Capítulo 15

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"João sinto muito pela nossa discussão. Saiba que eu te amo muito e tudo o que você precisar, pode contar comigo. Mas falar do pai, me magoa, e ver essa sua dedicação a ele, ainda mais.
Não fique igual a ele, certo? Não se deixe seduzir pelas facilidades do dinheiro.

Beijos, te amo
Joana Ferreira."

João amava a irmã de verdade. E mesmo a distância, ela sabia como ele estava mal pelo pai e que tinha aprendido tudo com ele. Leu o e-mail, depois que subira para seu apartamento, mas não respondeu.

Além de cansado, sua cabeça estava em Ana, naquele beijo do hotel e na viagem que podia acontecer de tudo.

....

No dia seguinte, Ana pegou Matheus para passearem. Afinal era feriado, e pela primeira vez estava com dinheiro no final de novembro.

Matheus chegara às dez e disposto para o passeio. Um pouco antes, Ana contou o dinheiro que João lhe dera. O que havia na cabeça de homens ricos? Mil reais em roupas era demais. Apenas um dia fazendo figuração ao lado dele e teria que gastar isso tudo! E depois do que ouvira, bem que poderia devolver o dinheiro de uma forma merecida.

Ms pensando bem, comprar óculos escuros também, fato que lembrou ao entrar no ônibus.

Foi a loja e complementou as roupas que já havia comprado com Antônio. Só precisou de algumas peças e uma mala maior. Comprou roupas para Matheus também, já que perdia as deles em meses, porque estava se fase de crescimento.

Assim gastou o dinheiro, mesmo achando um absurdo, pagar sessenta reais por um óculo escuro.

Como sempre, passeou com Matheus e passou numa loja de brinquedos e dessa vez um comprou para ele. Depois lancharam e foram para casa.

Fez um levantamento das roupas para a viagem, quando chegou em casa. Colocou-as na mala, não as usaria pois elas tinham finalidade. Estrearia todas em Búzios.

Guardou as de Matheus, prometendo a si mesma que nas férias arrumaria o seu armário e daria algumas roupas que ele perdera. Assim também, como no armário dela.

Depois foi armar a árvore de natal em sua casa. Com a ajuda de todos, porque os picas-picas enrolados há um ano era difícil esticar sem ajuda, também embrulhou os presentes e os colocou embaixo dela.

No resto do dia, relaxou. Decidiu pegar os relatórios dos alunos no dia seguinte. Fim de ano era sempre um estresse, muitas coisas para fazer. Tinha que pensar nos murais de sua sala, ajudar a arrumar a escola e treinar as crianças para a festa de fim de ano.

Geralmente escolhia músicas prontas e colocava uma coreografia, fácil para as crianças. A festa teria a presença dos pais e do Papai Noel, o melhor momento para as crianças.

Sempre trabalhara com a hipótese de que daria tudo errado: as crianças podiam não dançar ou chorar, ou, ao ver os pais, querer ficar com eles. Então, em seu pensamento ela poderia dançar com vários pais, com seus filhos no colo ou sozinha, se os pais tivessem vergonha também.

No fim, sempre dera certo! A turma dançava e arrancava suspiros da platéia e palmas calorosas de seus pais. Como Ana era professora de educação infantil, e sempre pegara as turmas de maternal ou primeiro período, sua turma sempre faria bonito, mesmo se ficassem parados com o dedo no nariz. Se não chorassem e ficassem ao seu lado, já estaria no lucro.

Não mentira para Antônio, amava o seu trabalho, mesmo ouvindo que era uma loucura. Uma vez, na escola onde trabalhara no berçário, uma moça começou o primeiro dia de trabalho. Na hora do almoço, um bebê começou a chorar e, como efeito dominó, todos choraram juntos. Normal para bebês de até um ano. Enquanto duas davam almoço, outra acalmava os outros oito, distraindo-os e brincando com eles.

A moça que começara naquele dia, foi almoçar e não voltara mais. A diretora foi contar o que havia acontecido. Ela disse que a menina, não aguentava o choro e foi embora.

Todos riram muito. Quem não aguentava choro, não podia trabalhar com criança, ainda mais as pequeninas. Ana ria toda vez que lembrava da história, mesmo tendo acontecido há anos atrás.

Como a semana era curta, trabalhou tranquilamente, mas dessa vez não esqueceu do compromisso. O casamento de seu primo seria no domingo, então daria para ela viajar e voltar para o casamento.

Levantou cedo na sexta e conferiu as roupas que colocara na mala. Estava de bom tamanho, não precisaria de mais. Colocou a roupa que viajaria por cima da mala, iria de carro então não se preocupou em ir confortável.

Se, por exemplo, fosse de ônibus, calçaria um tênis e meias, shorts e blusa solta. Optou então, por um vestido e sandálias, e se sentisse frio, o que provavelmente não aconteceria, colocaria um casaco leve que ficaria a mão. Tudo certo para a viagem, menos coração.

Deveria blindá-lo para cada sorriso, cada olhar avaliativo e até mesma uma palavra de duplo sentido.

Como chegaram a isso ela não sabia, mas deveria tomar cuidado. Não poderia se apaixonar por um homem que achava que ela fosse interesseira ou prostituta. Mesmo estando nesse delicada posição.

Tinha que manter os pés no chão, devia avaliar bem a situação. João não gostava dela e tinha quase certeza, que Antônio lhe pedira para que ela fosse sua acompanhante, pelo menos enquanto estivesse no hospital.

Ele tinha opções, meninas mais bonitas, como Aline; que poderia viajar com ele sem preocupação, de um filho. Alem de serem da mesma classe social, tendo a mesma educação e oportunidades. Que Ana tanto lutar para conseguir.

Entregou Matheus ao pai, sempre com a mesma conversa fria, porém ela dessa vez não percebeu. Estava pensando em João e fantasiando o namoro, curtição de festas e viagens, com seu filho junto, claro.
Coração bobo, só nos faz entrar em encrencas.

-Tchau, mamãe. - Matheus deu-lhe um beijo e ela retribui com um abraço.

Ele foi feliz e Ana não sabia o que fazer com aquele pensamento. Melhor não criar expectativas, assim acontecesse o que acontecer, seria melhor para ela. Ou manter o pensamento no prejuízo, que tudo poderia dar errado...

"Vamos nos ver hoje?". Perguntou Ricardo, o seu amigo de todas as horas.

Ana verificou o celular, à espera de alguma mensagem do João, mas viu a dele.

"Não dá. Tenho compromisso amanhã e vou me ajeitar agora. A gente se fala outro dia."

Ana respondeu e riu sozinha. Pela primeira vez, não se preocupara com ele.

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