Gustavo e Luís ficam se olhando por um tempo. Um analisando o outro e a Madre Ana olha para os dois.
— Certo, garotos. Esta conversa está muito agradável...
Os dois olham para ela.
— Mas não será assim que vocês vão se conhecer, certo? Gustavo, você sabe o porquê o senhor Luís Gustavo está aqui?
— Sim, Senhora.
— Alguém ligou para ele, não? - Indaga Madre Ana sabendo a resposta e Gustavo abaixa a cabeça envergonhado. — Depois conversaremos sobre isso, rapaz.
— Madre Ana, há um café aqui perto. Eu poderia levar o Gustavo até lá? Pede Luís e Madre Ana pensa por um instante.
— Normalmente os internos não saem da instituição. Mas, pela idade de Gustavo, não vejo por que não. Você quer ir, Gustavo?
— Sim, senhora.
— Então venham comigo. Vou autorizar a saída de Gustavo. E senhor Luís: ele deve estar de volta até as 18 horas.
A padaria que Luís falou não é longe do orfanato. Foram caminhando até ela.
Gustavo não falara nada desde que saíram do orfanato. Sentam-se numa mesa mais afastada e o atendente lhes entrega o cardápio. Gustavo olha rapidamente o cardápio e o fecha.
— Já escolheu o que você quer? - Pergunta Luís e vê o garoto balançar a cabeça negativamente.
— Não sei o que pedir...
— O bolo de chocolate daqui é o melhor da cidade. Gosta de chocolate?
O garoto se limita a concordar com a cabeça. E é isso que é pedido: duas fatias de bolo de chocolate com dois cafés com leite. Faz-se silêncio na mesa. Gustavo pega um pacotinho de açúcar e começa a brincar com ele.
Luís, de braços cruzados, observa o garoto a sua frente franzir a testa várias vezes. Quando Gustavo abre a boca para falar, o garçom chega com o pedido e o distribui na mesa. Gustavo olha para o bolo e para Luís com a testa franzida.
— É tudo isso? - Indaga Gustavo assustado.
— Sim. É uma fatia.
Gustavo pega seu garfo. Antes de tocar no bolo, olha para Luís e devolve o garfo na mesa.
— Eu não estava esperando você. Era para o Carlos vir. Eu já tinha o discurso feito. Já sabia o que dizer. - Despeja Gustavo frustrado.
— Você ficou bravo por eu vir? - Questiona Luís preocupado e Gustavo suspira fundo e pega novamente o garfo.
— Não... Você disse que viria, e veio. Mesmo não sabendo muito sobre mim e se é verdade o que lhe disse ao telefone. Mas terei que mudar o "discurso"... - Diz Gustavo com um sorriso tímido, fazendo aspas na palavra discurso. Luís, que vê o primeiro sorriso espontâneo de Gustavo desde que saíram do orfanato, o incentiva a falar.
— E o que você diria ao Carlos?
— Eu diria a ele que sei que ele é o meu pai, pois minha mãe me deixou uma carta contando. Que pesquisei sobre ele na internet e sei que ele tem esposa e outros três filhos. Sei também sobre você, senhor Luís, e seus filhos.
Luís tenta esconder o espanto que sente ao ouvir aquilo.
— E o que mais?
— Eu não quero atrapalhar a vida dele. Mas que agora preciso de uma ajuda. Tenho que sair do orfanato e não tenho como me manter nos primeiros meses. Só preciso de uma ajuda para conseguir um trabalho e um lugar para morar. Depois, cada um segue seu caminho.
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O Órfão
General FictionGustavo é um garoto que morou no orfanato de seus cinco anos até os 18 anos. E agora descobriu que tem um pai e uma família completa. Mas adaptar-se a esta família não será tão fácil.