Capítulo 41

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Eu ainda estou aqui
Perdido em mil versões irreais de mim
Estou aqui por trás de todo o caos
Em que a vida se fez
(Me Espera, Sandy)


Mais um dia sem sequer olhar para Afonso. O garoto nunca mais mandara nenhuma mensagem ou aparecera na padaria como de costume. Allegra só conseguia sentir raiva de si mesma... Gostaria de poder voltar no tempo...

Suspirou, enterrando a cabeça nas mãos enquanto fechava os olhos com força, como se assim pudesse ter poder sobre qualquer coisa. Voltou a encarar a tela do computador.

A cada minuto o seu sonho de ingressar na faculdade ficava tão próximo e tão longe...

— E então, querida? — Vilma adentrou ao quarto, sentando-se na cama da neta.

— Ainda estou esperando... — A garota falou, apreensiva. — Estou com medo, vó...

— Por que?

— Bem... — Ela deu de ombros, virando-se para a senhora. — Eu tenho medo de mais isso sumir da minha vida.

A mulher suspirou, compreendendo que não se tratava apenas do curso. Alegria estava com medo de perder também o seu maior sonho. Já não bastava seus parentes e Afonso, agora também poderia correr o risco de ter que esperar mais tempo para realizar um sonho de criança? Um desejo de criança que ultrapassou os limites da fantasia e passou a acompanha-la todos os dias.

A menina sentiu o coração comprimir com mais um dia cheio de lembranças. A mulher ao seu lado sorriu, tomando sua mão.

— Allegra, você conversou com o Afonso?

— Sim.

— E então? O que ele disse? O que ele...

— Eu disse que não amava ele igual ele me amava, vó. — Ela a encarou com os olhos cheios de lágrimas. O espanto era visível a todos no rosto da avó da menina. — Eu sei que a senhora vai enlouquecer, mas... vó, eu não sei se o que eu estou sentindo por ele é um sentimento maior ou só raiva e falta da nossa amizade. Eu simplesmente não sei!

— Oh, meu amor...

— Eu não sei.

A garota grunhiu, cobrindo o rosto com as mãos. Logo foi amparada por um abraço materno tão caloroso que ela chegava a acreditar que tudo iria melhorar.

— Eu tenho certeza que vai ficar tudo bem, ok?

— Gostaria de ser assim...

Vilma sorriu, a abraçando mais forte e murmurando com toda a calma que transmitia. Com todo o amor que tinha...

— Allegra, você é amada por alguém, isso não é motivo para lágrimas.

— Só quando a gente não sabe se ama de volta, vó...

A senhora afastou-se, dando fim ao abraço e segurando as mãos da neta. Sorriu gentilmente, logo limpando mais uma lágrima que escorria pela bochecha dela.

— Só quando ama e não sabe disso, querida.

Allegra queria fazer daquelas palavras, um mantra para sua vida, mas ela não conseguia. Sua mente estava a mil e ela não podia colocar mais uma coisa na cabeça. Seu coração estava quebrado e dolorido, mas naquele momento o que importava era o seu cérebro. E ele dizia que Alegria devia deixar o amor de lado e focar no seu futuro.

Sorria Alegria! |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora