A casa já está toda em silêncio e Gustavo dorme tranquilo em sua cama. A porta de seu quarto se abre, acordando-o. Ele olha para a porta esperando que fosse Carlos. Ele ouve vozes infantis no corredor: "Entra logo, Carlinhos..." "Ele está dormindo, Nick..."
Gustavo acende a luz de cabeceira de sua cama.
— Podem entrar, Carlinhos e Nicole, convida Gustavo, sentando-se na cama.
Nicole entra primeiro, segurando um urso e Carlinhos segue a irmã. Eles se aproximam da cama de Gustavo, visivelmente envergonhados.
— Nós queríamos conversar mais com você, mas nossa mãe não deixou. Disse que você já estava dormindo...
Na manhã seguinte, Giovana é acordada por Clara, dizendo que Nicole não estava no quarto e Carlinhos não foi encontrado no seu quarto.
Carlos levanta-se de sua cama.
— Onde eles podem ter ido tão cedo? Já o procuraram na cozinha?
— Eles não estão lá, papai.
— Procure seu avô Luís, devem estar com eles.
Passados dez minutos, Clara volta com seu avô, dizendo que seus irmãos não estavam no quarto dos avós. Giovana se desespera com a possibilidade de um sequestro.
Carlos, no escritório da casa, começa a analisar todas as câmeras de segurança das entradas em busca de algo suspeito.
Gustavo acorda em seu quarto e sorri ao ver seus dois meios-irmãos dormindo tranquilamente. Haviam conversado até a uma hora da madrugada, quando o cansaço venceu Natália e ela dormiu abraçada em seu urso. Logo em seguida foi a vez de Carlinhos e Gustavo dormirem.
Enquanto segue ao banheiro, Gustavo repassa a conversa com os dois pequenos e sorri lembrando. Já de volta ao quarto, depois de ter se trocado, Gustavo acorda os meninos para irem tomar o café-da-manhã com ele.
Carlos, que não encontrara nada nas câmeras de segurança, está com Giovana, Clara e Luís na cozinha, quando seus filhos entram.
O alívio toma conta de Carlos, até ver que Gustavo estava com eles. Uma raiva súbita toma conta dele, que parte para cima do garoto, segurando pelo colarinho e o pressionando contra a parede, fazendo a cabeça de Gustavo bater.
— O que você pensa que está fazendo, moleque. Você acha que pode brincar deste jeito com meus filhos? E nos deixar preocupados deste jeito? Onde vocês estavam?
— Estávamos no meu quarto, senhor Carlos. - Responde Gustavo assustado com a forte reação de Carlos. — Perdoe-me. Mas se eu soubesse que estava preocupado com eles, eu teria avisado mais cedo.
As três crianças estão assustadas. Nunca viram seu pai assim.
Luís tenta interceder, mas sem sucesso. Carlos não solta Gustavo e agora pressiona a garganta de Gustavo com o antebraço.
— Não me irrite mais, Moleque!
— Nunca foi minha intenção. Eu nem queria estar aqui. Se não fosse por Luís e Rebeca, agora eu estaria na pensão, diz Gustavo com lágrimas se formando.
— Agora você me diz que esse luxo não te atrai? - Indaga Carlos com raiva.
— Nunca tive luxo na minha vida. Tudo o que tive foi doado e tinha que partilhar com todos. Até a atenção das cuidadoras eu dividia, despeja Gustavo já não conseguindo segurar as lágrimas. — Eu cresci sem minha mãe e só agora soube o que é ter alguma coisa só minha: um livro, uma roupa... Mas eu não me engano, senhor Carlos. Apesar do resultado positivo do DNA, eu não tenho um pai!
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O Órfão
General FictionGustavo é um garoto que morou no orfanato de seus cinco anos até os 18 anos. E agora descobriu que tem um pai e uma família completa. Mas adaptar-se a esta família não será tão fácil.