CAPÍTULO 65

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Querida Judy,

Minha mãe chegou quatro dias atrás. Claro que ela tinha que chegar no último fim de semana antes de as aulas acabarem. Parte de mim gostaria de estar com meus amigos, mas eu estava no aeroporto com a tia Amy, esperando sentada e vendo as malas na esteira, nervosa e amassando o vestido.

Então vi minha mãe descer pelo elevador como se chegasse de outra vida. Ela ficava trocando a bolsa de um ombro para o outro, a mesma bolsa em que levava guloseimas para comer escondido no cinema quando éramos crianças. Seu cabelo castanho-claro estava preso. Quando seus olhos encontraram os meus, ela acenou e abriu um grande sorriso. Então tivemos um momento desconfortável, pois ainda não estávamos perto o bastante para dizer alguma coisa. Não sei se eu devia correr para abraçá-la, mas fiquei congelada.

Quando ela estava de pé diante de mim, levantei e deixei que me puxasse para si. Ela tinha o mesmo cheiro, de amaciante e do perfume de lavanda que sempre passa atrás da orelha, e mais alguma coisa — um cheiro de conforto, de pegar no sono.

— Laurel — ela disse. — Senti tantas saudades.

— Eu também, mãe.

Então ela e a tia Amy se abraçaram, e ficamos paradas, esperando a mala da minha mãe e falando sobre amenidades, meio desconfortáveis. Ela perguntou sobre a escola e se eu estava empolgada que estivesse quase acabando; eu perguntei como tinha sido o voo. Como se não tivéssemos ficado um ano sem nos vermos. Parecia que havia um precipício entre nós, o tempo que havia passado.

E continuou assim por uns dias. Como se estivéssemos naquele espaço do aeroporto. Não nos sentíamos mais em casa nem tínhamos ido a outro lugar.

Na maior parte do tempo, fiquei no quarto, estudando para as provas finais, e minha mãe se manteve ocupada, como se compensasse um ano de funções maternas perdidas. Ela preparou waffles para o café da manhã, sanduíches com pão perfeitamente torrado e fez suas famosas enchiladas para a tia Amy e para mim no jantar. Minha tia não parou de falar, na verdade. Ela contou como eu estava indo bem em ciências e discursou sobre como minha mãe criou uma boa filha, porque eu sempre ajudava com a louça. Minha mãe fez as perguntas mais básicas. “Qual foi sua matéria favorita este ano?” Parecia que estávamos pisando em ovos. Passamos três dias inteiros sem tocar no nome de May.

E então, hoje de manhã, enquanto minha mãe servia um waffle para mim, com a calda distribuída nos quadrados, eu disse:

— Sem querer ofender, mãe, está tudo ótimo e tal, mas eu agora como cereal no café da manhã. Quer dizer, tive que fazer todas essas coisas sem você por um ano. Não adianta se esforçar para ser a melhor mãe do mundo.

Os olhos dela encheram de lágrimas, e imediatamente me senti mal.

— Estou tentando, Laurel — ela disse.

— Eu sei — eu disse, com cuidado, e comecei a cortar o waffle seguindo as linhas.

Mas era estranho. Se isso tudo era tão importante, como ela tinha ficado tanto tempo longe?

Minha mãe enxugou os olhos e disse:

— Tive uma ideia. Quer sair para jantar hoje? Só nós duas?

Concordei. Então, depois da aula, minha mãe e eu fomos para o 66 Diner e pedimos hambúrguer, batata frita e milk-shake de morango. Eu estava me esforçando.

— Como é lá no rancho? — perguntei.

— É bonito. E calmo.

Eu ainda não conseguia imaginar.

— Tem palmeiras e tal?

Minha mãe riu um pouco.

— Não, no rancho, não. Mas na cidade tem.

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora