Confusão

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- Cass é pra você. – Minha mãe gritou. Eu recém tinha almoçado e resolvi ler um pouco, corri até a porta e parei, corei instantaneamente por estar quase de pijama. – Quanto tempo que não te vejo. – Minha mãe deu espaço para Erick entrar.

- A senhora está bonita.- Falou.

- Ah querido, você está lindo com esse cabelo. – Minha mãe sorriu. – Vou deixar vocês a sós...- Deu meia volta e subiu para o quarto.

- A que devo a honra? – Pedi.

- Você esqueceu? – Pediu. – É esqueceu.

- Ah claro. – Falei caindo a ficha.- Desculpe. Vou me trocar e já volto pode ser?

- Tudo bem. – Corri para o quarto, fiquei revirando minhas roupas e as vesti, fui até o banheiro escovar meus dentes e arrumar minha juba. Quando voltei para meu quarto levei um susto ao ver Erick futricando nele. – Você ainda tem essa foto? – Pegou uma foto de nós dois quando estávamos na festa de aniversário de cinco anos dele.

- Tenho. – Respondi por mais óbvio que fosse.

- Eu era rebelde. – Riu. – Sr. Jones! Você tem essa foto também Cass não acredito. Nunca mais o encontrei...

- Que pena.

- Nossa quantas lembranças...

- Você não tem fotos espalhadas pelo seu quarto não?

- Tenho sim, mas preciso organizar. Está tudo uma bagunça ainda.

- Entendo. – Sorri fraco. – Podemos ir. – Falei.

- Ótimo. – Disse.

Pegamos um ônibus até o centro. Me sentei na janela e fiquei olhando a vista. Ambos ficamos calados durante o trajeto. Descemos em seguida e então chegamos na sorveteria. Peguei um potinho e fui colocando os sabores. No fim deu uma montanha enorme de sorvete. Pude ver que Erick pegou sorvete que nem eu. Pagamos os sorvetes e fomos nos sentar em uma mesa do lado de fora.

- Como foi em Miami?- Quebrei o silêncio.

- Divertido, mas confesso que senti falta daqui. E você fez algo de bom durante esse tempo?

- Ah nada muito inovador. Estou deixando as coisas fluírem...

- Eu nem acreditei que voltaria para cá, depois de tanto tempo. – Falou. – Quando minha mãe falou que voltaríamos para Cuba pensei em você. – O olhei. – Na verdade, é, bom afinal nós brigamos aí eu fui.

- Eu sei. Me lembro de tudo. – Falei.

- Você sabe que não foi porque eu quis. – Disse.

- Sim Erick, eu sei, mas naquela época eu não entendi.

- Você nem imagina como doeu ouvir aquelas suas palavras...- O encarei.

- Quais?

- "Eu te odeio"...

- Eu tinha cinco anos e você estragou o Cody, é claro que eu falaria isso. – Ri.

- Cass você ficou aqui e criou mais raiva de mim sei disso. – Falou. – Percebo só pelo jeito que me olha.

- Erick chega. – Falei. – Eu passei 12 anos sem você e agora você vem e quer fazer as pazes? – Pedi irônica. – Você nunca me procurou, nem uma mensagem, nada...

- Cass...

- Você não imagina que durante os primeiros anos eu senti tanta falta de você. Agora eu tenho que conviver com a última lembrança que tenho de você. Arrebentando a cabeça do Cody!

- Eu sei disso, e a última lembrança que tenho de você é quando você estava chorando e dizendo que me odiava. Daí fui embora...

- E nunca mais me procurou! – Gritei.

- Nem você! – Exclamou.

- Você tinha que vir atrás de mim, você assassinou meu urso.- As pessoas já olhavam para nós dois.

- Era só um urso. – Falou baixo. Essa foi a gota d'água. Levantei e despejei todo meu sorvete no cabelo dele.

- Não era só um urso. – Falei e fui embora deixando ele todo sujo de sorvete. Eu já estava quase dobrando a esquina quando meu pulso foi segurado, ele me puxou e bati com tudo em seu peito, minha respiração estava rápida. Ele ficou me encarando e eu tentava olhar qualquer outra coisa, menos para seus olhos, acabei focando nos lábios, pior ainda, olhei para seu cabelo que tinha um pouco de granulado. Ele tinha encostado seus lábios nos meus e então me afastei dele. – Erick! – O empurrei. – Eca, não.

- Mas Cass...

- Chega, eu vou embora. – Olhei para o lado. – Só fica longe de mim.

- Deixa que eu te levo, por favor.

- Não precisa, quero ficar sozinha. – Um ônibus estava passando e corri até ele. Entrei assim que a porta se abriu e deixei Erick. Me sentei na janela e quando olhei para fora ele estava correndo atrás do ônibus, o motorista parou e então logo vi ele entrando. Mas que merda! Ele se sentou ao meu lado e não disse nada, apenas ficou ali, calado. Aos poucos as pessoas iam descendo em seus destinos e logo foi a nossa vez. Nos levantamos e saímos em seguida. Caminhei com passos longos para ficar o mais longe dele possível, claro que não deu certo. Parei na frente da porta da minha casa. Respirei fundo.

- Desculpa pelo sorvete. – Falei.

- Não foi tão ruim assim, agora estou delicioso. – Riu. – Cass desculpa por tudo, e o tudo é sobre o bei...

- Já entendi, não rolou nada igual, nunca rolou. – Falei.

- Eu me precipitei. Foi um instinto...

- Hum.

- Ei são nossas marcas? – Apontou para uma parte da varanda onde tinha vários riscos indicando nossas alturas. – Sempre fui mais alto. – Riu.

- Mas eu cresci. – Falei.

- Eu continuo sendo mais alto.

- Enfim...Vou entrar...- Indiquei.

- Tudo bem, até amanhã. – Abri a porta devagar e então entrei. Fui para meu quarto e fiquei remoendo a tarde de hoje, foi intenso. Eu não estava gostando nem um pouco disso que ele despertava em mim. Fomos amigos durante nossa infância e é estranho nós quase termos nos beijado. Acho que estou ficando louca, isso mexe comigo, Cassie foco, vocês são só amigos não invente coisas! Passei os dedos nos meus lábios e onde ele tinha tocado parecia que formigava, se algo rolasse seria meu primeiro beijo. Mais um dos motivos para ser estranho meu primeiro beijo ser com meu amigo de infância...Preciso me afastar dele, Erick chegou não tem nem dois dias e olha como já estou.

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