CAPÍTULO 41

29 3 0
                                    

Querida Amelia Earhart,

Fico pensando em você, tendo vislumbres de como era estar no seu avião na manhã antes do seu desaparecimento. Você já tinha voado mais de trinta e quatro mil quilômetros na jornada pelo mundo, só faltavam uns onze mil para atravessar a extensão do Pacífico. Você chegaria a uma ilha chamada Howland. Do ar, era difícil distinguir o formato das nuvens.

O avião não tinha combustível suficiente, e os mapas estavam errados. A comunicação por rádio não funcionava direito. Ao mandar a mensagem para a guarda costeira de Howland — “Devemos estar acima de vocês, mas não conseguimos ver. O combustível está baixo” —, você entrou em pânico? Eles responderam vinte minutos depois, mas não sabiam se você tinha ouvido. E receberam sua última mensagem, cheia de interferência, uma hora depois. Eles mandaram sinais de fumaça, mas nunca vamos saber se você estava perto o bastante para vê-los. Mandaram equipes de busca, e estamos procurando desde então. O fato de ainda procurarem, setenta e cinco anos depois da sua morte, prova como você era amada. Mas não deixo de imaginar o que seria diferente se finalmente encontrássemos uma resposta.

Hoje é segunda-feira, meu primeiro dia na escola desde o término com Sky. Meu pai disse que achava que eu devia marcar uma consulta com um médico, e eu sabia que não podia fingir estar doente para sempre. Então, ontem, quando chegou a hora de ir para a casa da tia Amy, disse que estava melhor. Hoje de manhã coloquei um moletom que eu não usava desde o oitavo ano e prendi o cabelo. No almoço, não tive vontade de comer meu sanduíche nem as bolachas. Fui até nossa mesa e fiquei sentada com Natalie e Hannah. Antes que começassem a fazer perguntas, eu disparei:

— Ele terminou comigo.

Elas começaram um coro de “Meu Deus! Você está bem? O que aconteceu?”. Quando uma coisa muito ruim acontece, a segunda pior coisa são as pessoas sentindo pena de você. É a confirmação de que algo está muito errado. Tentei conter as lágrimas, mas elas vieram mesmo assim.

Natalie e Hannah logo me abraçaram, e Hannah colocou minha cabeça no ombro dela e me fez cafuné.

— Ele não sabe o que está perdendo. Você é a melhor, a garota mais linda do mundo. Que idiota.

— Não — eu disse, com a voz abafada pela camisa dela. — Acho que o problema sou eu.

— O quê? Não é, não. Não é.

— Não vou ao coral hoje — eu disse a Hannah. — Não quero ver Sky.

— Não faz mal, está tudo bem — ela disse. — Não precisamos ir. Podemos cabular.

Então, na última aula, fugimos da escola, andando pela neve que derretia no asfalto, e fomos até o mercadinho comprar algo para tomar na casa da Natalie antes que a mãe dela voltasse do trabalho. Subimos no telhado, nos enrolamos em cobertores e dividimos a garrafa de licor de canela. Hannah tentava me fazer rir e já pensava em um novo namorado para mim, sugerindo amigos de Kasey, o que fez Natalie se encolher. Falou até de Evan Friedman.

— Ele e Britt terminaram de novo, e sei como ele olha para você.

Mas eu nem estava prestando atenção ao que diziam. Só havia um pensamento, que ficava se repetindo na minha cabeça. Ela morreu. E então aconteceu. Talvez porque eu era grata a Natalie e Hannah, ou porque estava cansada e triste demais para continuar tentando ser como ela — eu simplesmente falei em voz alta:

— Minha irmã morreu.

Tudo ficou em silêncio por um momento. Finalmente, Hannah assentiu.

— Eu sei — ela disse. — Sinto muito.

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora