua mãe perguntou. Como ela sabia de toda a história, perguntou com o olhar, se Ana não estava louca em lhe passar o endereço.

-Hum... João me aguarda no horto, mesmo. Estou indo para lá - disse por fim.

-Não é perigoso a essa hora? Você sozinha?

-Não. Tudo bem. Estou acostumada. - Ana riu e ficou comovida, com a sua preocupação.

O seu amigo para as horas de necessidade, nunca se importou com isso, contanto que ele não a esperasse muito, não importava se Ana ficava sozinha em plena noite, na Alameda.

Desligou o celular e foi trocar de roupa, pois já estava de pijama. Como ele não havia ligado mais cedo, achou que não viria mais.

-Vocês vão sair? - Perguntou sua mãe.

-Não, mãe. Ele quer apenas conversar, sobre Antônio. - Falou Ana pegando a roupa. Seu pai, que voltara para a sala depois de implicar com sua mãe, a olhou.

-Vai arrumada - falou quando a filha voltara à cozinha, usando um vestido simples. - Vai que sentam em algum lugar, num bar. Sei lá. - Ela tinha razão. Ana voltou ao quarto e pegou um short amarelo e uma blusa preta, com sandálias rasteiras.

Caso a previsão da mãe estivesse certa, estava vestida para ocasião. Ana falou com sua mãe que ficaria por ali mesmo, perto de casa e avisou a Matheus que não iria demorar. A última vez que saíra e deixara Matheus com seus pais, ele lhe mandara mais de cinquenta mensagens e ligara dez vezes.

Sempre ouvira falar que filho homem tinha ciúme da mãe, mas Matheus era demais. Mal virou a esquina e seu celular vibrou na bolsa." Não demora mesmo hein. Estou de olho!". Ela amava aquele garoto!

....

O que ela quis dizer com estava acostumada? Será que era ficar a noite na rua ou ficar esperando sozinha?

As duas questões não lhe agradavam. Ana não parecia ser dessas que saiam muito. E se saísse assim com certeza, estaria namorando e não, num site de namoro. Não, em um site em que conhecesse o seu pai. Esse lhe contara tudo o que sabia sobre Ana, tudo o que ela lhe contara.

Pelo o que tinha entendido, não fazia o perfil de uma menina baladeira. Ela tinha uma estante de livros só dela, em seu quarto. Pelo amor de Deus! Isso é coisa de nerd. Não se surpreenderia se ela estivesse escrevendo um livro.

Encontrou-a no horto, vestida ao mesmo tempo de uma forma que mostrava as suas pernas e não mostrava muito, não sendo vulgar.

Isso ele já sabia, nunca descreveria Ana como uma pessoa assim. Ele estava começando a gostar das pernas dela. Piscou os faróis, para ela saber que era ele e encostou, para que ela pudesse entrar no banco de passageiro.

-Oi - disse Ana ao sentar e bater a porta, um tanto forte.

-Oi - João não deixou de reparar em suas coxas. Lindas e grossas. Senhor! , João passou a mão na testa. - Onde podemos ir, para conversar melhor? Ou prefere ficar no carro mesmo? - Ana olhou para o trânsito a frente, com uma expressão que ele não soube identificar.

-Podemos ir a um restaurante aqui perto. Meu filho ficou com meus pais, eu não posso demorar. - Ela foi ao ponto, direta. Não esperava nada dele ou se esperava, não demonstrou. Ela indicou o caminho que devia pegar.

Conseguiu estacionar em frente a ele, mas não era um estacionamento próprio, era na rua. Saíram do carro e atravessaram a rua para entrarem. Era convidativo.

Tinha uma varanda grande com mesas de madeira e um balcão que tinha um forno a lenha. Tinha o ambiente interno com cadeiras confortáveis acolchoadas e azul, no fundo aquele suporte para comida, onde as pessoas se serviam no almoço à quilo. Como estava de noite, o balcão estava sem comida. Optaram por sentar lá dentro, porque estava calor e o ar condicionado estava ligado.

Quando sentaram, João foi direto ao assunto, enquanto o garçom deixava os cardápios.

-Meu pai está com tuberculose em grau avançado. Não sabemos se o infarto foi por conta disso, mas os pulmões estão fracos. Com a vida desregrada que leva, a doença apenas avançou e é contagioso. Por isso tenho que perguntar: até onde vocês foram? - Ana encarou João surpresa.

Levou um tempo para entender a pergunta. Antônio não parecia doente. Sempre se mostrou saudável e atlético, nas três vezes em que se viram e também nos telefonemas durante a semana. Percebeu que João aguardava uma resposta, rápida e sincera.

-Como assim? - Ela franziu a testa. Por que ele queria saber daquilo?

-Quero saber até onde vocês foram. Se - João deu uma pausa, para tossir. - ...fizeram... - fez um gesto com as mãos para explicar a pergunta.

Com Ana era difícil, se fosse outra menina a pergunta seria feita de forma mais tranquila, direta. Mas com Ana era diferente. O que tanto pertubava ele? Se ela tivesse feito alguma coisa com o seu pai seria correto, já que era sua acompanhante. Mas porquê sentia-se incomodado?

Agora que começou, teria que ir até o fim.

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