— Valary? — Tia Mary vem me chamar como todos os dias.
Vou sentir falta disso.
— Pode entrar, tia. — A porta se abre e ela vê que já estou praticamente pronta.
— Seu tio está esperando para gente tomar café da manhã, temos que sair logo para não pegarmos tanto trânsito até o aeroporto — sua voz está contida. Sei que ela está sofrendo com a despedida à frente.
Esse era meu maior medo. A despedida.
Não sei o que fazer, não sei como lidar com essas coisas. Dizer um tchau me parece tão frio da minha parte depois de tudo que eles fizeram por mim. Sei o quanto os últimos anos têm sido difíceis para eles.
No fundo, sei que minha tia se sente culpada por eu estar fazendo isso. Seus olhares pesarosos em minha direção, quando ela acha que não estou reparando, me dizem isso, pois ela sabe que por detrás de minha decisão, o verdadeiro motivo da minha mudança é tirar o fardo das costas deles. Se fosse por minha livre e espontânea vontade, eu provavelmente nunca sairia dessa casa.
— Tudo bem, tia, já estou descendo. — Ela olha em volta.
— Quer que eu desça alguma coisa?
— Precisa não, tia, tá tudo sob controle. — A grande mala que vou levar está no canto do quarto.
Ontem despachamos as caixas com as minhas coisas. Ficou só essa mala com minhas roupas e a pasta com meus desenhos.
Ela dá um sorriso forçado e fecha a porta. Respiro fundo por alguns instantes. Está na hora. No entanto, meus pés simplesmente não entendem meu recado e fico paralisada ao lado da minha cama.
Eu deveria estar sentindo alguma coisa, certo?
Talvez tristeza por estar partindo, saudade por deixar a única família que tenho para trás.
Vivi tantas coisas nos últimos cinco anos nesse quarto, ele foi meu refúgio nas minhas piores crises.
Mas o único sentimento que se faz presente é o medo.
Não quero admitir, muito menos deixar transparecer que estou morrendo de medo de dar esse passo.
Pensar no rosto triste de minha tia é a única coisa que faz meu coração se apertar um pouco. Mas eu preciso fazer isso exatamente para que ela tire essa expressão preocupada que carrega no rosto.
Pego a toalha molhada e coloco no cesto de roupa, pego minha bolsa, a mala, dou uma última olhada a minha volta e saio.
*
Despedidas são terríveis, especialmente quando você não sabe o que fazer.
Assim que terminei o check-in, ficamos eu, tio Paul e tia Mary, sentados esperando a hora do embarque. Os três parados, sem assunto, sem saber como agir ou o que fazer.
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Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)
Chick-Lit[COMPLETO] ****CONTEÚDO ADULTO**** A vida colocou Valary Sanders diante de caminhos tortuosos em inumeráveis situações. Situações as quais, as consequências foram quedas que a fizeram sangrar até quase a morte. Um acidente que lhe tirou tudo de m...