Bônus Matthew

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Esse bônus não estava em meus planos, mas Matt queria falar comigo, então estou passando para vocês.



— Nós sentimos muito. — o médico que entrou na sala com os ombros caídos acaba de proferir essas palavras, mas meu cérebro se recusa a processá-las.

— Não. — o mundo a minha volta começa a perder a cor. Sinto como se o que me mantinha preso ao chão não está mais me segurando, e eu estou apenas subindo em direção ao desconhecido.

Minhas pernas criam vida e se movem sem ao menos eu perceber. O ar a minha volta me sufoca, eu preciso sair daqui.

Amy.

A dor que me invade, não pode ser comparada a nada do que já senti em minha vida.

Perder Amy, sempre foi um medo que rondava nossas vidas, mas saber que eu apenas adiantei sua ida vai ser sempre meu maior pecado. Meu maior arrependimento.

Passo pela porta sem ao menos, me importar com as vozes que chamam meu nome as minhas costas.

Eu preciso de distância.

As luzes brilhantes me deixam zonzo por alguns instantes, enquanto percorro os corredores inóspitos. Todos parecem ter sumido. Há apenas um silêncio mórbido a minha volta. Caminho por um longo tempo sem direção certa, mas minhas pernas não param, muito menos se cansam. Apenas me deixo levar.

Meus pulmões parecem estar a ponto de explodir quando paro em frente a uma porta em um setor do hospital que eu nunca estive antes. Algo que me surpreende, pois percorri quase o hospital inteiro nas últimas semanas tentando distrair minha mente. Sinto como se uma voz dentro da minha cabeça tivesse sussurrado em meu ouvido o caminho até aqui.

Minha mão vai direto para a maçaneta e fico ali por alguns segundos, como se aquela porta fosse à única coisa que me mantinha de pé. Algo me dizia para não entrar, mas algo dentro de mim me fez girar a maçaneta e abrir a porta.

Eu já me sentia quebrado, mas a cena em minha frente me parte em mais pedaços que eu tenho certeza, que nunca mais irão se unir novamente.

Encontro apenas um corpo inerte e sem vida coberto por um lençol branco em uma maca. Isso era tudo que havia restado.

Eu queria me virar e sair, no entanto, meu corpo não respondia aos meus comandos. Pensar em deixar o corpo de Amy sozinho nesse lugar estranho, era algo inaceitável.

Me aproximo lentamente com meu coração retumbando em meu peito. Tudo isso parece mais com um cenário de filme de terror do que a realidade.

Deslizo a ponta do lençol e encontro o rosto sem vida, da garota que iluminava meus dias.

Tão pálida.

Tão... sem vida.

Seus olhos sempre tão curiosos, estão fechados.

Sua boca rosada, está pálida.

Seus lindos cabelos que ela tanto amava, sem brilho.

Ali em minha frente está apenas o corpo sem vida que carregava a alma de minha irmã.

Toco em sua pele gelada e seguro em sua mão. Seu toque me desliga de tudo.

Eu não posso.

Não vou conseguir.

A culpa está se apossando de cada célula de meu corpo. Meu coração se parte e eu me perco em minha dor.

— Amy. — seu nome escapa de meus lábios em um soluço repleto de dor.

Sinto um vento gélido em minha nuca, deixando um rastro de arrepios por minha pele. Olho para trás e não há ninguém no quarto, nem como entrar uma corrente de ar pela porta fechada.

Amy.

Soluços presos em minha garganta se libertam, caio no chão com sua mão ligada a minha e me entrego à dor de perder uma das pessoas mais importantes de minha vida.

A garotinha que eu protegi como se minha vida dependesse disso e que no final, acabou se perdendo graças a mim.

Eu jamais vou me perdoar por estar dirigindo aquele maldito carro.

Jamais.

Os soluços se transformam em gritos desesperados, eu queria apenas ter o poder de trazê-la de volta. Eu preciso que ela esteja aqui, eu preciso que ela esteja viva.

Sua pele fria me diz que isso jamais vai acontecer.

— O que você faz aqui? — uma voz na porta me traz de volta a realidade.

Uma realidade que eu daria tudo para ser apenas uma fantasia.

Escuto vozes a minha volta, mas não as distingo em meio ao meu sofrimento. Em seguida sinto braços me erguendo, mas minha mão se recusa a soltar a de Amy, mesmo que sua alma não esteja mais entre nós eu não posso deixar seu corpo aqui.

Eu não posso.

Eu luto com tudo que posso para não me levaram para longe dela. Mas quando escuto a voz de minha mãe, recobro um pouco de minha racionalidade.

— Você precisa a deixar ir querido. Ela não iria querer te ver assim.

Os olhos tristes de minha mãe me fazem recobrar a consciência. E quando os braços que me prendem me libertam, eu me encaminho de novo para a sala de espera sem ao menos olhar para trás. Me encosto em um canto e apenas me arrasto para o chão, coloco minhas mãos sobre meus olhos tentando evitar que mais lágrimas escapem de meus olhos.

E nesse momento me declino diante a minha dor.

Deixo que me parta por dentro. E me mutile para sempre.

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora