Capítulo 4

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A semana termina de forma tranquila e o sábado chega para movimentar o orfanato. É o "Dia de Visita", um dia que o orfanato escolheu para abrir os portões para, quem quiser adotar alguma criança, as conheça sem pressão ou ansiedade. O horário é sempre das 14 às 18 horas.

           

Quando os portões do orfanato se abrem, os internos já estão no jardim. O sol está brilhando as árvores fazem sombra para as crianças brincarem no pátio. Gustavo, que usava um colete de monitor, ajuda as noviças a cuidar dos pequenos. Os futuros pais chegam e são orientados a ficar ao redor do pátio, junto com as Irmãs que cuidam do orfanato.

O tempo está passando e Gustavo, mesmo não querendo demonstrar ansiedade, está, a cada instante, olhando em direção do portão. Quer ver e conversar com Luís, apesar de não acreditar que ele virá. Desde o primeiro encontro não teve notícias dele, mas tinha que confiar naquele senhor que apareceu oferecendo a ele uma nova possibilidade de vida.

O dia está terminando quando Gustavo vê Luís entrando pelo portão de braços dados com uma elegante senhora. Seu coração pula em seu peito, mas não sai do pátio onde está. Ele conhece de cor o procedimento de aproximação, mas isso não o impede de, a todo momento, olhar em direção daquele casal.

Não precisa aguardar muito tempo para que a Madre Ana o chame.

Ele chega sorrindo timidamente e cumprimenta Luís dando-lhe a mão, que lhe apresenta Rebeca, sua esposa e avó de Gustavo. Gustavo estende a mão para ela e Rebeca olha sério para Gustavo, depois para a mão dele.

— Era só o que faltava, ficar só no aperto de mão. Estou conhecendo meu neto. Quero abraçar você! - Diz Rebeca exultante. E sem dar tempo para qualquer reação de Gustavo, Rebeca o puxa para um abraço, que sem saber o que fazer, o retribui timidamente.

A Madre Ana fica tensa com este momento, sabe que Gustavo é arredio e tem medo da reação do garoto. Mas para o alívio da Madre, Gustavo afasta-se de Rebeca com um sorriso tímido.

— Tudo bem, Gustavo? - Pergunta a Madre Ana olhando para ele, que se limita a concordar com a cabeça.

— Você terá que se acostumar com sua avó, Gustavo. Beca é expansiva.

— Seu avô Luís me falou que você foi criado aqui. Tentarei ser um pouco mais calma em demonstrar meu afeto. Pelo menos no início...

O comentário de Rebeca tira risos até de Gustavo e a Madre Ana, sente-se mais tranquila e se afasta.

Luís fala à Gustavo que já conversou com seu amigo, dono da pensão onde Gustavo morará, que havia conseguido uma vaga e que Gustavo poderia se mudar assim que saísse do orfanato.

— Eu não me conformo em ver nosso neto morando em uma pensão, Luís. Mesmo sendo a pensão da Joana. Ele deveria morar com a gente, sugere Rebeca com esperança.

— Beca, o Gustavo acha melhor não. Pelo menos até sair o resultado do exame. E o receio dele tem fundamentos.

— Mas eu não concordo! Gustavo, pensa bem. Para que morar com estranhos se você pode morar conosco?

— Bom... Até uma semana atrás, você não me conhecia. Nem sabia que eu existia. Também era uma estranha, não? Não acho que Carlos gostará da novidade. Além disso... Eu não quero ficar muito perto dele.

Rebeca o olha com pena. Aquele garoto passou a maior parte de sua vida em um orfanato. Não sabia o que era ter uma família para si. E agora que tinha, via medo em seus olhos.

Conversam mais um pouco sobre como será a saída de Gustavo do orfanato.

— Gustavo, e sobre a ligação. Você teve algum problema com a Madre Ana? - Indaga Luís preocupado e Gustavo sorri sem jeito, passando a mão no cabelo.

— Ela chamou minha atenção, mas eu estou acostumado com isso. Apesar de parecer brava, nós sempre nos demos bem.

Rebeca toca em Luís para lembrar ele de entregar para Gustavo um embrulho. É um celular.

— Nossos números já estão cadastrados nele, diz Luís. E você já possui uma conta no WhatsApp para podermos trocar mensagens com mais facilidade. Espero que a Madre Ana não se incomode com este presente.

Dizendo isso, Luís faz um sinal chamando a Madre, que logo chega.

— Madre Ana, trouxe um presente para o Gustavo. Mas esqueci de perguntar antes a você se haveria algum problema. Demos um celular para ele.

— Não haverá problema se ele souber como e quando usar. Não é, Gustavo?

— Sim, senhora. - Responde Gustavo.

— Ótimo! Quero conversar com a senhora sobre a saída dele. Pode ser?

— Claro. Gustavo, você poderia ajudar a Irmã Maria com os pequenos? Logo eles devem se recolher.

Gustavo percebe que a Madre Ana está arranjando uma desculpa para que ele não ouça o que ela falará. Mas mesmo assim, despede-se de Luís e Rebeca com um abraço em cada um, para a surpresa de Madre Ana.

Assim que Gustavo se afasta, Luís pergunta quando poderá levar o garoto. A Madre Ana avisa que sábado Gustavo completará dezoito anos. E que, a partir deste dia, poderá responder por si.

— Será que Gustavo se adaptará fora daqui? - Pergunta Rebeca preocupada.

— Ele é forte. Adapta-se facilmente a qualquer situação, analisa Madre Ana. — Não precisa se preocupar. Aliás... Ele me surpreendeu com o tratamento dado a vocês. Normalmente não vemos um sorriso fácil em Gustavo quando há pessoas fora da convivência dele.

— Sério?! - Diz Rebeca assustada.

— Sim. Ele se fechou nos últimos anos. É um bom garoto, só não dá abertura para contatos maiores.

Os três olham para o Gustavo, que está brincando com um menino com cerca de cinco anos no colo.

— Fernando, o menino no colo de Gustavo, chegou há oito meses e Gustavo tem cuidado dele como se fossem irmãos. Quando Fernando tem pesadelos, é Gustavo quem aparece para acalmá-lo.

— Como assim?

— Cada quarto tem um monitor, e colocamos o Fernando no mesmo quarto com o Gustavo, por saber deste lado carinhoso dele.

— E com a saída de Gustavo, como o menino ficará?

— Bom, Fernando já está com a adoção em andamento. Logo terá um papai e uma mamãe para cuidar dele. A saída de Fernando será no mesmo dia que a de Gustavo. Luís disse que vocês têm vários netos, não?

— Temos, sim. Com idades entre quatorze a três anos, Rebeca concorda.

— Ótimo. Gustavo é um anjo perto de crianças pequenas.

— Mas, pelo jeito... O convívio com o pai será um problema... - Fala Luís e Receba completa:

— Isso será um problema entre os dois. Não vamos nos meter mais do que já estamos nos metendo.

Antes de ir embora, Rebeca revela que quer levar o garoto para comprar roupas novas e marca com a Madre Ana um horário para vir buscá-lo.

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