Larissa não perde tempo. Levanta-se da mesa e vai até a mesa de George e senta-se no lugar que era de Gustavo. Ela encara George e pergunta:
— O que deu no Gustavo, George?
— Também estranhei, Larissa. Talvez você possa explicar melhor. Ele disse apenas que iria para casa.
Larissa conta a conversa que tiveram até Gustavo sair.
— Que tipo de instituição que Gustavo morava? Ele estava na Fundação CASA?
George olha espantado e começa a rir.
— Desculpe, mas sua cara de medo foi hilária. Não... Ele saiu de um orfanato.
Larissa passa a mão em seu rosto.
— Nossa...
— Diga para sua amiga ir com calma com Gustavo. Ele não é fácil de lidar. Este é o número do celular de Gustavo. Mas só entregue para ela se não for para zoar com ele.
George entrega um guardanapo com o número de Gustavo anotado.
— Gente, preciso ir. Não vou deixar o Gustavo ir a pé até a pensão.
— Ele já é grandinho, cara!
— Ele se vira!
— Se acontecer algo com ele, meu patrão me mata! Vou levar ele para casa e volto.
George liga para Gustavo assim que sai do bar. O garoto só atende na terceira vez:
— Onde você está? - George quase grita. — E por quê demorou para atender?
— Desculpe, George... Não estou acostumado com o celular... Estou numa pracinha perto do bar. Por quê?
— Fique aí. Vou te levar para casa.
Era visível a perturbação e o mau humor de Gustavo.
— Quer falar do que aconteceu?
— Não! - Responde Gustavo olhando para fora da janela.
— E da garota? - George vê um pequeno sorriso surgir em Gustavo. — Eu vi você a beijando. Foi o primeiro beijo, mesmo?
George consegue quebrar a resistência de Gustavo, que já fala de Isabela.
O celular de Gustavo toca no exato momento em que o carro para em frente à pensão.
— Alô?
— Gustavo? É a Bela... Tudo bem com você?
— Bela? Como voc... - Gustavo olha para George e ele finge que não é com ele. — Ah... George passou o número, não?
— Sim... Mas se não quiser falar comigo, eu vou entender...
— Não... Quer dizer... Sim! Eu quero.
— Você me deixou preocupada...
— Desculpe-me, Bela. Só um minuto... (George, obrigado pela carona e desculpe pelo transtorno) (Que isso, cara! É pra isso que servem os amigos!).
Gustavo sai do carro e continua conversando.
— Desculpe, Bela. Não era a minha intenção. Não sei o que deu em mim... Pra reagir daquela forma. Você não tem culpa de nada.
— Então me prova...
— Co-como? - Gagueja Gustavo.
— Prova que não está bravo, almoçando comigo amanhã.
— Aff... Ok? Onde?
— Naquele shopping perto da pensão. Nós nos encontramos lá às 11 horas.
— Certo... Até amanhã...
Gustavo desliga o celular pensando no que acabara de acontecer. Isabela não havia fugido dele, como ele esperava. Ao contrário, o chamou para um encontro. "Um encontro? E agora?"
Isabela ficara mais calma depois de conversar com Gustavo e saber que estava tudo bem. Na mesa no bar onde estão, suas amigas riem dela e de sua "cara de boba".
— Vocês não entendem. Ele tem algo diferente dos outros garotos. Até o beijo dele é diferente, gostoso.
— Amiga, você já se apaixonou por ele? - Larissa indaga sorrindo.
— Para!
— E ainda tomou a iniciativa de convidar ele pra almoçar... - Diz Amanda provocando Isabela.
— Para! Vocês duas! - Isabela tenta ficar seria, mas acaba rindo junto com as amigas.
Gustavo entra na pensão em silêncio e com cuidado para não acordar Joana e Antônio. Ele está cansado, não está acostumado a ficar acordado até àquela hora. Toma um banho quente para relaxar, mas não consegue dormir.
Aquele sentimento de abandono persiste, mesmo com toda atenção de Luís e Rebeca. Gustavo tenta se convencer que isso se deve ao pouco tempo de convivência e começa a pensar em tudo o que aconteceu desde aquela tentativa frustrada de falar com Carlos. No fim, ele acredita que tenha sido melhor ter falado com Luís.
Adormece sem perceber, com os pensamentos em Isabela. A garota é linda e demonstra interesse nele! E ainda teve o beijo. E que beijo... Não acredita que teve coragem de tomar a iniciativa e beijar a garota. Seu primeiro beijo... "Será que ela percebeu?"
Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (FUNDAÇÃO CASA/SP), anteriormente chamada Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (FEBEM): sua função é executar as medidas socioeducativas aplicadas pelo Poder Judiciário aos adolescentes autores de atos infracionais cometidos com idade de 12 a 18 anos incompletos, onde podem cumprir reclusão até no máximo a idade de 21 anos completos, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
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O Órfão
Fiksi UmumGustavo é um garoto que morou no orfanato de seus cinco anos até os 18 anos. E agora descobriu que tem um pai e uma família completa. Mas adaptar-se a esta família não será tão fácil.