Capítulo 38

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Era uma vez,
O dia em que todo dia era bom Delicioso gosto e o bom gosto
Das nuvens serem feitas de algodão Dava pra ser herói
No mesmo dia em que escolhia ser vilão
E acabava tudo em lanche, um banho quente
E talvez um arranhão
(Era Uma Vez, Kell Smith)

Era difícil ver as conversas com Nic e não sentir saudade. E era difícil mais ainda ver as conversas com Afonso e não chorar.

A garota suspirou, deitando-se na cama e passando a encarar o nada. Franziu a testa, se perguntando porque as coisas não poderiam ser diferentes. Ela só queria ainda estar junto de Nic e continuar sendo amiga de Afonso. Ela só queria que o passado não estivesse tomando para si toda a atenção de que não deveria ter.

Sentiu lágrimas pesadas por causa da tristeza e leves por serem um refúgio escorrerem pelo seu rosto. Mordeu os lábios de forma dramática enquanto observava a parede.

Ela conseguia visualizar bem duas crianças dividindo um sanduiche no primeiro da de aula dela... Conseguia escutar as risadas infantis e conversas sem pé nem cabeça, mas que fluíam naturalmente entre os dois. Lembrava de cada tombo de bicicleta, de cada brincadeira no recreio, dos joelhos ralados...

Allegra queria mais que nunca poder voltar para aquele tempo tão bom. Aquele tempo em que tinha todos que amava ao seu lado. O tempo em que coração acelerado era por causa de medo da Loira do Banheiro, as mãos suadas eram por causa de alguma apresentação em público e aquela sensação estranha no estômago era por causa de exagero nos doces.

A garota suspirou mais uma vez, virando-se sobre o colchão e encarando o teto do quarto. Cruzou as mãos sobre a barriga enquanto murmurava uma música que não conseguia lembrar a letra.

Fechou os olhos devagarinho, desligando-se do mundo e esquecendo daquilo tudo enquanto vivia um sonho que certamente iria esquecer quando acordasse.

         — Ela está no quarto, pode ir lá

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— Ela está no quarto, pode ir lá. — Dona Vilma deu de ombros.

O garoto assentiu, seguindo para a porta entreaberta do quarto de Alegria, sem reparar num sorriso contido que habitava os lábios da mulher. Ele bateu de leve na porta, entrando com cautela logo em seguida.

Afonso sorriu fraco quando a viu dormindo como uma princesa de Contos de Fadas. A luz que entrava pela janela dava um efeito divino em sua silhueta adormecida. O menino sentou na cadeira em frente a escrivaninha, virando-se para encara-la.

Ele não queria ser egoísta, mas querendo ou não, estava "feliz" pelo término do curto romance entre Nicolau e Allegra. Contudo, ele não admitia nem para si mesmo!

Mordeu os lábios, querendo falar tudo de uma vez, mas ele queria falar tudo o que sentia olhando em seus olhos bem abertos e despertos. Queria falar tudo o que mal cabia em seu peito e se perder naqueles olhos marinhos. Queria ver seu cabelo trançado enfeitar seu jeito de andar enquanto o sol do fim da tarde despejava os últimos raios antes de ir embora. Queria ouvir para sempre aquele riso frouxo que ganhava vida com qualquer coisa...

Sorria Alegria! |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora