Novembro
O resultado do exame de DNA ficou pronto na sexta-feira à tarde. Mas Luís só teria acesso a ele na segunda-feira de manhã e para não deixar Gustavo ansioso, nada comenta.
Ele aguarda Gustavo chegar do colégio para, então, chama-lo em sua sala.
Quando Carlos chega, encontra Gustavo andando de um lado para o outro na sala passando a mão pelos cabelos. "Já vi esta cena antes", pensa Carlos passando a mão nervosamente em seus cabelos e para assim que percebe o está fazendo. Olhando mais uma vez para Gustavo.
— Sentem-se, por favor. Há uma cópia do resultado para cada um, esclarece Luís entregando os envelopes lacrados.
Carlos vê Gustavo olhando demoradamente para o envelope e não entende o porquê de ele não abrir logo. Não era isso que ele queria?
— Gustavo? Tudo bem? - Pergunta Luís carinhosamente e Gustavo sacode a cabeça negativamente.
— Dezoito anos esperando para saber quem é meu pai. É um tempo demasiadamente longo, não? - Indaga Gustavo olhando para Luís. — O senhor pode abrir e ler o resultado?
Luís pega o envelope que entregara a Gustavo e rompe o lacre. Olha para seu filho e seu neto e retira o documento. Gustavo fecha os olhos aguardando o resultado. A tensão no ar é palpável.
— Com 99,9% de chance de acerto, o resultado do exame é positivo. Gustavo é seu filho, Carlos.
Ninguém se mexe de seus lugares. Gustavo olha de canto de olho para Carlos, que está na mesma posição de antes.
Luís vê Gustavo colocar os antebraços nas coxas, passar as mãos pelo rosto e soltar um suspiro longo e ensaia se aproximar quando ele levanta, sem olhar para Luís, pede desculpas e sai da sala. Nem com os protestos de Luís ele para.
Carlos olha para seu pai, dando de ombros:
— Não posso fazer nada...
— Claro que pode! Pode assumir que ele seu filho e ir atrás dele.
— Eu não saberia o que dizer...
— Não sei por quem você puxou, Carlos... - Reclama Luís saindo da sala.
Dalva mostra para Luís a direção que Gustavo foi e o encontra sozinho no banheiro. Apenas uma das portas dos reservados está fechada, mas esta é a última coisa em que ele se preocupa. Seu neto é o que importa no momento e ele está com as mãos na pia e de cabeça baixa. "Estaria chorando?" Pensa enquanto se aproxima dele.
— Gustavo...
Gustavo passa o dorso da mão em seu rosto, como se estivesse secando suas lágrimas, antes de olhar para Luís. Os olhos dele estão vermelhos e o semblante triste.
— Desculpe-me, eu não deveria estar assim. Acho que acabei criando uma falsa esperança de que Carlos fosse me aceitar quando descobrisse a verdade.
— Gustavo, não se preocupe com isso agora. Carlos vai se acostumar com isso e tudo vai acabar bem. Vem cá, deixe-me dar um abraço em você, agora oficialmente meu neto!
Gustavo abraça-o com vontade e quando se soltam, ele pergunta:
— Seria pedir muito para me deixar sair mais cedo hoje? Eu não estou me sentindo bem...
— Claro, Gustavo. Vou pedir para o George te levar.
— Não precisa, Luís. Posso voltar de ônibus...
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O Órfão
General FictionGustavo é um garoto que morou no orfanato de seus cinco anos até os 18 anos. E agora descobriu que tem um pai e uma família completa. Mas adaptar-se a esta família não será tão fácil.