Capítulo 37

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Antes de você ir, conte-nos como os céus fluem

Leve sempre, enquanto você anda além daquela porta

Brilhe de verdade para sempre

Roman Sky

Avenged Sevenfold



Dois dias. Faltam apenas dois dias, para entregar a tela para o professor, e eu estou a ponto de arrancar meus cabelos diante do que vejo a minha frente.

A profusão de cores que forma uma imagem desconexa, é como se uma criança de dois anos tivesse apenas jogado tinta sobre a tela.

O quão ridícula sou, achando que iria conseguir fazer a proeza de produzir uma tela com algo decente, que me ajudasse a agradar meu egocêntrico professor de desenho e pintura artística?

— Quero algo que transcenda, Valary. — suas palavras têm me aterrorizado, desde o dia em que trouxe a tela para o meu quarto e percebi que talvez eu não seja capaz de criar algo que esteja à altura do que ele exigiu.

De início eu estava bem confiante. Fiz incontáveis esboços no papel, até que achei que tivesse criado algo decente para passar para o branco alvo da minha tela. Mas no segundo em que peguei a palheta, as tintas e os pincéis, fui preenchida por um pânico que está me deixando desesperada até agora.

Batidas na porta me assustam.

Levanto do chão, onde estava sentada há horas, observando a obra-prima que produzi.

Abro a porta e encontro Hank, com um grande copo de café me olhando assustado.

— Meu Deus, Vall! Você parece como um cesto de roupas sujas. — pego o copo de suas mãos e entro no quarto sem ao menos o convidar para entrar. — A quantos dias você não toma banho? — ignoro sua pergunta e me sento na mesma posição de antes, admirando a terrível tela disposta a minha frente.

Escuto-o fechando a porta e se sentando ao meu lado.

Depois da noite em que nos esbarramos, Hank e eu construímos uma amizade bem sólida para o pouco tempo em que estamos nos falando. É como se o destino estivesse nos dando um presente para aliviar a falta de Amy em nossos corações.

Ele é praticamente minha única fonte de comida decente que tenho ingerido nos últimos dias. E eu poderia colocá-lo em um altar pelas vezes que me trouxe café.

As últimas semanas têm sido tão estressantes, só consigo pensar que tenho que finalizar essa tela a tempo. Por sorte, essa minha obsessão me fez esquecer outros assuntos. Mas estou a ponto de enlouquecer da mesma forma.

— O que exatamente você... — se cala quando me viro para encará-lo e o pego olhando para a tela.

— O que exatamente eu? — cerro meus olhos diante de seu desespero.

— O que você quer passar com esse quadro? — responde mansamente.

— Eu sei que está uma merda, ok? Não precisa ficar cheio de dedos comigo. — o alívio em seu rosto ao ouvir minhas palavras é visível.

— Estou aliviado por você saber que isso... — aponta para o quadro com uma expressão de horror. — está horrível. Por um segundo fiquei preocupado que teria que te dizer isso.

— Ohhh, cale a boca, Hank. — brado irritada. Levanto rapidamente e coloco o copo com café no balcão e vou em busca de cerveja na geladeira. — Não consigo fazer isso! — abro a garrafa e me sento na cama derrotada.

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora