Não vou deixar você se afastar de mim, não
Porque tudo começa a fazer sentido agora
Não vá embora, não
(Sentido, Mar Aberto)As malas já estavam prontas e com elas, Allegra também carregava uma saudade antecipada daquele lugar que nunca pensou em deixar. Seria mais fácil, principalmente pela questão de locomoção, que ela fosse morar de vez na capital. Pelo menos, assim, a garota não teria uma rotina tão cansativa...
Mas, infelizmente, ir morar em outro lugar significaria ficar longe de seu melhor amigo, se é que eles ainda eram... Ela não queria ficar longe daquele que era o seu porto seguro, mas talvez aquilo fosse o destino, afinal.
A garota suspirou, deixando os ombros caírem. Sentou-se no chão da sala vazia, apoiando o queixo nos joelhos e encarando aquele lugar que era cheio de lembranças boas. Doeria não mais ver o seu avô em cada cantinho da casa ou lembrar de sua infância amada que passara naquela casa e também fora dela. Doeria muito não ver as pessoas da vizinhança e a presença de Afonso — que já estava escassa, na verdade — todos os dias.
Porém, ela não iria necessariamente esquecer de tudo. Ela apenas iria fazer daquelas memórias apenas lembranças e não cotidiano de sua vida. Ela não precisava carregar mágoas para toda a vida, assim como não precisava lamentar-se a todo momento por certos acontecimentos. Claro que em seu pensamento tudo estava fácil, mas levaria algum tempo para que Alegria colocasse isso em prática.
A menina encarou a tela do aparelho celular na esperança de que alguma mensagem indicando o contato de Afonso brilhasse na tela, porém nada aconteceu.
Haviam se passado muitos dias desde a última vez que eles se encontraram, da vez que o garoto discutiu com Nic e disse que a amava.
Ela só queria pedir desculpas, dizer que também o amava... Mas ela não tinha uma plena certeza se o amor que sentia por ele ia além de algo fraternal.
Suspirou, enterrando o rosto nas mãos e murmurando coisas inaudíveis. Sua avó apareceu, atraindo sua atenção e a fazendo levantar o rosto para encara-la.
— O pai do Afonso disse que iria nos levar.
— O Afonso vai também? — A garota levantou-se num salto, sentindo o coração disparar. Um sorriso habitou seus lábios, seus olhos também sorriram só com a menção de o loiro ir junto.
— Bem... — A mulher abaixou o olhar, dando de ombros e mordendo os lábios, apreensiva. A alegria da menina logo foi se esvaindo, até ir embora por completo quando dona Vilma completou seu raciocínio. — Receio que não, querida.
— Ah... Tudo bem. — Ela deu de ombros, sorrindo sem humor. A encarou novamente, querendo mudar logo o rumo da conversa. — Então, ele vem de que horas?
— Ele já está chegando. Flora também nos fará companhia e talvez passe a noite conosco. — A mulher sorriu sem mostrar os dentes. Viu a tristeza nos olhos da neta, sentindo um aperto no peito. — Filha, por que você não fala com o Afonso?
— Vó, acho que ele não quer me ver nem pintada de ouro!
— Que conversa! — Ela sorriu, segurando uma mão da garota. — É claro que ele quer te ver. Sabe, você vai se mudar e quem sabe quando você terá mais tempo de ficar viajando a toda hora? — Allegra sorriu fraco, sentindo os olhos arderem por causa das lágrimas. — Você precisa ao menos se despedir direito dele... Quem sabe assim vocês não se entendem de uma vez, certo?
— Tem certeza, vó?
— Vamos lá, minha querida!
Alegria sorriu, limpando o canto dos olhos, abraçando a senhora com todo o amor que sentia.
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Sorria Alegria! |✔
Ficção Adolescente| FICÇÃO ADOLESCENTE | L | __________________ "É que a gente quer crescer E quando cresce quer voltar do início Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido" Era Uma Vez, Kell Smith Allegra Martins é uma garota tão peculiar quanto o...