Epílogo

373 35 15
                                    

Larissa

Só depois de acompanhar um ciclo todo da plantação de girassóis que entendi o porquê de Gustavo dizer que eu era a borboleta de sua vida. A borboleta é um dos insetos que polinizam a flor para que ela possa produzir as sementes, foi o que ele explicou.

Se eu sou sua borboleta, ele é meu girassol. Um lindo girassol que está sempre sorrindo para mim e que não há tempo ruim.

Hoje, eu e Gustavo completamos nove anos de casamento. E a vida nos mostrou que podemos sempre atrás de nossos sonhos. Mas com o histórico familiar que tenho e por ter sido criada por minha vó, eu nunca me imaginei casada e filhos.

Eu não era contra o casamento, só não tinha interesse na cerimônia e em todas coisas que vêm com ela: vestido, bolo, valsa. E para quê ter uma família? Para deixar os filhos com a avó?

Era assim que eu pensava até conhecer o Gustavo. Ele sofreu o abandono do pai, a perda da mãe e viveu num orfanato até os dezoito anos. Mas mesmo assim, ele me mostrou que vale a pena ter uma família, um lar.

No início, quando eu o conheci, achei que ele ficaria com a Isabela. Mas o relacionamento deles não durou um mês. O ciúme, a insegurança e o interesse de Isabela foram os motivos.

Depois disso, nossa amizade se fortaleceu. Ou melhor, eu interpretei o que sentia por ele como amizade. Só depois que passamos o fim de ano juntos é que me convenci de que era amor o que eu sentia. Aí veio o sofrimento: tão perto e tão longe. Mas em setembro, no meu aniversário, veio a revelação: nós nos amávamos. E, quase um ano depois, eu facilitei nossas vidas morando em Jaguariúna.

Nós conversamos muito sobre ter ou não filhos. Gustavo, apesar de querer muitos filhos, aceitou termos apenas um. O tempo foi passando e vendo que ele não se importava de abrir mão do que desejava pelo meu bem, não achei justo termos apenas o Tiago. Quando estávamos com três anos de casado, eu engravidei novamente e nosso Guilherme nasceu.

Gustavo ficou radiante, mesmo imaginando que fora um descuido meu. Tratei de explicar que comigo não existe descuidos desta natureza.

A vida seguia tranquila quando Sérgio anunciou que vendeu sua parte da fazenda. Vi pela feição de Gustavo que isso o deixou sem chão. "Como assim, Sérgio? Nós tínhamos um trato que, quando chegasse a hora, você ofereceria primeiro para mim."

"Desculpe-me, Gustavo. Mas a proposta deles era irrecusável. E eles chegam hoje à tarde para conhecer a fazenda", declarou Sérgio demostrando que não era brincadeira. Vi Gustavo se levantar da mesa sem falar nada e sair, mas sabia que, no fundo, seu coração estava quebrado em mil pedaços.

Ele tinha trabalhado muito para manter a qualidade da fazenda e aumentar a produtividade das sementes de girassol, agora o carro-chefe da fazenda. Havia, inclusive implantado o uso de abelhas na polinização das flores dos girassóis. Tendo suas próprias colmeias e, de quebra, mais uma fonte de renda.

Agora tudo isso poderia ser em vão, se o novo dono não aceitasse a gestão de Gustavo. Olhei para Sérgio e quando ameacei dizer algo, ele apenas sorriu e piscou para mim, enquanto beberica seu café. Ele estava aprontando alguma, pensei na hora.

No fim da tarde, um carro estacionou na frente da casa. Nesta hora, Gustavo já tinha voltado do campo e estava na cozinha fazendo um lanche. Na verdade, acredito que ele estava se enrolando, pois não estava pronto para receber nosso novo sócio.

Sérgio o chamou no momento em que o casal saiu do carro e Gustavo o olhou como se quisesse entender por que seus avós estavam na fazenda. "São seus novos sócios, Gus", explicou Sérgio.

"Gus, venha aqui dar um abraço na sua vó", Rebeca quebrou a tensão do momento e ele, ainda atordoado, seguiu até ela. Mais tarde, Sérgio contou que a ideia de não contar nada sobre a venda da fazenda foi de Rebeca, que queria fazer uma surpresa para o neto. E que surpresa, hein?

Mas surpresa mesmo foi o que preparei para ele, num passeio que fizemos com nossos filhos para Toscana, na Itália. Numa noite em especial, saímos apenas eu e Gustavo. O hotel tinha um ótimo serviço de babás. Eu preparei essa surpresa em casa e foi difícil não a entregar antes. Mas queria que a surpresa fosse perfeita!

No restaurante mais romântico que achei na cidade onde estávamos, entreguei a ele uma pequena caixa, dizendo que era para dar sorte. Quando abriu, havia um ovo de galinha pintado de amarelo e branco, como se fosse um girassol. Ele o pegou e franziu a testa querendo entender.

"Quebre-o, a sorte está aí dentro", expliquei e peguei minha máquina fotográfica para registrar este momento. Ele estava acostumado com isso, então, nem se importou.

Gustavo quebrou a casca colorida e encontrou um pequeno papel enrolado. Quando o abriu, encontrou a frase: "Parabéns! Você será papai pela terceira vez!"

Preciso dizer que as lagrimas pulavam de seus olhos?

Nossa pequena Nívea se transformou num raio de sol para Gustavo. E quando eu o vejo com nossos meninos correndo entre os girassóis floridos entendo o que é felicidade. Ganhei muito mais do que estava esperando e nunca, mas nunca, mesmo, eu iria imaginar que, aos trinta anos, eu seria uma fotógrafa casada e mãe de três lindos filhos: Tiago com oito anos, Guilherme, cinco anos e Nívea, com dois anos.

Os avós de Gustavo chegaram ontem à noite na fazenda. Luís ainda trabalha na Beneditte Investimentos, mas alterna seus dias entre o escritório e a fazenda.

Pela movimentação, acredito que Gustavo está preparando uma surpresa. Não consegui descobrir o que é. Mas duvido que será melhor que a minha surpresa.

Há alguns dias atrás eu comecei a sentir muito sono e fiquei desconfiada. Fiz um teste de farmácia e, depois, de laboratório e acertei no diagnóstico: nossa família terá mais um integrante!


F  I  M

O ÓrfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora