Capítulo 39

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Olho pra você, processo em transição
Recuo ao deixar o seu falar
Abrir sorrisos com poemas de lágrimas
Sorrir com suas lágrimas
(Poema de Lágrimas, OutroEu)


Era o último dia do ano, mas continuava sendo mais um em que ambos deixavam mais uma vez de falar o que deviam. Ela, de conversar com o amigo; e ele, de dizer o que sentia. Mas, talvez, um dos dois devesse dar o primeiro passo. E Alegria havia reunido toda a coragem de que precisava para livrar daquele peso que caía em seus ombros e daquela sensação esquisita no coração.

As duas famílias também tinham o costume de ficarem juntas no último dia do ano. Os pais de Afonso ficavam na calçada, com os outros vizinhos bebendo e jogando conversa fora. A avó da garota os acompanhava, exceto nas bebidas alcoólicas.

 Eram mais ou menos umas oito horas da noite quando as duas chegaram a residência dos Nunes. Todos estavam ali, como nos outros anos.

Allegra sentiu o estômago se contorcer quando Afonso chegou perto e a envolveu num abraço carinhoso. Ele murmurou, sorrindo.

— Que esse ano acabe logo, não é?

— É...

A menina concordou com a cabeça, sentindo uma pontada no peito. Fitou os olhos bicolores do amigo ganharem um quê de decepção por ela nem se dar ao trabalho de agir como a Alegria que sempre fora. Ela não queria ser assim, mas era difícil olhar naqueles olhos e fingir que nada estava — ou tinha — acontecido.

O loiro franziu a testa, encolhendo os ombros e colocando uma das mãos no bolso enquanto a outra segurava a lata de cerveja.

— Allegra, você...

— Me desculpa, Afonso. — Ela falou, num fiapo de voz. O garoto franziu a testa, sem entender.

— Pelo o quê?

Alegria o encarou nos olhos, querendo contar tudo de uma vez, mas nenhum de seus pensamentos conseguia ganhar forma em palavras. Nenhum.

— Hein?

Ela mordeu os lábios, lembrando-se do Natal e de como havia se saído na última conversa de verdade que tiveram. Ou nem tão verdadeira assim...

— Desculpa pelo Natal. — Deu de ombros, colocando as mãos no bolso da calça jeans preta. — Eu fui um pouco grossa...

— Na verdade... — Ele riu sem mostrar os dentes, caminhando para o meio fio, sentando-se logo em seguida. A menina fez o mesmo, mordendo os lábios e fitando os pés, desconfortável. — Você foi bem grossa. — Ele riu fraco, tomando mais um gole da bebida. — Tipo, sem motivos!

Allegra abaixou a cabeça, fechando os olhos com força, desejando que aquilo fosse uma piada. O menino franziu a testa, achando-a esquisita.

— Teve algum motivo?

Ela respirou fundo, levantando o rosto e encarando as outras casas do outro lado da rua. Queria falar, mas a única coisa que conseguiu foi acenar a cabeça ao virar o rosto e encara-lo.

— Foi alguma coisa que eu fiz?

Afonso falou aquilo com uma tristeza que partiu seu coração ainda mais quando a menina confirmou mais uma vez, em silêncio. Alegria repousou o queixo sobre os joelhos, juntando as pernas e as abraçando.

 Alegria repousou o queixo sobre os joelhos, juntando as pernas e as abraçando

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