CAPÍTULO 43

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Querida Elizabeth Bishop,

A arte de perder não é nenhum mistério. Eu bem sei. Os dias parecem transparentes, como se eu andasse sob aquele sol fraco que atravessa uma barreira de nuvens bem fina. Luz vazia. Não pousa.

Sky terminou comigo três semanas e um dia atrás. Hoje à tarde, depois da aula, Natalie, Hannah, Kristen e eu fomos para o beco. Elas ficaram fumando e conversando. Eu não estava nem ouvindo. Estava só olhando para os montes de neve típicos de janeiro, dançando sob a luz amarelada da rua. O céu brilhava, como acontece antes de ficar muito escuro. Eu vestia o moletom que Sky me emprestou uma vez, quando saímos escondido.

Comecei a usá-lo para ir para a escola na época e brinquei que nunca mais ia devolver. Agora realmente não vou mais devolver. Tinha pegado do armário para levá-lo para casa para colocar na gaveta em que guardo as lembranças tristes. Mas estava nevando, fazia frio, então o vesti. Tinha o cheiro dele.

Naquele momento, Sky surgiu do nada no beco. Ele pareceu assustado em me ver.

— Oi — disse. E continuou andando.

Fiquei olhando para baixo porque meus olhos se encheram de lágrimas e eu não queria que ele notasse. Quando Sky passou, sussurrei um “oi” e fiquei olhando as costas dele. Eu ainda o amava e, ao mesmo tempo, o odiava.

E então eu vi. Ele parou embaixo de um dos postes e colocou o braço em volta dela. Uma garota loira, de seios grandes, que quase saíam por uma camiseta superjusta rosa com o símbolo da anarquia. Ela estava só de camiseta, mesmo que estivesse nevando. Sky tirou a jaqueta de couro de sempre e colocou nela. E eles se beijaram. As mãos dele embaixo da jaqueta nela. Sei que não devia ter olhado, mas eu não conseguia desviar o olhar daquela cena. Minha garganta fechou tanto que mal consegui respirar.

A garota viu que eu estava olhando e apontou para mim, mas antes que a cabeça de Sky virasse, olhei para baixo. O que vi depois foi ela o levando para um carro amarelo velho, um carro legal, e grande o suficiente para fazer sexo dentro, tenho certeza.

Eu queria gritar. Queria pular na frente daquele carro amarelo idiota.

Senti que ia explodir.

Hannah disse:

— Sky é um completo idiota, Laurel. Quer que eu mate ele? Porque eu mato.

Kristen me ofereceu um cigarro; em geral eu não fumo, mas aceitei, ainda que fosse só para soltar um pouco de raiva com a fumaça. Perguntei para Kristen quem era a garota, e ela disse que se chama Francesca, se formou no ano passado e trabalha no mercadinho. Enquanto minhas amigas tentavam me consolar dizendo que sou mais bonita, mais estilosa e mais legal, pensei na garota passando o sorvete, o leite achocolatado, a carne de hambúrguer e o uísque das pessoas pela esteira do caixa e saindo de uniforme pela neve, onde Sky estaria esperando na caminhonete para levá-la para casa. E pensei em seu poema.

— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo

que eu amonão muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser mistério

por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Escreve, escreve, escreve,

Laurel.

Beijos.

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora