CAPÍTULO 8

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Querido Kurt Cobain,

Passei o fim de semana inteiro pensando se Natalie e Hannah se esqueceriam de mim até segunda, mas hoje, na aula de inglês, Natalie me passou um bilhete que dizia PÉSSIMO!, com uma seta apontada para o garoto ao meu lado, que estava desenhando peitos no poema da aula. Olhei para ela e sorri para indicar que tinha entendido a piada. Na hora do almoço, Natalie e Hannah acenaram para que eu me juntasse a elas. Meu coração acelerou, joguei o saco com o sanduíche fora e fui até as duas.

Hannah, que estava lambendo o pozinho do Doritos que tinha ficado nos dedos, me passou o pacote de salgadinho.

Tentei não olhar, mas, depois de um tempo, meus olhos encontraram Sky.

Notei que ele me viu com minhas novas amigas. E me perguntei se o sol também batia especificamente em mim, como acontecia com elas. Imaginei a luz se tornando mais forte e me permiti encarar por mais tempo do que deveria.

Hannah me flagrou.

- Para quem você está olhando?

- Ninguém - murmurei. Mas meu rosto ficou quente e provavelmente vermelho, entregando a verdade.

Ela insistiu.

- Quem? Conta!

Eu não queria arriscar perder minhas novas amigas, então disse:

- Ah, o nome dele é Sky.

Os olhos de Hannah o encontraram, e ela disse:

- Hummm... Sky. O garoto misterioso.

- Como assim? - perguntei.

Hannah deu de ombros.

- Ele é um desses caras que todo mundo sabe quem é, mas ninguém conhece de verdade. De algum jeito, é popular sem ter nenhum amigo. Entrou na escola este ano. Está no terceiro. E é lindo. Eu ficaria com ele.

Natalie cutucou a amiga com o ombro.

- Hannah!

- O quê? Eu não quero dizer que vouficar com ele. Já é da Laurel.

Fiquei vermelha de novo. Murmurei um "não é".

Hannah olhou sobre o ombro e disse:

- Vamos dar um jeito. Ele já está olhando para você.

Quando virei, Sky realmente estava.

Percebi que essa era eu. Bem ali, sentindo um calor entre as pernas cobertas pelo jeans dos tempos do fundamental que hoje de manhã transformei em um shorts curto, mas suficientemente comprido para ninguém da escola reclamar, e com a camisa branca e prateada de May que refletia a luz do sol.

Era como se uma banda invisível tivesse começado a tocar a trilha sonora da minha nova vida. Ouvi você. E me perguntei se era isso que May sentia quando estava no ensino médio. Deve ter sido, porque era a música dela.

Todas as canções que ouvimos juntas tocaram de uma vez. O mundo que ela deixou para trás era este. Controlei meu rubor, desviei os olhos de Sky, que ainda me olhava, e virei para Natalie e Hannah. Ri alto, empolgada com a pessoa misteriosa que eu poderia me tornar. "Hello, hello, hello."

Beijos,

Laurel

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora