CAPÍTULO 53

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Querido Kurt,

No domingo depois da festa, fiquei na cama o máximo de tempo possível sem deixar meu pai preocupado e, quando levantei, senti que estava andando por uma névoa densa, como aquela que sai do gelo seco. Entrei no banheiro sem ser vista e tirei a maquiagem que fazia parecer que eu estava com os olhos roxos.

Evan, Sky, May e o cinema — tudo era um borrão congelado. Vi o rosto de Jason. Liguei para Natalie e Hannah várias vezes, mas nenhuma das duas atendeu. Então pedi para meu pai me deixar na casa de Natalie e disse que, de lá, eu iria a pé para a casa da tia Amy.

Quando estacionou na frente da casa dela, meu pai me abraçou e me segurou por um longo tempo, o que achei estranho.

Ele olhou para mim e perguntou:

— Você está bem hoje?

Fiquei preocupada que, de alguma forma, ele tivesse percebido.

— Sim. Te amo — respondi e sai correndo do carro antes que ele me perguntasse qualquer outra coisa.

Quando ninguém atendeu à porta, dei a volta na casa até o fundo e encontrei Natalie deitada na cama elástica, chorando. Hannah estava sentada na beira, com os joelhos dobrados junto ao peito.

Fiquei virada para o jardim, ouvindo. Natalie perguntou, entre soluços:

— Você me ama?

— Claro — Hannah disse, secamente. — Mas as pessoas não vão entender. Vão destruir isso e transformar em outra coisa.

Natalie parecia arrasada.

— O amor não é um segredo. Não posso fingir que não tem importância. Tem, não é? — A voz dela ficou mais alta no final.

— Você não conhece meu irmão — explicou Hannah. — Ele teve um ataque e vai ter um ataque maior ainda se descobrir que estamos, sabe, juntas.

Não consegui evitar de pensar no olhar de Jason. No tipo de raiva que deixa qualquer um com medo.

— E nós estamos? Você está com Kasey e sei lá quem. Como se eu nem importasse.

— Não é verdade — disse Hannah. — Claro que você importa. — Então ela disse, com mais delicadeza: — Só que vai ser melhor se eu não aparecer tanto. — E levantou. — Preciso voltar. Jason acha que estou na biblioteca.

Quando Hannah deu a volta para sair, ela me viu ali parada.

— Oi. O que aconteceu com você ontem? Você abriu a porta e depois simplesmente desapareceu?

— Eu sei. Hum… desculpa.

Eu sabia que devia contar a elas o que tinha acontecido com Evan. Eu sabia que devia. Mas uma sensação horrível de pânico tomou meu corpo, e minha voz estava entrecortada.

— Laurel? Olá? Aonde você foi ontem à noite?

— Sky me levou para casa.

— Que ótimo! Você abre a porta, nos expõe e vai embora com Sky? Bom, só para você saber, as coisas estão basicamente arruinadas. Você ao menos se importa?

— Não, quer dizer, sim, eu… — May estava caindo da ponte. Eu estava caindo com ela. Era tudo culpa minha, tudo.

— Esquece — disse Hannah. — Já era.

Ela pulou o muro baixo. Natalie a viu ir embora, e Hannah não olhou para trás. Natalie chorou mais. Tentei ir até lá e sentar ao lado dela, mas Natalie ficou em posição fetal.

— Desculpa — eu disse, antes de levantar.

A caminho da casa da tia Amy, coloquei o fone e ouvi sua voz cantando “Lithium”. Gritei junto “I miss you, I’m not gonna crack” e era exatamente como eu me sentia — não só a letra mas como sua voz soava cantando aquilo.

Beijos,

Laurel

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora