Capítulo 108

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Thiago

Esses quinze dias pareciam uma eternidade para passar, eu sei que posso parecer insensível desejando que passe logo, tendo em vista que quanto mais os dias passem, mas perto chega o dia da morte de Carol e isso é triste, porque nesses dois anos e meio que fiquei ao lado dela desde a descoberta da sua doença, eu me tornei melhor como pessoa, eu aprendi a ter mais paciência, a respirar fundo e pensar antes de fazer ou falar alguma coisa que ofendesse, e eu a tratei bem, consegui faze-la sorrir nesse tempo, mesmo lembrando de tudo que ela me fez passar a todo instante, eu exerci a minha função de marido perfeitamente, só que é impossível conter a ansiedade, sabendo que logo eu estarei frente a frente a mulher da minha vida, que não vejo a um ano e meio, aquele dia lá na Emily, na véspera do meu aniversário, foi uma coincidência do destino, e só de vê-la pela tela do computador já senti meu mundo parando, imagina vê-la frente a mim? Não sei se conseguirei conter o ímpeto de beija-la.

É início de noite e Carol está descansando, passarei a noite com ela no hospital, ela tem piorado cada dia mais, hoje chorou o dia todo que queria ver Giovane, mas não podemos trazer ele aqui no hospital, então marquei com Tita para fazer uma chamada de vídeo lá pelas nove da noite, enquanto ela dorme, estou sentado na poltrona próximo a janela, lendo um livro de cabeceira dela, para passar o tempo, chama-se, o golpe do destino, que conta a história de um médico de sucesso, rico e arrogante, que descobre ter um câncer na garganta, isso leva ele a ter uma reflexão profunda sobre sua vida. O convívio com outros pacientes em igual condição o faz despertar para a importância do afeto e da compaixão. É uma história bem emocionante, e ao mesmo tempo que sensível, tem doses de humor.

Estava envolvido na leitura, quando Carol começa a reclamar de dor e de tontura, verifiquei seus batimentos e pressão e antes que a enfermagem pudesse chegar ela teve outra convulsão. Os médicos dela correram e fizeram o necessário e quando ela já estava devidamente medicada e calma, me sentei ao lado dela e peguei a sua mão.

 Os médicos dela correram e fizeram o necessário e quando ela já estava devidamente medicada e calma, me sentei ao lado dela e peguei a sua mão

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-Suas convulsões estão cada vez mais frequentes.

-É, por causa do aumento da pressão intracraniana, já não aguento mais essas drenagens, e não quero sedativos, quero estar lucida para as revelações, mas sinto que não tenho muito tempo.

-Por enquanto o Manitol e a solução salina hipertônica, estão conseguindo reduzir a pressão, mas daqui a pouco serão necessários os sedativos Carol, você pare de resistir aos tratamentos, e você tem certeza sobre essas tais revelações? Porque não deixar as coisas como estão? Ou fale só pra mim se tem a ver comigo, tá vendo que dependendo do que você falar, seus pais e os meus pais podem não te perdoar? Você quer isso?

-Eu não posso ir para o tumulo como a santa Carol que todo mundo pensa que eu sou, eles têm que saber que se enganaram comigo.

-Ah, Tita fazendo chamada de vídeo. –Ela sorriu e atendemos, ela se emocionou ao ver o filho, e tivemos que desligar porque ela teve outra convulsão e teve que ser levada para fazer drenagem do líquido cerebral. Na manhã seguinte ela estava com muita dor, muito ruim e faltavam ainda três dias para as pessoas que ela queria chegarem, estávamos com medo de que ela não aguentasse, os pais dela até tentaram convencê-la a não fazer revelação nenhuma, não precisava mexer com coisas do passado, ou então que ela falasse só pra nós, mas não ela queria que Matheus e Giovana estivessem presentes. Contra a vontade dela os médicos sedaram ela na tentativa de amenizar as dores e reduzir a ansiedade que, em geral, agrava o quadro pois aumenta a pressão arterial, mas no dia das tais revelações ela estaria lucida, pedi isso aos médicos, porque se é um desejo dela, tenho que cumprir.

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