CAPÍTULO 13

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Querida Janis Joplin,

Estou escrevendo por um motivo importante, que já vou explicar. Quando fui até nossa mesa ontem no almoço, Hannah estava conversando com alguns jogadores de futebol que apareceram, e Natalie estava apertando a embalagem do suco para tomar até o fim, parecendo entediada. Sentei na ponta do banco e procurei Sky na multidão. Finalmente vi a cabeça dele, de costas, entre os alunos do terceiro ano. Ele não tinha me notado, então virei para a mesa e comecei a refletir sobre abrir ou não meu sanduíche em público. Enquanto Hannah ria com os garotos, percebi que ela esbarrou a mão no braço de Natalie, como se fosse um acidente, mas bem devagar.

Natalie respirou fundo e fechou os olhos por um segundo. De repente, ela interrompeu a conversa de Hannah e disse:

— Vem, vamos para o beco.

Fiquei aflita achando que elas me deixariam ali e que eu voltaria a sentar sozinha, mas Natalie olhou para mim e disse:

— Vamos!

Então fui com elas. O beco, todo mundo sabe, é onde o pessoal descolado do último ano vai para fumar e fazer outras coisas.

Pelo jeito, Natalie conheceu um garoto do último ano, Tristan, na aula de arte. Ele disse que compraria cigarro de cravo para ela e apresentaria sua namorada, Kristen. Só de olhar para eles, dá para ver que Tristan e Kristen estão muito apaixonados. Ela usa saias longas e esvoaçantes e tem cabelo comprido, até a bunda, mas parece que nunca embaraça. Seu rosto é delicado e exótico. Ela não fala alto. Sua voz é um sussurro rouco, musicado. Tristan também tem cabelo comprido. Mas, fora isso, eles são completamente diferentes. Tudo nele é intenso e enérgico. Tristan usa roupas rasgadas com emblemas de bandas como Ramones, Guns N’ Roses e The Killers. Ele fala sem parar e, depois de qualquer frase, sempre diz “Né, amor?”. Kristen assente de imediato.

Tristan logo se enturmou com a gente, porque chegou, jogou um maço de cigarro de cravo para Natalie e disse:

— Hola, chiquitita! — Em seguida, beijou a mão de Hannah e a minha e perguntou: — Quem são essas meninas lindas que você trouxe?

Antes que pudéssemos responder, ele virou para Kristen e disse:

— Parece que encontramos as meninas perdidas do primeiro ano, né, amor? Pronta para adotar?

Então tirou um acendedor de cozinha enorme do bolso da calça e acendeu nossos cigarros com uma chama que quase chegava à minha cabeça. Ele me viu olhando para os emblemas, especialmente o que tinha SLASH em vermelho-vivo, no peito. Achei que deveria dizer alguma coisa, então perguntei:

— Slash é uma banda?

Tristan riu.

— Ele é o guitarrista da banda. Do Guns N’ Roses. A definição do rock. Vamos ter muito trabalho com sua formação, né, amor?

Meu rosto ficou quente. Mas Tristan disse:

— Não se preocupe, você é jovem. Ainda há esperança. Está pronta? Primeira lição: ser roqueiro é a interseção de quem você é e quem você quer ser. Quem disse isso foi o próprio Slash.

— É isso que você quer ser? — perguntei.

Ele olhou para mim meio confuso.

Então continuei:

— Roqueiro?

Tristan riu de novo, só que dessa vez de uma maneira um pouco diferente.

Como se eu tivesse feito uma pergunta difícil, e ele não soubesse responder.

— Bom, você parece um roqueiro — comentei.

Kristen não pareceu brava quando falei isso nem quando ele beijou nossa mão. Acho que, como os dois estão superapaixonados, ela não tem do que sentir ciúmes. Ela mal olhou para nós. Só acendeu outro cigarro. Tentei ser simpática para que Kristen gostasse de mim, porque eu realmente queria isso. Queria que os dois gostassem de mim.

— Meu nome é Laurel — eu disse, com uma voz esganiçada.

O rosto de Kristen continuou impassível, mas os olhos se fixaram em mim, de uma maneira que me fez perceber que no fundo ela é legal. Ela respondeu:

— Kristen. “Sou uma dessas pessoas estranhas comuns.”

Tristan explicou:

— Frase da Sra. Joplin. Kristen é fã dela.

Então Kristen começou a falar de você, e entendi como ela realmente te ama, tanto quanto ama Tristan.

Hoje, quando cheguei em casa, pesquisei Slash e depois a sua vida, para começar minha formação e poder ser amiga de Tristan e Kristen. Li que você cresceu perto das torres de petróleo do Texas e que, quando era adolescente, todo mundo na escola era terrível com você. Mas isso a deixou destemida. E então você ficou famosa. Quando Kristen e eu formos mais amigas, vou pedir para ela me mostrar músicas suas. Sei que poderia encontrar algumas na internet, mas seria legal te ouvir pela primeira vez com ela. Até lá, estou escrevendo para agradecer por dizer aquela coisa sobre pessoas estranhas comuns; pensei muito nisso, e eu também sou uma delas. Percebi que existe uma razão para Kristen, Tristan, Natalie, Hannah e eu estarmos juntos ali — somos todos estranhos de um jeito diferente, e isso é normal. E mesmo que exista muita coisa que eu não possa dizer para eles, é bom me sentir parte de um grupo.

Beijos,

Laurel

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora