Capítulo 20

304 38 69
                                    

Eu peguei as flores de supermercado do peitoril da janela
Joguei fora o chá velho
Empacotei o álbum de fotos que Matthew tinha feito
Memórias de uma vida que foi amada
(Supermarket Flowers, Ed Sheeran)

Allegra tinha dez anos quando a professora pediu para que as crianças fizessem uma entrevista com o pai. Ela se lembrava perfeitamente o quanto chorou ao chegar em casa e não ter mais o pai por perto. Alegria ficou embaixo da cama, chorando por ser a única da classe que não apresentaria o trabalho e, consequentemente, não apresentaria junto com os colegas a canção que havia ensaiado.

O choro da pequena atraiu o avô que passava cheio de caixas. Ele franziu a testa, ao encarar seus pés não estarem totalmente escondidos sob o móvel. Ele largou os objetos no chão, abaixando-se para vê-la melhor.

- O que foi, Allegrinha?

A garota arrastou-se, saindo de debaixo da cama. Sentou, encarando a parede de costas para o senhor.

- O que foi, meu anjo? - Ele sentou-se sobre a cama, a observando. A garota negou com a cabeça, deixando que as lágrimas lavassem seu rosto já ruborizado. - Venha aqui, querida.

Ela, com um certo esforço, levantou, sentando sobre uma perna do avô. Ele limpou seu rosto, a encarando.

- Por que está chorando, Allegra?

- Porque... - A garota tentou falar, mas as lágrimas voltaram a atrapalhá-la. Respirou fundo, fechando os olhos com força. - Porque eu sou a única da minha sala que não tem pai para fazer a atividade de Dia dos Pais.

- Oh, meu anjo...

Ele a abraçou forte, beijando o topo de sua cabeça. Os soluços chegavam a doer na alma do senhor.

Esse iria ser o primeiro Dia dos Pais em que Omar não estaria presente de nenhuma forma.

Seu João murmurou para a garota as palavras de que ela precisava naquele momento tão doloroso.

- Sabe, querida, se você quiser eu posso fazer essa entrevista com você.

- Mas o senhor é meu vô.

- Se você quiser eu posso ser as duas coisas, meu anjo.

Ela sorriu, ainda com o rosto inchado. Fez que sim com a cabeça, aninhando-se ao abraço de seu avô/pai.

Afonso a ajudava a caminhar de volta para casa. Ela ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido. Nem mesmo seu amigo conseguia demonstrar-se forte o suficiente para a amiga em prantos. Ele estava tão arrasado quanto ela, porém, estava fazendo de tudo para que ela não ficasse ainda pior.

- Eu... - Disse com a voz embargada. - Eu não consigo acreditar que...

- Vem cá, Allegra. - Ele beijou sua cabeça, a abraçando.

À passos lentos chegaram a residência da garota. A avó estava com Flora e Júlio na calçada. Allegra correu para abraçar a senhora também em prantos.

- Vovó... - Desabou em lágrimas, sendo envolvida pelos braços da mulher. - Como isso... Por quê?

- Eu não sei, minha filha. Ele estava reclamando que estava se sentindo mal e uma dor. Falei para ele se deitar um pouquinho e quando fui lá no quarto vê-lo... ele... - Ela pôs uma mão na boca, sentindo a dor invadi-la novamente. - Seu avô já tinha morrido. Eu pensei que ele tinha dormido, mas aí... - Negou com a cabeça, sentando novamente na cadeira. - Ele não estava respirando.

- Vó...

Soluçou, ajoelhando-se em frente a ela. A senhora alisou suas costas, confortando-a.

Sorria Alegria! |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora