Capítulo 7

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Bem, posso te prometer o paraíso
Não há necessidade de se ajoelhar
E quando você está perdido na mais obscuras das horas
Tire um tempinho pra você ver
Não vou dizer quem você não deve ser.

Shepherd of fire
Avenged Sevenfold



Os dias se tornaram repetitivos depois da chegada dos novos integrantes da minha classe.

Eu acordava, ia para minhas aulas, voltava para o quarto, desenhava, comia de vez em quando, passava uma boa parte do tempo no carvalho que eu havia encontrado no dia que eu estava meio que surtando com o início das aulas. Essa era minha rotina.

Algo naqueles rapazes me deixou em um estado de alerta que eu nunca senti na vida. Não diria que é medo, apenas uma sensação estranha de que alguma coisa que eu não quero e possa envolvê-los está para acontecer.

Uma tremenda loucura, óbvio. Além de tudo que eu estou passando, não é uma boa hora para ficar paranóica.

Falei com meus tios algumas vezes em que eles ligavam.

— Você tem que nos mandar notícias, Vall, pelo menos uma mensagem nos avisando que está tudo bem. — repreendeu minha tia Mary. Depois dessa ligação eu passei a enviar uma mensagem a cada dois dias contando como eu estava.

Tenho que assumir que colocava mais firmeza nas palavras que enviava para ela do que eu realmente sentia.

Eu poderia dizer que tudo estava bem, se não fossem pelos malditos pesadelos que me atormentavam todas as noites. Eles voltaram com força total.

Kate estava tão desconfortável quanto eu com aquela situação, ela até tentou me perguntar se estava tudo bem em uma noite em que eu acordei me debatendo e gritando, enquanto ela me sacudia tentando me acordar. Como eu simplesmente a ignorei, ela apenas me deixou de lado.

— Como você pode ser tão participativa nas aulas e ser esse túmulo na vida, garota? — me questiona frustrada.

Eu sabia que de certa forma aquela situação não estava sendo fácil para ela também.

Eu passava as noites me virando e resmungando na cama. Tia Mary me disse uma vez que era algo terrível acompanhar a dor que minha voz transmitia quando eu estava tendo um pesadelo.

Foi assim que descobri que esse preço estava começando a ser cobrado de minha colega de quarto.

— Você é uma pirada que devia estar trancada em um manicômio, Valary. Para mim já deu. — depois que ela esbravejou, saiu do quarto e eu nunca mais a vi, a não ser pelos corredores da Universidade ou nas aulas que temos em comum.

Não posso negar que ela ter se mudado foi um alívio para mim. Eu estava me sentindo extremamente desconfortável por infligir meu sofrimento a ela, mesmo que sem querer.

E suas últimas palavras ficaram em uma constante repetição em minha cabeça: Você é uma pirada que devia estar trancada em um manicômio, Valary.

E se ela estiver certa?

E se meu lugar for em um manicômio com gente como eu?

Mas quem sou realmente?

Foram dias nebulosos os que se seguiram. Eu estava silenciosa nas aulas, que era um dos poucos lugares onde eu me expressava, e o professor me chamou para conversar sobre isso.

— Está tudo bem, Valary? Você anda um pouco dispersa nas aulas. — eu apenas aceno com a cabeça, e ignoro a vontade de gritar que eu estou fingindo, que eu não mereço estar aqui. Que...

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora