CAPÍTULO 50

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Querida Amy Winehouse,

Hoje aconteceu uma coisa terrível. Usei minha blusa nova de veludo lavanda na escola e, na aula de inglês, a Sra. Buster estava usando exatamente a mesma blusa. Ela não é uma professora jovem, bonita e descolada. É velha, tem olhos esbugalhados e cabelo de quem faz chapinha.

Inacreditável. Comprei em uma loja legal. Uma loja para adolescentes. Por que a Sra. Buster faria compras lá? Mas era exatamente igual, até os botões de madrepérola, que eu adorei, nos quais passei os dedos a manhã toda. Sei que todo mundo reparou. Meu rosto ficou vermelho a aula toda.

Depois que o sinal tocou, a Sra. Buster tentou conversar comigo.

— Laurel! — ela chamou enquanto eu estava saindo.

Mal virei para trás.

— Gostei da blusa. — Ela sorriu.

A Sra. Buster sabia que nossa roupa igual não era uma coisa boa para mim, então não havia motivo para sorrir. Não sorri de volta.

— Laurel, como você está? — ela perguntou daquele jeito, como uma pergunta que podia muito bem ser uma arma carregada.

— Bem — respondi. Apesar da vontade de dizer a ela que eu não estava nada bem. Eu também queria perguntar que diabos ela estava fazendo arruinando minha vida ao fazer compras na Wet Seal. Em vez disso, murmurei: — Estou atrasada. — E saí correndo.

Eu sabia que teria que encontrá-la de novo no coral, porque ela é a responsável, junto com o Sr. Janoff. E Sky está no coral. Quando comprei a blusa, secretamente esperava que Sky fosse me notar. Talvez ele sentisse uma pontada de arrependimento por me perder. Agora isso claramente não ia funcionar. Então cabulei o coral. Por causa de meu canto-murmúrio e de faltar algumas vezes, minha nota vai ser péssima. Mas naquele momento eu não me importei. Tristan sempre cabula a última aula para fumar maconha, então disse a ele que queria ir junto.

— Ah, por causa da blusa? — Tristan perguntou. Ficou claro que, àquela altura, todo mundo já sabia.

Só olhei para ele. Com Tristan, não preciso dizer nada se não quiser. Ele sempre entende.

— Bom, em uma pesquisa de quem ficou melhor, você ganha de longe. Está muito bonita.

Tristan foi gentil, e me fez rir um pouco quando passei com ele pelo beco até a beira do córrego. Ainda estava cheio de folhas secas que caíram no inverno.

Na verdade, nunca fumei maconha, então acho que Tristan pensou que eu ia só ficar ali sentada. Mas quando ele sacou o baseado, eu disse:

— Quero experimentar.

Ele levantou as sobrancelhas, mas passou para mim.

Antes de tentar entender como aquilo funcionava, eu disse:

— Posso perguntar uma coisa?

— Claro.

— Você acha que aquilo que você falou sobre ser salvo é verdade? Será que Sky encontrou alguém melhor para salvá-lo? Como Francesca? Talvez eu não tenha sido capaz. E talvez ela seja. Talvez ele esteja mais feliz agora. Sabe, muito feliz.

— Você é boa demais para ele, docinho. Você merece um cara melhor. E, quanto a essa menina, ela não seria capaz de salvar uma joaninha em uma tempestade nem se tivesse um guarda-chuva de quinze metros.

— Mas e minha irmã? Por que não consegui salvá-la? — Minha voz oscilou, e eu me encolhi por dentro. Talvez por fora também. Eu nunca dizia coisas assim em voz alta.

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