Capítulo 35

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Não estou disposto
A esquecer seu rosto de vez
E acho que é tão normal
Dizem que eu sou louco
Por eu ter um gosto assim
Gostar de quem não gosta de mim
(Na rua, na chuva, na fazenda; Kid Abelha)

A menina não conseguia parar de pensar nas palavras de sua avó. Tudo ficava girando em sua cabeça e ela não conseguia encontrar nenhum sentido para quilo... Para Allegra todas aquelas atitudes de seu amigo simplesmente não passavam de... simplesmente uma amizade verdadeira de infância. Não tinha como confundir aquilo! Era a coisa mais estúpida que já pensara...

Mas, então, de repente, aquela estupidez que julgava ser começou a fazer um pouco de sentindo (ou ela achava que sim) quando lembrou-se daqueles momentos estranhos em que o tempo parecia congelar e seu coração acelerava de tal forma que a garota nem sabia que era possível. Allegra se lembrou daquele dia antes de ver o treino do amigo; lembrou-se de alguns olhares; lembrou-se do dia em que ele tentou beija-la...

A menina arregalou os olhos, esbarrando sem querer na estante de livros em seu quarto e fazendo um baita barulho. Murmurou um xingamento baixinho, sem conseguir acreditar que aquilo que sua avó falara tinha sim fundamento.

Como foi tola! Como foi cega...

Ela continuou encarando alguns livros caídos no chão, voando para os pensamentos caóticos que não queriam deixa-la em paz.

Ela devia ter sido mais atenta... bem que seus avós sempre diziam que ela era muito distraída. Talvez, se Alegria tivesse sido mais prestativa teria notado alguns comportamentos diferentes em seu amigo. Afonso a olhava com um brilho mais intenso nos olhos... Por vezes com um sorriso apaixonado acompanhando sua expressão ou um sorriso magoado...

Por mais que tivesse achado estranho (talvez bizarro) aquele momento em que seu melhor amigo quis a beijar, Allegra nunca associou aquilo a um amor maior que amizade. O que passou pela sua cabeça foi que ele tivesse bebido alguma coisa no dia anterior e ainda estivesse com um pouco de álcool no sangue. Claro que ela tinha arrumado uma explicação para aquilo!

Mas agora tudo tinha outra visão para ela. E foi aí que a ficha caiu totalmente e não tinha mais como negar que aquilo não era nenhum de seus sonhos malucos ou algum universo alternativo ao que vivia. Era real.

Agarrou os livros contra o peito, sentando-se sobre o colchão e mordendo os lábios. Sua testa franzida e sua cara confusa denunciava um misto de emoções que nem a garota conseguia identificar direito. Uma mensagem foi o que a fez emergir daquele mar de agonia.

Afonso [15:27]:

Já escolhi o filme! Você ama... e chora muito quando assite :P

Porém, todo aquele misto de sentimentos que sentia voltou o mais forte possível quando leu a mensagem de seu amigo. Ela só conseguia pensar em como havia sido tonta em não ter notado aquilo. E também se sentia muito mal por tudo aquilo que estava acontecendo...

Ela além de estar se sentindo um pouco traída por Afonso, por ele sentir algo mais que uma simples amizade de infância, Allegra se sentia muito mal por não corresponder aquele sentimento que só naquele momento percebera. Ou quis perceber...

Fechou os olhos devagarinho, rezando para que quando os abrisse tudo não passasse de um reles pesadelo. Mas a garota quase engasgou quando ao os abrir ver como primeira coisa um garoto parado a porta, sorrindo bobamente e exibindo um DVD de Sempre ao Seu Lado para ela.

— Droga... — Murmurou baixinho, cobrindo o rosto. — Não, isso é mentira. Isso é mentira!

O loiro franziu a testa, aproximando-se dela e sentando ao seu lado. Ele jurava que ela ia gostar do filme e de um pote de sorvete que comprara especialmente para aquela ocasião. E de ele milagrosamente não ter se atrasado!

— Ei, pensei que você ia ficar, sei lá, feliz em me ver. — Ele tocou seu ombro, fazendo-a encara-lo. — Que foi?

— Nada não. — Desviou o olhar para o chão, nervosa.

— Hum — o menino fez careta, logo voltando-se para o filme em seu colo. —, eu trouxe sorvete e... — Deu uma cotovelada nela de leve na tentativa de a fazer sorrir, mas conseguiu apenas um olhar distante. Engoliu em seco, mostrando a capa do filme. — Esse foi eu que comprei.

Allegra esforçou-se para sorrir abertamente, mas era impossível. Não conseguia ainda acreditar que o garoto ao seu lado lutava contra um amor que só Deus sabe quando tivera início, tudo isso só para continuarem amigos. Ela teve vontade de chorar, mas conteve-se.

Mordeu os lábios, esboçando um sorriso fraco, tentando agir naturalmente como sempre fazia. Mas Afonso sabia que alguma coisa estava errada, não importava o quanto ela quisesse disfarçar.

— Então... — Sorriu, encolhendo os ombros e pegando o DVD em mãos. Ela iria se esforçar para, naquele momento, não demonstrar o caos que se assolava em sua mente. Talvez aquele filme fosse bom para relaxar... — Vamos chorar um pouquinho?

— Trouxe até sorvete! — Ele riu, falhando em esconder o rubor em suas bochechas. — Acredita que o pote no supermercado estava de quase dezessete reais?

— E você pagou?

— Poxa... — Ele revirou os olhos, se levantando e indo em direção a cozinha. Allegra foi atrás, vendo-o praticamente em casa tirar a sobremesa do congelador. — Dessa vez eu paguei.

Deu de ombros, pegando duas colheres que estavam limpas sobre o suporte para a louça. Entregou-lhe uma, seguindo para a sala. Sentaram no sofá, já devorando aquele doce maravilhoso.

— Mas eu me arrependi e quase tive um ataque cardíaco quando vi o preço dessa coisa! — Falou de boca cheia. — Então, acho melhor nos entupirmos dessa coisa até não sobrar nada, por favor.

Ela sorriu, concordando com a cabeça.

— Pode deixar. — Colocou mais um pouco do sorvete na boca, pegando o pote para si e mandando o garoto colocar o filme para rodar.

Sentaram-se largados no sofá, apenas lanchando e assistindo ao filme que fazia Alegria chorar sem sentir.

Ele a olhou de relance e ficou aliviado quando viu que ela estava entretida demais no longa-metragem e na sobremesa. Sorriu fraco, sentindo o coração aquecer só com aquele jeitinho tão único que só Alegria tinha. Afonso tentava esquece-la, mas não conseguia. O loiro já havia conhecido outras garotas, mas nenhuma chegava a um décimo do que aquela menina ao seu lado era.

Ela era e sempre seria seu primeiro amor, talvez fosse por isso que, por mais que tentasse, não conseguia esquece-la jamais.

Já Allegra, bem, ela queria esquecer pelo menos naquele momento que havia alguém totalmente apaixonado por seu jeitinho de ser e que, infelizmente, ela não podia corresponder.

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Demorou, mas finalmente nossa menina moça enxergou algumas coisinhas... kkkk

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TCHAU!


Sorria Alegria! |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora