CAPÍTULO 58

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Querido Jim Morrison,

Uma vez você disse: “Um amigo é alguém que dá liberdade total para você ser você mesmo — e especialmente para sentir ou não sentir. Qualquer coisa que você sinta naquele momento está bom para ele. É o que o amor verdadeiro significa — deixar alguém ser ele mesmo”. Obrigada por dizer isso, porque tenho pensado no assunto. Acho que há muito tempo estou tentando me sentir como acho que devo, em vez de ser quem realmente sou.

Desde o que aconteceu na festa, sinto tanto falta de Natalie e Hannah que chega a doer. A semana passou, e elas estão me evitando, evitando uma à outra e praticamente todo mundo.

Hoje, segunda-feira, quando fui à escola, vi Hannah no estacionamento, saindo de um carro. A porta do passageiro era prateada, mas o resto do carro estava pintado de preto. Ela tropeçou e, quando virou para se despedir do motorista, o salto do sapato ficou preso em uma rachadura. Foi um daqueles acenos que deveria parecer sedutor, mas ela mal conseguia reunir forças para isso. Quando olhei para o carro, eu vi Blake — da cabana na montanha. Ele saiu do estacionamento desviando das minivans e dos carros de família e se juntou ao tráfego.

Quando viu que eu estava me aproximando, Hannah me olhou como se quisesse desaparecer. Seus cachos ruivos estavam se desfazendo, e a maquiagem estava mais pesada que o normal. Ela estava com um dos hematomas feitos com sombra de olho.

— Oi — eu disse.

— Oi.

— Era o Blake?

— Era.

— Por que ele te deixou aqui?

— Passei a noite na casa dele.

— Hannah, você prometeu não sair mais com ele.

— Eu sei — ela disse. — Mas eu precisava sair de casa. E é claro que está tudo acabado com Kasey.

— Você podia ter me ligado.

— Eu nunca fui à sua casa, Laurel.

— Bom, podia ter sido a primeira vez…

Hannah olhou para baixo. Dava para ver que ela estava brava.

De repente, ela apenas riu, apesar de não ser nada engraçado. Riu como se estivesse fazendo o único som com que podia encobrir tudo.

— Eu realmente não quero entrar na aula hoje. Vamos a algum lugar?

O primeiro sinal nem tinha tocado ainda.

— Pode ser.

Então saímos, fomos até o Garcia’s e pedimos taquitos de café da manhã, sentadas na área externa do drive-in. Usamos meu celular para ligar para a secretaria, uma fingindo ser a responsável pela outra, para avisar que estávamos doentes. Não é o tipo de coisa que funciona sempre, mas, como só tínhamos cabulado a última aula antes, achamos que daria certo.

Esperamos alguns minutos entre as ligações para parecer menos suspeito.

Quando o pedido chegou, Hannah tirou da bolsa uma daquelas garrafas de vodca em miniatura e abriu.

— Quer batizar sua soda? — ela perguntou.

— Não — respondi, chocada. — Não são nem nove da manhã.

— São cinco da tarde em algum lugar — ela disse, rindo. — Talvez na Noruega. Você acha que são cinco da tarde na Noruega? Eu gostaria de estar lá. Ou na Islândia. Ou em algum lugar distante. — Ela tentou colocar vodca na minha bebida. — Vamos. Relaxa.

— Para — falei e peguei a garrafa.

— Desde quando você é assim certinha? — ela perguntou, incomodada.

Love Letters To The Dead Onde histórias criam vida. Descubra agora