Capítulo 36

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Nossa verdade é pintada através do céu
Em nossa reflexão, aprendemos a voar
Nenhuma mão nos segura
Ninguém para nos salvar do amanhã  

Exist

Avenged Sevenfold


Os dias vêm se arrastando desde meu último encontro com Matt.

Vinte e dois dias, para ser mais exata, já se passaram — mas quem está contando mesmo? —, e ainda estou tentando digerir a ideia de que deixá-lo ir é o caminho certo a percorrer.

Isso vem me consumindo e tenho estado aérea em todas as outras áreas da minha vida.

Estou vivendo em uma tormenta sem fim, dia após dia.

Penso nele de manhã quando acordo, nas aulas durante o dia, e a noite é a parte mais difícil de encarar. A solidão e o silêncio do meu quarto dão vida a todas as minhas lembranças, que se transformam vividamente em imagens, e me deixam algumas vezes excitada, outras triste, mas em sua maioria, me jogo em um estado de desespero difícil de lidar.

Venho lutando para ser forte, tenho me arrastado da cama e vindo às aulas todos os dias, o semestre está chegando ao fim e não posso nem pensar em ficar retida.

Com o Dia de Ação de Graças se aproximando, tia Mary está insistindo incansavelmente para que eu volte para casa, para passar o feriado com eles. Estou morrendo de saudades dos meus tios, não nos vemos há meses. No entanto, fico procurando desculpas para não ir. Mesmo que eu saiba que realmente não existe um motivo concreto para eu não querer ir visitá-los, já que nada me prende aqui.

Matt.

Mesmo que eu negue, é fácil deduzir que meu motivo seja ele. Bem lá no fundo, ainda tenho esperança de que ele bata na minha porta em algum momento.

Ridículo, eu sei? Mas é algo que não posso evitar querer. Mesmo que minha mente diga algo, meu coração é teimoso demais para aceitar.

Casa. O jeito como a palavra dança sobre minha língua, como se estivesse a rejeitando é loucura.

O único lugar que eu chamei de casa, verdadeiramente, já não existe mais há um bom tempo, e a casa de meus tios se tornou uma espécie de refúgio depois de tudo. Mas eu nunca me senti realmente em casa lá.

Me sinto mais confortável em meu quarto no campus da universidade, do que já me senti lá.

Não que meus tios não tenham tentado de tudo para que eu tivesse o melhor. Culpe a quantidade de merda que tive que enfrentar. Cinco anos lutando com fantasmas e demônios gerados pela culpa, não é algo muito fácil de lidar. Hoje percebo que se eu não tivesse me obrigado a encarar meus medos e superar meus traumas, longe de tudo, eu ainda estaria me escondendo em meu quarto.

Cheguei a um ponto da vida, onde eu sabia que precisava voltar a viver, a ajuda de meus tios e o tratamento com a Dr.ª Huntington, foram de grande ajuda, eu não chegaria aonde cheguei sem eles, mas eu só consegui realmente me reerguer, depois que tomei as rédeas, e decidi que eu precisava tomar uma atitude e dar um rumo na minha vida.

E hoje estou aqui, perdi alguém que foi uma peça fundamental na nova fase que estou vivendo, meu coração está partido em um bilhão de pedacinhos, mas ainda estou de pé. Mesmo que cambaleando ainda estou aqui.

Perdida em pensamentos, me assusto com o barulho de algo sendo jogado em minha mesa com força.

Uma maleta de madeira como as que a maioria dos alunos usa para pintura em tela, está disposta a minha frente, com meu professor me encarando de forma nada amistosa.— O que é isso, professor? — minha total falta de atenção se torna um fato comprovado diante de sua carranca.

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora