Capítulo 12

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 A sala de Luís é ampla e dividida em três ambientes: no lado direito da sala há uma pequena sala de estar com duas poltronas de três lugares cada e uma mesa de centro. No lado esquerdo, há uma mesa de reuniões com doze lugares e ao fundo, de frente à janela, fica a mesa de trabalho de Luís e uma grande estante cheia de livros.

Luís está ao telefone quando Gustavo entra na sala e senta no sofá perto da porta e Carlos já está sentado no mesmo sofá, na outra ponta. Luís, ao terminar a ligação, senta no sofá em frente.

— Carlos e Gustavo, quero que se comportem como se deve: como meu filho e meu neto! Exige Luís olhando sério para os dois, que nada falam.

Quando Natália, Augusto e Leonardo chegam à sala encontram o irmão e um garoto sentados com os antebraços apoiados nas coxas e de cabeça baixa e levantaram a cabeça quando eles entram na sala.

— Meu Deus, Carlos. - Espanta-se Natália. — Você trouxe o garoto para dentro da empresa? No que estava pensando?

— Como assim, Nati? - Pergunta Luís.

— É o filho da Valentina, não?

— Como você sabe disso? - Luís retorna a perguntar e Natália fica em um silêncio constrangido.

— Desculpe, mas o que está acontecendo aqui? - Questiona Leonardo.

— Bom, meus filhos: este é Gustavo, filho de Valentina, como Nati falou. Carlos e Valentina namoraram antes dele conhecer a Giovana, explica Luís olhando para cada filho. — Acredito que ele seja meu neto. Mas parece que esta história é mais conhecida pelos meus dois filhos mais velhos que por mim.

Gustavo que havia se levantado quando Natália fez o primeiro comentário dirige-se à Luís.

— Desculpe-me, Luís...

— Para você é "Senhor Luís", seu moleque! - Branda Carlos e Gustavo, voltando-se para ele, responde.

— Luís me autorizou a chamá-lo assim e apenas ele poderá dizer algo ao contrário! - Responde Gustavo com petulância. — Como eu estava dizendo, acho que este é um tipo de conversa que eu não deveria participar. Acho que vou para a recepção, ou melhor, para o arquivo, esperar uma decisão de vocês. Com a sua licença.

— Este moleque é muito petulante! - Reclama Carlos.

— Igual a você, Carlos! - Responde Luís e Gustavo está saindo da sala quando ouve Luís chamar. — Nem pense em sair desta sala, Gustavo! Vamos nos sentar e conversar.

Depois que todos estão sentados nos dois sofás, Luís olha demoradamente para cada um de seus filhos e para seu neto e começa a falar.

— Gustavo ligou para mim outro dia dizendo que precisava falar com Carlos, pois a mãe dele disse que é filho de Carlos. No início eu desconfiei, mas fui ao orfanato para conversar, já que Carlos o ignorou. Como vocês mesmos viram, Gustavo lembra muito Carlos, na idade dele. Natália também deve ter percebido isso. E também deve saber mais alguma coisa. Estou certo, Nati?

Natália olha assustada para Carlos, que se limita a olhar para suas mãos.

— Vamos, Natália. Conte-me o que você sabe! - Exige Luís.

— Ah... Bom... Carlos me procurou há uns anos e me falou do garoto, que estava no orfanato e que ele precisava de uma família. Eu sabia de um casal que queria adotar um menino. E falei do garoto para este casal...

— E o que aconteceu? - Quer saber Luís.

— Ela engravidou e desistiram da adoção, responde Gustavo antes de Natália e todos olham para ele.

— Como você sabe disso? - Questiona Natália espantada.

— Os adultos pensam que só por que se é criança, não se percebe o que está acontecendo em sua volta. Eu estava com quase nove anos quando isso aconteceu. Eles estavam eufóricos, mas nervosos quando me encontraram na sala de brinquedos. Falaram comigo rapidamente e dirigiram-se para falar com a Madre Ana. Eu ouvi quando eles disseram que não iriam mais me adotar.

Gustavo, que estava sentado ao lado de Luís, levanta e vai até a janela e um silêncio incomodo preenche a sala.

— Mas as crianças não deveriam saber sobre as adoções, não?

— Sim, eles não nos dizem diretamente, mas se um casal se aproxima muito de você, por algum tempo, você desconfia do que pode acontecer. E os dias que passei no hospital fizeram que eu ficasse mais atento aos acontecimentos ao meu redor.

— Quando fui conversar com a Madre Ana a respeito de Gustavo, ela me disse que ele possui uma inteligência acima da média.

— Mas isso não significa que ele é meu filho... - Lembra Carlos hesitante.

— Olha! Ele fala! - Ironiza Gustavo, tirando risadas de Augusto e Leonardo.

— Certo, pai. - Augusto começa a falar. — Acho que esta conversa deveria ser entre Gustavo e Carlos, não?

— Seria, se eu e Beca não estivéssemos envolvidos, também. Prometi a Gustavo que, independente do resultado do exame de DNA, ajudarei ele com a faculdade e trabalho. Era isso que ele queria desde o início.

— Mas se ele tem tanta certeza que é meu filho, para quê fazer este exame?

— A verdade que eu tenho é a que minha mãe me deixou. E tem tanta riqueza de detalhes que é difícil não acreditar nela.

— Como você pode lembrar-se do que ela disse, se ela morreu quando você tinha seis anos? - Questiona Carlos indignado e Gustavo começa a rir.

— Como você sabe disso? Em nenhum momento foi dito isso? A não ser que você já conhecia a história, senhor Carlos. Mas você tem razão. Se minha mãe tivesse me contado naquela época, eu dificilmente lembraria. Ela me deixou uma carta contando sobre você e como se conheceram e deu instruções para a Madre Ana para me entregar no meu de aniversário de dez anos.

— Que comovente... - Ironiza Carlos, mas Gustavo ignora.

— Na carta ela me pedia para te procurar, pois ela, inocentemente, achava que você poderia me ajudar.

— E foi o que você fez!

— Não! Eu esperava sair do orfanato sem precisar de tua ajuda. Sem precisar me encontrar com você. Mas infelizmente não consegui... - Suspira fundo Gustavo.

— E o que vamos fazer agora? - Pergunta Leonardo.

O telefone da mesa de Luís toca e, sem falar nada, ele caminha a mesa e autoriza alguém a entrar.

Em seguida, Dalva entra na sala seguida por duas pessoas. O homem mais velho segue até Luís e se cumprimentam com velhos amigos.

— Meus filhos, para resolver esta dúvida, contratei o laboratório de meu amigo Santiago para fazer o teste de DNA. Gustavo já havia se predisposto a fazê-lo. Agora falta o Carlos concordar.

— E se eu não concordar? - Indaga Carlos.

— Aí é que entram seus irmãos. Podemos fazer o teste entre você, Carlos e o Gustavo. Ou por parentesco. Você é quem escolhe. Mas lembre-se: se negar a fazer é mais uma prova que o garoto é seu filho.

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