-Impressionante - falou seu pai, ao olhar a televisão da cozinha. - Com tanto canal na televisão a cabo, vocês estão vendo isso?!Ana e sua mãe estavam vendo a novela em um canal aberto. Sua mãe, sempre acompanhara a novela das sete e Ana também gostava, mas na verdade ela estava esperando a hora para ver o filme de estreia do canal a cabo. Seu pai no final de semana ocupava a sala, afinal ninguém conseguia acompanhá-lo quando pegava o controle e colocava no canal de esportes. Eram sete canais ao todo, que ele poderia escolher, quando não via vários ao mesmo tempo.
Enquanto via o tênis em um, mudava e acompanhava o futebol americano em outro. Isso quando não via basquete, vôlei e até surf. Ana tinha que admitir, as praias eram lindas.
Matheus tinha os canais de desenho, mas Ana preferia os de filme. Por isso esperava a hora para a estréia. Quando o seu telefone tocou, Ana atendeu distraída pela conversa de seus pais.
-Alô - falou ela, rindo.
-É só novela! - explicou sua mãe.
-Podiam estar vendo um filme, melhor que essa porcaria. - Retrucou seu pai.
-Oi Ana. Estou descendo a Alameda. O que eu faço? - Falou João, tentando se fazer ouvir por conta do falatório.
-Oi. Onde você está? - Falou Ana que fez sinal para os seus pais, que respeitaram enquanto ela ouvia.
-Na descida da ponte. - Falou ele, percebendo que o barulho parou.
-Ok. Continue até o horto e depois vire em frente a ele. Depois entra na segunda à direita e...
-Ele vem aqui? - Sua mãe perguntou. Como ela sabia de toda a história, perguntou com o olhar, se Ana não estava louca em lhe passar o endereço.
-Hum... João me aguarda no horto, mesmo. Estou indo para lá - disse por fim.
-Não é perigoso a essa hora? Você sozinha?
-Não. Tudo bem. Estou acostumada. - Ana riu e ficou comovida, com a sua preocupação.
O seu amigo para as horas de necessidade, nunca se importou com isso, contanto que ele não a esperasse muito, não importava se Ana ficava sozinha em plena noite, na Alameda.
Desligou o celular e foi trocar de roupa, pois já estava de pijama. Como ele não havia ligado mais cedo, achou que não viria mais.
-Vocês vão sair? - Perguntou sua mãe.
-Não, mãe. Ele quer apenas conversar, sobre Antônio. - Falou Ana pegando a roupa. Seu pai, que voltara para a sala depois de implicar com sua mãe, a olhou.
-Vai arrumada - falou quando a filha voltara à cozinha, usando um vestido simples. - Vai que sentam em algum lugar, num bar. Sei lá. - Ela tinha razão. Ana voltou ao quarto e pegou um short amarelo e uma blusa preta, com sandálias rasteiras.
Caso a previsão da mãe estivesse certa, estava vestida para ocasião. Ana falou com sua mãe que ficaria por ali mesmo, perto de casa e avisou a Matheus que não iria demorar. A última vez que saíra e deixara Matheus com seus pais, ele lhe mandara mais de cinquenta mensagens e ligara dez vezes.
Sempre ouvira falar que filho homem tinha ciúme da mãe, mas Matheus era demais. Mal virou a esquina e seu celular vibrou na bolsa." Não demora mesmo hein. Estou de olho!". Ela amava aquele garoto!
....
O que ela quis dizer com estava acostumada? Será que era ficar a noite na rua ou ficar esperando sozinha?
As duas questões não lhe agradavam. Ana não parecia ser dessas que saiam muito. E se saísse assim com certeza, estaria namorando e não, num site de namoro. Não, em um site em que conhecesse o seu pai. Esse lhe contara tudo o que sabia sobre Ana, tudo o que ela lhe contara.
Pelo o que tinha entendido, não fazia o perfil de uma menina baladeira. Ela tinha uma estante de livros só dela, em seu quarto. Pelo amor de Deus! Isso é coisa de nerd. Não se surpreenderia se ela estivesse escrevendo um livro.
Encontrou-a no horto, vestida ao mesmo tempo de uma forma que mostrava as suas pernas e não mostrava muito, não sendo vulgar.
Isso ele já sabia, nunca descreveria Ana como uma pessoa assim. Ele estava começando a gostar das pernas dela. Piscou os faróis, para ela saber que era ele e encostou, para que ela pudesse entrar no banco de passageiro.
-Oi - disse Ana ao sentar e bater a porta, um tanto forte.
-Oi - João não deixou de reparar em suas coxas. Lindas e grossas. Senhor! , João passou a mão na testa. - Onde podemos ir, para conversar melhor? Ou prefere ficar no carro mesmo? - Ana olhou para o trânsito a frente, com uma expressão que ele não soube identificar.
-Podemos ir a um restaurante aqui perto. Meu filho ficou com meus pais, eu não posso demorar. - Ela foi ao ponto, direta. Não esperava nada dele ou se esperava, não demonstrou. Ela indicou o caminho que devia pegar.
Conseguiu estacionar em frente a ele, mas não era um estacionamento próprio, era na rua. Saíram do carro e atravessaram a rua para entrarem. Era convidativo.
Tinha uma varanda grande com mesas de madeira e um balcão que tinha um forno a lenha. Tinha o ambiente interno com cadeiras confortáveis acolchoadas e azul, no fundo aquele suporte para comida, onde as pessoas se serviam no almoço à quilo. Como estava de noite, o balcão estava sem comida. Optaram por sentar lá dentro, porque estava calor e o ar condicionado estava ligado.
Quando sentaram, João foi direto ao assunto, enquanto o garçom deixava os cardápios.
-Meu pai está com tuberculose em grau avançado. Não sabemos se o infarto foi por conta disso, mas os pulmões estão fracos. Com a vida desregrada que leva, a doença apenas avançou e é contagioso. Por isso tenho que perguntar: até onde vocês foram? - Ana encarou João surpresa.
Levou um tempo para entender a pergunta. Antônio não parecia doente. Sempre se mostrou saudável e atlético, nas três vezes em que se viram e também nos telefonemas durante a semana. Percebeu que João aguardava uma resposta, rápida e sincera.
-Como assim? - Ela franziu a testa. Por que ele queria saber daquilo?
-Quero saber até onde vocês foram. Se - João deu uma pausa, para tossir. - ...fizeram... - fez um gesto com as mãos para explicar a pergunta.
Com Ana era difícil, se fosse outra menina a pergunta seria feita de forma mais tranquila, direta. Mas com Ana era diferente. O que tanto pertubava ele? Se ela tivesse feito alguma coisa com o seu pai seria correto, já que era sua acompanhante. Mas porquê sentia-se incomodado?
Agora que começou, teria que ir até o fim.
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Sonho Realizado
RomanceCapa de @RosieSenna Ana é uma mulher comum, mãe solteira e guerreira, que um dia se arrisca em um site de relacionamento. Sua vida muda ao conhecer Antônio, que além dos mimos, lhe dará oportunidades que antes nunca tivera. Mas tudo pode acontecer...