Capítulo 33

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Gustavo

Faz cinco anos que Larissa se mudou para Jaguariúna. E estávamos casados e morando juntos um ano depois. Pensando agora, acho que fomos rápidos em nossas decisões, não tínhamos completado vinte e um anos ainda... Mas tudo se encaixou tão bem que é impossível não pensar que foi o destino quem nos deu um empurrãozinho.

Nos casamos apenas no civil. Larissa não quis uma festa tradicional, ela me disse que não via razão para fazer festa, já que estávamos investindo na compra da metade da fazenda do Sérgio. Juntamos nossas poupanças para isso.

E a festa foi substituída por um almoço de comemoração. Mas na família Beneditte um almoço nunca é um evento pequeno. Comigo éramos em vinte e dois membros e a família de Larissa, apenas três. Sem contar os amigos mais chegados.

A nossa lua-de-mel durou um mês e conhecemos os principais pontos turísticos da Europa e rendeu muitas fotos. Ter uma esposa fotógrafa não tem como esperar menos, certo?

Quanto aos filhos, Larissa não os queria, ao contrário de mim, que queria a casa cheia deles. Nós conversamos muito a respeito e chegamos a um consenso: teríamos apenas um filho, mas não falamos de quando seria. Isso eu deixei para ela decidir.

No Natal seguinte, depois da ceia, Larissa me chamou para a varanda para me entregar um presente. Eu argumentei que a troca de presentes seria apenas no dia seguinte, mas ela insistiu que queria me entregar o primeiro presente naquela hora e me entregou uma caixinha.

Curioso, eu a abri e encontrei um par de sapatinhos, feitos de lã branca. Quando entendi o que significava, gritei de alegria, chamando a atenção dos demais. Ele nasceu há três anos e o chamamos de Tiago.

Larissa, por indicação de seus pais e de Ícaro, começou a trabalhar com uma fotógrafa chamada Valéria No início, fotografando casamentos e aniversários. Mas logo começou a fazer books fotográficos e sua especialidade era usar os campos de flores como cenário. Nem preciso dizer onde ela fazia tais fotos... Vez ou outra, seus pais a chamavam para fotografar com eles, fazendo sua fama aumentar, assim como o trabalho.

Quando Tiago completou oito meses, os pais dela a chamaram para fotografar a Tanzânia, país que ela não conseguiu ir com eles na primeira viagem. Eu via sua indecisão: ficar com sua família ou ir fotografar com seus pais. Sem qualquer dúvida, incentivei Larissa a ir na viagem. Eu e Tiago conseguiríamos sobreviver... E sobrevivemos muito bem (risos). Tanto que houveram mais viagens. A Lari percebeu que eu conseguia cuidar da fazenda e de Tiago ao mesmo tempo (risos).

Sérgio e Rita estão cada vez menos presentes na fazenda. Seus filhos perderam o interesse por ela. Eu não sabia, mas quando cheguei aqui Sérgio procurava alguém para administrá-la. E nesses seis anos de convivência, ele me ensinou tudo o que precisava. No primeiro semestre foi apenas um hectare. No segundo semestre, dois hectares. No terceiro, quatro hectares e, quando percebi, estava com toda fazenda sob minha administração.

Numa manhã, quando estávamos com três anos de casado, Larissa levantou primeiro que eu. O que era estranho, já que gostava de dormir até mais tarde. Passados alguns minutos, saiu do banheiro segurando um objeto.

Ela me olhou com um sorriso de orelha a orelha e me mostrou aquele objeto com dois riscos vermelhos. Eu já tinha visto um daqueles em algum lugar, mas não conseguia lembrar onde. Só entendi quando me mostrou a caixa do tal objeto. Era um exame de gravidez: positivo! E nosso Guilherme estava a caminho.

A princípio imaginei que fora um descuido de Larissa, que esquecera o anticoncepcional. Mas não, ela também desejara o nosso segundo filho. "Você me ajudou a realizar meu sonho de ser fotógrafa, mesmo quando eu nem sabia se era isso que eu queria. Não me custa ter mais um filho seu para realizar seu sonho, Gus".

Quando que, às vésperas de completar dezoito anos, sozinho, sem lugar para ficar ou trabalho, iria imaginar que, com vinte e cinco anos estaria casado, com dois filhos e com a metade de uma fazenda de flores? Nunca! Eu riria de quem me contasse isso.

Mas eu tive muita sorte em encontrar Luís e Rebeca. Foi naquele encontro, na cafeteria, que tudo começou. Ele dissera que, se não fosse meu espírito guerreiro, nada disso teria acontecido.

Só sei que tenho muito a agradecer e cada vez que me reúno com os Beneditte e os Barros, a festa está completa.

O ÓrfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora