Capítulo 1

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Puxo a coberta e me levanto depois de mais uma noite agitada, meu corpo cansado protesta, mesmo depois de ter dormido — olho no relógio da mesinha, já são nove horas —, oito horas direto.

Esses pesadelos são tão reais e intensos, que meu corpo sofre as consequências como se eu estivesse realmente revivendo tudo novamente.

Pego minha toalha e vou para o banheiro. Com a água escorrendo pela minha pele, fico pensando em como será minha vida de hoje em diante.

Será que o sonho que tive é um presságio para me avisar de que ainda não estou pronta para dar esse passo? Que a decisão de ingressar na universidade cinco anos depois do acidente, ainda é precipitada?

Trabalhei essa ideia arduamente no último ano com minha terapeuta, Dr.ª Hunting. Foram incontáveis sessões falando sobre isso.

— Qual o verdadeiro motivo para você não querer ir para a universidade, Valary? — Nem sei quantas vezes ela me fez essa mesma pergunta.

Minha resposta sempre foi à mesma: não sei.

Uma de minhas muitas mentiras. Eu sabia exatamente o motivo de não querer dar esse passo. Mas se eu tentava ocultar essa verdade de mim mesma, como eu poderia proferi-la para outra pessoa.

No entanto, tudo mudou em umas das sessões, na semana em que completaria quatro anos do acidente. Eu estava tão sensibilizada que acabei abrindo meu coração para ela sem ao menos perceber.

— Eu não posso seguir em frente. Hilary tinha tantos planos sobre tudo que queria fazer na universidade, não é certo eu ter essa experiência se ela não pode. — Surpreendi a mim mesma depois de pronunciar essas palavras.

Ela anotou algo em seu caderno que sempre estava em seu colo e me deu um sorriso, não qualquer sorriso, ela sorriu da forma que sempre sorria quando eu me abria verdadeiramente. Depois de quase quatro anos de sessões, aprendi algumas coisas sobre ela também.

Dr.ª Hunting é a única pessoa, além dos meus tios, com quem converso. Mesmo que nossos diálogos em algumas situações se baseiem apenas em suas perguntas e meus acenos de concordância ou negação.

Depois de várias sessões extremamente complicadas, acabei aceitando o fato de que, talvez, trilhar meu próprio caminho e ir para universidade não fosse uma ideia tão ridícula como pensei que fosse. Eu precisava de um recomeço e dar esse passo foi tão ou mais difícil, quanto começar a ir às sessões depois do acidente.

O primeiro passo foi muito difícil, eu não queria de forma alguma ir até ela, no entanto, foi graças a sua insistência e de meus tios que estou um pouco melhor hoje. Tentando com pequenos, mas grandiosos passos voltar aos poucos viver.

Conviver com a culpa que carrego dentro do peito quase me destruiu.

Literalmente.

Há alguns anos, em uma noite onde a dor era quase insuportável, não fui capaz de esconder o quanto eu estava quebrada.

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora