Capítulo 29

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— Olha — Suspirou, fechando os olhos para tomar coragem. Os abriu logo em seguida, encarando atentamente o amigo. — Eu vou fingir que aquela coisa maluca de ontem não aconteceu, ok? Vamos esquecer aquilo, por favor, certo? — Pôs as mãos nos bolsos traseiros do short. — A gente já brigou e eu não quero que isso aconteça de novo, sabe? Principalmente por uma bobagem dessas...

Apesar de estar em pedaços, Afonso concordou com a amiga. Ela suspirou aliviada, sorrindo sem jeito. Ele, por outro lado, contentou-se em balançar a cabeça de forma afirmativa e mecanizada e voltar a limpar sua moto.

O silêncio de velório preencheu a garagem onde estavam.

Allegra sacou o celular do bolso, atendendo a chamada de Nic no mesmo instante. Tomando um pouco de distância em busca de mais privacidade, acabou chamando a atenção dele do mesmo jeito.

— Ah, oi, Nic. — Sorriu baixinho.

O garoto ficou encarando-a por tempo suficiente para declarar o quanto o cara do outro lado da linha era sortudo. A conversa que escutava era como se fosse diversos socos no seu estômago. Para ele, aquela conversa entre os dois era como se fosse uma placa escrita em letras em neon com os dizeres "Com coragem para tudo. Mas com medo de lutar pela garota que ama". E era justamente o que ele era: um garoto que enfrentava (e gostava) de desafios, mas não conseguia enfrentar o maior deles, falar o quanto a amava. Aquilo era o único desafio que ele simplesmente não conseguia vencer. Apenas por medo.

Talvez isso possa até parecer idiota, mas era exatamente assim que ele se sentia.

Afonso não compreendia porque para coisas absurdamente perigosas tinha coragem, mas para outras tão simples não. E isso o irritava. Muito, na verdade.

— Sério? — Ela sorriu, dando pulinhos enquanto ouvia atentamente o que o rapaz falava do outro lado da linha.

O loiro levantou a cabeça, se intrometendo descaradamente — e "discretamente" — na conversa dos dois.

Algo como "pedido" ou "convite" preenchiam sua mente de tal forma que ele sequer achava que um dia iria esquecer aquelas palavras.

— Sim, claro! — Alegria respondeu entre risos e com um rosto levemente ruborizado. — Tudo bem sim, seu doido.

Aquela gargalhada que mais se confundia com a mais bela das músicas para Afonso fez-se presente e ecoou pela garagem. Ele a fitou, sentindo um misto de sentimentos em seu peito.

Vê-la sorrindo era como ver uma escultura da Antiguidade Clássica. Era tão bela e delicada...

Mas ao mesmo tempo que ela era uma obra prima dos gregos na Antiguidade, ela também era aquela fotografia de qualquer hora ou aquela sensação boa de nostalgia. Ela era espontânea, não ensaiava suas emoções. Allegra era o tipo de pessoa que não tinha nenhum problema em sorrir. Assim como não havia nenhum em chorar... Talvez fosse isso o que o encantava tanto nela, Allegra não reprimia o que sentia. Por isso que ela era a Alegria dele...

A garota desligou o celular, flagrando o amigo no mesmo instante. Ele corou, desviando o olhar para sua motocicleta.

— Sua mãe não te ensinou que é feio ouvir a conversa dos outros não, Afonso? — Ela sorriu, sentando-se no chão e próximo dele.

— Você não é "os outros" para mim. — Deu de ombros.

— Mas mesmo assim...

Sorria Alegria! |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora