CAPÍTULO 9

64 7 0
                                    

Querido Kurt,

As roupas de May devem ter funcionado muito bem, porque, desde que comecei a usá-las, coisas aconteceram. A semana toda sentei com Natalie e Hannah no almoço. Então hoje, sexta-feira, eu estava indo para a aula de biologia, seguindo o caminho sem nem pensar. De repente, olhei para a frente, porque ia esbarrar em alguém. Era ele. Sky. Eu podia estender o braço e tocá-lo.

- Oi. E aí? - A voz dele era doce.

Comecei a pensar no que responder. Sei que "E aí?" é uma coisa que as pessoas dizem sempre. E parece que a única resposta adequada é "beleza?". Mas eu não queria dizer "beleza?"; na verdade, tinha muita coisa para dizer a ele.

Em vez disso, respondi:

- Vi você outro dia. - Parecia que cada palavra era uma pedra, caindo no fundo do lago.

Ele concordou, com a cabeça um pouco inclinada. Como se tentasse me desvendar.

- Sou a Laurel - acrescentei.

- Sky. - Ele sorriu.

Eu estava prestes a dizer "eu sei", mas pensei e achei melhor ficar quieta.

Quando finalmente voltei a enxergar direito, vi que ele estava com uma camiseta do Nirvana. Pareceu perfeito. Então eu disse:

- Eu amo Kurt Cobain.

- Ah, é? Qual é seu álbum favorito?

- In Utero.

- Total. Todo mundo diz Nevermind. Quer dizer, todo mundo que não conhece direito.

Sorri e balancei a cabeça para manter a conversa rolando.

- Pois é. Eu adoro como ele... como Kurt canta, como se estivesse implodindo. - Eu não podia acreditar que tinha acabado de dizer isso.

Mas Sky concordou, como se soubesse do que eu estava falando. E foi quando, de repente, eu me dei conta de que ele me olhava como se quisesse me tocar. Puxei a camisa laranja de May para baixo. Minha pele estava queimando. Eu precisava ir embora antes de pegar fogo.

- Tenho que ir para a aula de biologia.

- Legal - Sky respondeu. - A gente se vê por aí.

Fiz que sim e continuei andando, com o coração disparado. Disse a mim mesma para não olhar para trás. Mas olhei. E ele ainda estava me olhando.

Senti uma faísca - o mistério do que ele via quando olhava para mim.

Na aula, enquanto o Sr. Smith falava, fiquei repassando a conversa e notando novos detalhes a cada vez. A maneira como uma das mangas de Sky estava levemente virada. Como os pelos do braço dele estavam arrepiados. A sarda na pálpebra. Pensei no que Hannah havia dito, sobre a vinda dele para cá. Me perguntei de onde ele tinha vindo e fiquei imaginando se já tinha se apaixonado.

Beijos,

Laurel

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora