CAPÍTULO 7

77 9 0
                                    

Querida Amelia Earhart,

Quando chegamos ao festival, pareceu tão legal como quando eu era criança, e tão nojento como deveria ser - várias barracas vendendo chapéus de cowboy e camisetas estampadas, e um cheiro forte de comida.

Estávamos morrendo de fome, e, quando Natalie e Hannah disseram que queriam comer, foi fácil falar a mesma coisa. Para me enturmar.

Na fila para comprar batata frita, Hannah começou a conversar com um garoto na nossa frente. Ele estava de regata branca, cabelo penteado para trás com gel e olhava como se quisesse mordê-la. Hannah tem cabelo bem liso, ao menos foi o que ela me disse, mas o enrola todo dia. Os cachos caem emoldurando o rosto dela, e seus olhos grandes dão a impressão de que está sempre vendo algo incrível. Os lábios parecem estar sempre sorrindo por causa de alguma coisa que ninguém mais notou.

Estava preocupada porque não tinha dinheiro, pensando em dizer que não tinha tanta fome no fim das contas, mas, quando chegou nossa vez na fila, Hannah deixou o cara pagar para todas. Ele me deixava meio nervosa, dando em cima da Hannah daquele jeito. Achei que ia fazer alguma coisa, mas, quando pegamos as batatas, ela apenas agradeceu e se afastou, e o sujeito ficou ali, olhando. Hannah estava se exibindo, mas Natalie não pareceu impressionada. Ela só comentou:

- Nossa, quanto gel.

Depois que comemos, fomos até um canto fumar. Eu nunca tinha fumado e não sabia como fazer. Já tinha visto May fumar, então tentei imitá-la. Mas acho que a inexperiência ficou óbvia. Natalie riu tão alto que começou a tossir. Ela disse:

- Não... - E então me mostrou como segurar e levar a fumaça aos pulmões. - É assim que se traga.

Aquilo me deixou tonta e meio enjoada. Quando terminamos, eu saí andando em zigue-zague.

Então, quando Natalie e Hannah disseram para irmos aos brinquedos, eu não sabia ao certo se queria. Em um deles, que era um pouco mais caro, você é suspenso por um elástico a uma altura maior que a de qualquer prédio da cidade. Então o soltam, e você sai voando sobre a feira toda. Eu disse a elas que não tinha dinheiro; Hannah disse que tinha um pouco e contou que trabalha algumas noites por semana como recepcionista de um restaurante chamado Japanese Kitchen.

- Ela é tão bonita que foi contratada mesmo tendo só quinze anos - Natalie comentou, sorrindo para Hannah.

- Cala a boca - disse Hannah. - É porque viram que eu sou uma ótima funcionária.

Quando contou o dinheiro, Hannah viu que não era o suficiente, mas disse que, se a gente ficasse de papo com o cara que controlava o brinquedo, ele nos deixaria pagar menos. Quando chegou nossa vez, meu coração estava acelerado. Parte de mim esperava que o cara dissesse não, porque, sinceramente, eu estava apavorada. Mas Hannah deu seu melhor sorriso, e ele concordou em dar um desconto. Pensei em você e em como era corajosa no avião. Em como motivou as pessoas ao seu redor a serem corajosas também. E, de repente, nós três estávamos presas juntas e subíamos. Enquanto esperávamos o elástico soltar, vimos todas as pessoas na feira, lá do alto. Nem senti medo. Estava pensando que cada um deles, tão pequenos ali de cima, era uma ilha, com florestas secretas e pensamentos ocultos.

E foi quando ele nos soltou! Sem avisar. Estávamos voando. Eu nunca tinha me sentido tão livre. Flutuando sob o sol de fim de tarde, o cheiro de milho assado, batata frita e bolo, acima de todas as ilhas. Foi tão rápido que, quando abri a boca, era como se todo o ar dentro de mim tivesse sido renovado. Ao lado das garotas que podiam ser minhas novas amigas.

Pensei em você, observando o movimento lá de cima. A folhagem balançando. Os rios como se fossem longos fios, e a espuma do mar chegando à costa. E em como, ao desaparecer lá embaixo, você deve ter se tornado parte daquilo.

Beijos,

Laurel

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora