Querido Kurt,
Você teve uma filha e nunca vai conhecê-la. Não vai vê-la crescer. Não vão preparar o jantar juntos quando, no verão, ela voltar da piscina cheirando a cloro. E quando ela andar de bicicleta sem se segurar e voar sobre o guidão, você não vai ajudá-la a se sentir melhor. Não vai estar na apresentação do coral, com todos os outros pais no chão grudento do ginásio, observando o rosto dela, enquanto fecha os olhos e deixa a voz sair. Não vai vê-la andar pela neve recente no quintal nem deitar para fazer um anjo. Não vai vê-la se apaixonar pela primeira vez. E se partirem o coração dela, se ela se encolher embaixo dos lençóis de flanela limpinhos e chorar, você não vai ouvir. Quando ela precisar, você não vai estar lá.
Você não se importa? Como pôde fazer isso com sua filha?
Sabe o que ela vai ter, em vez do pai? Seu bilhete de suicídio. Quando escreveu aquilo, você pensou que as palavras seriam uma sombra para o resto da vida dela?
“Tenho uma esposa que é uma deusa, que exala ambição e empatia, e uma filha que lembra muito o que eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando cada pessoa que ela encontra como se todas fossem boas e incapazes de fazer mal. Isso me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar. Não suporto a ideia de Frances se tornar a roqueira infeliz e autodestrutiva que me tornei”, você escreveu.
Pensou no fato de que, quando tirou sua própria vida, você roubou a inocência que amava nela? Que mudou para sempre aquele coração cheio de alegria? Você foi o primeiro a fazer mal à sua filha. Foi a primeira pessoa a tornar o mundo perigoso para ela.
Não sei por que escrevi todas essas cartas para você. Achei que você entendesse. Mas você também foi embora. Como todo mundo.
Hoje à noite, quando meu pai estava dormindo, entrei no quarto de May e arranquei seu pôster da parede. Rasguei e joguei fora. E solucei até não aguentar mais. E agora esse pôster em particular se foi para sempre. Sinto muito.
Não pode ser desfeito. Não podemos colocá-lo de volta e não podemos trazer você de volta à vida, e odeio isso. E também odeio você por isso.
Pronto, falei, eu odeio. Sinto muito. Eu sinto tanto. Eu me pergunto se sua filha perdoou você, porque eu não sei se conseguiria.
A verdade é que não perdoei minha irmã. Não sei como perdoá-la, porque nem tenho o direito de ficar brava com ela. E tenho medo de perdê-la para sempre se fizer isso.
Beijos mesmo assim,
Laurel
VOCÊ ESTÁ LENDO
Love Letters To The Dead
Teen FictionTudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garlaend, Elizabeth Bishop... apesar de ela...